Mariana Machado, Walder Galvão - Especial para o Correio
postado em 19/06/2018 07:49
Agentes da Coordenação de Repressão aos Crimes Contra o Consumidor, a Propriedade Imaterial e a Fraudes (Corf) da Polícia Civil desarticularam grupo especializado em dar golpes pela internet. De acordo com a investigação, os suspeitos teriam faturado até R$ 6 milhões em produtos vendidos pela internet. Duas pessoas foram presas no Cruzeiro Velho.
Os investigadores ainda procuram outros integrantes da associação criminosa, que estão foragidos. Eles são acusados de aplicar golpes em consumidores do Distrito Federal e de outras unidades da Federação. A suspeita é de que o bando falsificasse boletos bancários para adquirir produtos pela internet.
Segundo o delegado da Corf, Rodrigo Carbone, os criminosos monitoravam e-mails e, quando detectavam uma compra por meio de boleto, enviavam uma segunda via a ser paga. ;O modus operandi era complexo. Suponhamos que uma pessoa compre de um fornecedor R$ 5 mil em caixas de vinho. Ela recebe um boleto com vencimento de sete dias úteis. A quadrilha então abria uma conta falsa em um outro site de compras e emitia um boleto em valor aproximado para a compra de um computador, por exemplo. A seguir, eles trocavam os códigos de barra de um boleto para o outro e enviavam para a vítima alegando erro de cálculo e insistindo para que o segundo boleto fosse pago, não o primeiro;, explica o delegado.
Foi o que aconteceu com uma vítima que preferiu não se identificar. ;Eu tive um prejuízo de R$ 4,4 mil. No fim das contas, comprei um computador para alguém que eu não sei quem é;, lamenta. A vítima contou que só percebeu o golpe depois que o fornecedor entrou em contato informando que o pagamento não tinha sido efetuado. A partir daí, ele acionou a Polícia Civil, que iniciou a investigação. ;Por sorte, o dinheiro vai voltar, mas nós perdemos capital de giro por um período;, disse a vítima.
O delegado explicou que, por meio, das investigações, os policiais perceberam que as entregas dos boletos falsos sempre iam para um mesmo endereço: uma casa no Cruzeiro, que passou a ser monitorada. Na sexta-feira, os policiais entraram no local e fizeram a prisão em flagrante de duas mulheres que faziam parte da quadrilha. ;Por imagens de satélite, a gente já tinha observado que a garagem da casa estava cheia de caixas de entregas. Eram praticamente 15 entregas por dia. No momento da prisão, mais quatro celulares estavam chegando;, contou o delegado.
Para tentar disfarçar que a casa era o local onde acontecia a receptação dos objetos, os próprios criminosos estavam morando ali. A princípio, todos os envolvidos da quadrilha eram do Distrito Federal, mas, segundo o delegado, há razões para acreditar que eles aplicaram o golpe em pessoas do país inteiro e é possível que tenham ramificações em outros estados.
Outros dois criminosos estão foragidos. A suspeita é de que os dois homens são donos de uma loja de pesca no Boulevard Shopping, na Asa Norte. No momento em que a PCDF fazia a prisão na casa do Cruzeiro, eles estavam na loja e fugiram. Na terça-feira, o estabelecimento estava fechado. Funcionários do supermercado em que a loja funciona disseram que ela não abre há alguns dias, mas não tinham informações sobre os proprietários ou sobre o que tinha acontecido.
Entre as mercadorias apreendidas, está um caminhão carregado com 19,2 mil garrafas de cerveja e refrigerante. Também foram apreendidos celulares de marcas diversas e computadores. A polícia estima que, no momento da prisão, havia cerca de R$ 700 mil em mercadorias na casa. Ainda não é possível precisar o número de vítimas, mas ao menos mil pessoas caíram no golpe do boleto.
A polícia ainda não sabe explicar como era feito o monitoramento dos e-mails de compradores, mas, segundo o delegado, o prejuízo causado ao todo pela quadrilha é incalculável. O delegado alerta para os cuidados que as pessoas devem ter na hora de fazer compras online. ;Nunca faça o pagamento de segunda via de boletos enviados por e-mail de origem estranha, confira o número do código de barras e se possível verifique quem é o beneficiário. Se tiver dúvidas, não pague. Entre em contato com o fornecedor.; Os presos vão responder pelos crimes de receptação, estelionato e associação criminosa. A pena pode chegar a oito anos.