Isa Stacciarini
postado em 26/06/2018 13:05
Os donos da casa para onde Ana Carolina Lessa Coelho, 19 anos, foi levada após a festa rave disseram não ter visto nenhum hematoma ou ferimentos pelo corpo da universitária durante o tempo em que ela esteve sob os cuidados deles. O jovem que levou a menina para casa e a mãe dele pediram para não serem identificados, mas contaram que recepcionaram a estudante de enfermagem na residência, em Ceilândia, após o pedido de um amigo dela que a viu sozinha ao fim do evento de música eletrônica e levou a colega para a van fretada que deixaria as pessoas em casa. ;Na falta da família dela, eu e minha mãe cuidamos dela;, afirmou o rapaz.
Ele contou que foi de van com amigos à festa, batizada de Arraiá Psicodélico. Cada um colaborou com R$ 20 para o frete do veículo. Na volta do evento, às 16h de domingo, o jovem disse que já estava na van esperando os outros colegas quando um dos rapazes chegou com Ana Carolina. ;Ele a achou jogada no estacionamento. Ela estava surtada, sozinha, sem o bonde dela, mas consciente. Ele perguntou ;tem como levá-la;? Eu disse que sim, mas, falei que precisava ter o pagamento de mais uma pessoa. Ele pagou R$ 40 e, quando estávamos chegando ao P Sul, ele perguntou se a gente podia levá-la para minha casa;, explicou.
No destino, desceram os dois amigos e Ana Carolina. O dono da casa afirmou que ela caminhava, mas reclamou uma única vez de cansaço para o amigo. ;A primeira coisa que ela fez quando chegou aqui foi deitar na rede e dormir. Depois, eu fui para meu quarto e dormi até as 9h do outro dia. Minha mãe depois contou que perguntou se ela não queria tomar banho. Ela foi, tomou o banho dela sozinha, e deitou. Minha mãe ainda ofereceu alguma coisa para ela comer. Ela aceitou um pão com ovo com suco de laranja. Comeu e depois dormiu. Isso era 19h;, disse.
Segundo o rapaz, nesse tempo o amigo que socorreu Ana Carolina tentava contato com a família, mas ele contou que a jovem pedia para não compartilhar a localização com os parentes. Quando conseguiu falar com a mãe, ela, as amigas e um outro rapaz, que se identificou como ex-namorado da jovem, foram buscá-la. ;A mãe dela chorou muito e agradeceu a minha mãe por ter cuidado da menina. Ela saiu daqui sem nenhum hematoma e eu não trisquei um dedo nela. Uma coisa é certa: a menina não queria ser achada pela família;, alegou.
Cuidados
A mãe do rapaz se lembra que, ao perguntar se Ana Carolina queria tomar banho, ela ainda indagou se a ducha era quente. ;Eu disse ;é quentinha e muito gostosa;. Aí ela entrou no banheiro sozinha, tomou banho só, lavou o cabelo. Depois, saiu, deitou na cama em um dos quartos, e se cobriu. Ainda ofereci um outro cobertor e ela aceitou. Perguntei se estava sentindo alguma coisa e a menina só disse ;muito sono e fraqueza;;, detalhou.
Com a resposta da jovem, a mulher ofereceu um ovo, mas ela recusou. Depois, aceitou dois pães com ovos e suco de laranja. ;Ela era branquinha e não vi nada roxo no corpo dela. Se visse, era a primeira coisa que teria falado. Só me lembro que o cabelo dela estava engrenhado de mato. Ainda ofereci um pente e um creme de cabelo, mas ela disse que depois arrumaria;, alegou.
Já na madrugada, após ter localizado a família de Ana Carolina, a mulher contou que a jovem brigou com a mãe. ;Ela disse ;ê, mãe, desaparecida, hein?;. E entrou no carro. A mãe dela me agradeceu muito. Chorou, me abraçou. Eu ainda disse ;não se preocupe. Eu sou mãe também;;, ressaltou.
Filho da dona da casa, o rapaz que acolheu a jovem disse que os amigos que estavam com ela contaram que a universitária começou a não se sentir bem a partir de meia-noite de domingo. ;Uma pessoa viu ela passando carregada por três caras até a enfermaria do evento. Ela passou a madrugada de domingo, a manhã e a tarde toda na enfermaria até as 16h, quando o evento terminou;, contou.
O rapaz alegou que juntou todas as fotos e conversas no celular. Segundo ele, um dia depois, na segunda-feira, antes de ir ao hospital, apareceu uma postagem de uma foto no Facebook de Ana Carolina. ;Ela estava tipo com um babydoll, mexendo no celular, e não aparecia nenhuma marca no corpo. Tenho tudo salvo e vou levar para a polícia. Se tem uma pessoa que odeia agressão contra mulher sou eu. Espero, por tudo que é mais sagrado, que se alguém fez alguma coisa com ela que pague. Se depender de mim, tudo vai ser esclarecido;, confirmou.
O velório de Ana Carolina começa às 18h desta terça-feira (26/5), na Capela 5 do Cemitério Campo da Esperança da Asa Sul. O corpo será sepultado nesta quarta-feira (27/6), às 11h.
Investigação
Delegada-chefe da 3;DP, Cláudia Alcântara contou que, durante a noite de segunda-feira (25/6), familiares, parentes e amigos estiveram na unidade policial para registrar ocorrência que está ;em apuração;. Segundo a investigadora, a mãe contou que, ao levar a jovem para casa, ela começou a não se sentir bem. ;A mãe perguntou a ela o que tinha acontecido e ela dizia que não era nada. Então, a mãe fez uma sopa, ela comeu, mas vomitou e, depois, nada parava mais no estômago. Até que a família seguiu para o Hospital Regional de Ceilândia. Como elas não conseguiram atendimento, vieram para o hospital particular do Cruzeiro;, contou.
A paciente deu entrada na unidade de saúde e foi levada a Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Ela sofreu duas paradas cardíacas e apresentou insuficiência renal. Após constatada a morte, o corpo foi levado ao Instituto de Medicina Legal (IML), para a necropsia. ;Aparentemente ela era uma menina saudável. Vamos realizar exames toxicológicos e de abuso sexual para saber o que aconteceu;, disse a delegada. A delegada não quis comentar sobre indícios de lesões na área genital da jovem.
Durante a noite de segunda-feira, amigos e familiares foram ouvidos informalmente para registro de ocorrência. A partir desta terça (26/6) todas as testemunhas e parentes serão ouvidos em condição de depoimento formal. ;Por enquanto, a ocorrência está em apuração. Sabemos que muitas pessoas que vão a esse tipo de festa usam droga. Mas a nossa intenção é saber como o fato se deu até chegar ao óbito. Se ela fez uso de droga, se alguém induziu ou se colocaram na bebida. Existem muitas dúvidas e, só depois, vamos saber se foi um homicídio, se foi um homicídio culposo, doloso, ou se só uma fatalidade;, destacou a investigadora.