Com olhares atentos e vibrando a cada tentativa de gol e a cada defesa do goleiro Vladimir Stojkovi%u0107, a comunidade sérvia de Brasília assistiu com resiliência a partida de ontem contra a Seleção Brasileira. A reunião aconteceu na Belgrado Burguer, na 107 Norte, a partir de 13h. A escolha não foi por acaso. O proprietário do local, Goran Dislioski é nativo do país antigo integrante da Iugoslávia. O palpite acertado entre os balcânicos que vivem na capital era um 2x1 contra os canarinhos e a disputa entre os times aconteceu sob provocações saudáveis entre os torcedores adversários.
No fim, a Sérvia acabou eliminada da Copa do Mundo da Rússia após perder de 2x0, mas sem ressentimentos. A maioria dos torcedores do país dos balcãs, na verdade, admitiu que, sem o time no Mundial, passarão a torcer para a Seleção Brasileira. É o caso do próprio embaixador, Veljko Lazic, que ajudou a reunir a comunidade no local. ;Somos um grupo pequeno em Brasília. Cerca de 10. Foi um grande dia para a nós, com uma grande sintonia entre torcidas. A Sérvia não jogou no nível que esperávamos e a Seleção Brasileira mereceu a vitória. Quando não participamos da Copa, é comum torcermos para o Brasil, e não será diferente;, sorriu.
[SAIBAMAIS]A filha do Embaixador, Lana Lazic, 13 anos, lamentou com bom humor a derrota. ;Achei que a Sérvia conseguiria ao menos um empate. Fiquei triste. Acredito que o time deu o melhor e nós gostamos muito de futebol. Meus amigos daqui me provocaram dizendo que nunca ganharíamos e eu queria provar o contrário. Mas, gostei de assistir ao lado dos torcedores daqui e agora vou torcer para a Seleção brasileira;, admitiu.
Goran Dislioski, 44 anos, por sua vez, comparou os torcedores das duas nações e garantiu que sérvios e brasileiros têm muito em comum, apesar da distância entre os países. ;Muita gente diz que nós somos os brasileiros da Europa. Um povo receptivo e alegre;, disse. Professor de filosofia do direito na Universidade de Brasília, o sérvio naturalizado brasileiro Miroslau Milovic concorda. ;Estamos juntos comemorando as coisas boas da Copa. Obviamente, agora, vou torcer para o Brasil. Nós Sérvios sempre apoiamos os mais fracos primeiro, mas como estamos fora, escolho a Seleção Brasileira;, explicou.
Filho de Sérvios, o engenheiro Steven Grubisic, 40 anos, disse ter escolhido torcer para a Sérvia pela quantidade de títulos do Brasil. ;Já ganhamos muitas vezes a Copa. Quando eu assisto polo aquático, por outro lado, torço para o Brasil, pois a Sérvia tem mais vitórias. Achei que a Sérvia poderia ter sido mais ousada, mas foi um bom resultado. A partir de agora, torço para o Brasil;, assumiu.
Torcida mista
Maioria no Belgrado Burguer, os brasileiros tocaram corneta e ajudaram a animar o ambiente, que acabou misturando o verde e amarelo com o azul, vermelho e branco. Se alguém gritasse ;Brasil;, era certo que outra pessoa responderia com ;Belgrado;. O contrário também era válido. Os amigos Felipe Carrel, 22, Cássio Rodrigues, 25, Victor Melo, 21, e Breno Rybak, 21, estavam entre os mais empolgados. ;A gente é cliente aqui e soubemos que teria jogo, mas não esperávamos tantos sérvios;, surpreendeu-se Breno. ;Essa mistura é o espírito da Copa. Lado a lado com a torcida adversária, não importa o resultado, comemorando a derrota da Alemanha e torcendo contra os Argentinos;, completou brincando Cássio.Alguns brasileiros também apoiaram a Sérvia. É o caso de Luciana Fontenelle, 39 anos, a única de vermelho na mesa com o namorado, Daniel Si Fuentes, 37, e os filhos, Felipe, 16, e Letícia, 14. ;Parei de torcer para a seleção na Copa da França, em 2006. Estava no estádio e vi o Brasil entregar o jogo. Decidi que só vou torcer pelos nossos jogadores quando eles também torcerem pela gente. Além disso, sou apaixonada pela Sérvia. São um povo sério, trabalhador, mas também muito divertido e boêmio;, declarou Luciana.
Para engrossar a torcida a favor da Sérvia, o embaixador Veljko Lazic convidou vários outros representantes de nações europeias para assistirem o jogo na hamburgueria. Dentre os presentes estavam os embaixadores dos Emirados Árabes, do Chipre, da Irlanda, da Grécia e da Macedônia. Este último, Ivica Bocevski, disse não ter escolha na hora de torcer pela seleção dos balcãs. ;Somos vizinhos e muito parecidos, macedônios e sérvios. Minha irmã é Sérvia. Então não tive escolha;, explicou. ;Mas, a partir de agora, torço pelo Brasil;, completou.