Murilo Fagundes*
postado em 30/06/2018 06:19
Os longos meses de treinos e estudo de esquemas táticos podem não ser suficientes para os jogadores na hora de enfrentar um campeonato como a Copa do Mundo. Para completar a preparação física, muitos buscam uma ajudinha da sorte, dos céus e sabe-se lá de onde mais. Um sinal da cruz, um meião ao contrário ou um amuleto da sorte. Todo rito é válido antes da partida para garantir uma vitória. Do lado de cá, as coisas não são muito diferentes. Torcedores recorrem a meios próprios para tentar mandar boas vibrações e um pouco de sorte para quem está em campo.
Um desses supersticiosos é o garçom Sérgio Henrique Nava, 51 anos. Desde 1994, adota o mesmo hábito para assistir aos jogos da Seleção nas Copas. Morador da Cidade Ocidental (GO), Sérgio tem hábitos muito específicos que, segundo ele, asseguraram as vitórias do time Canarinho, desde então. ;Sempre tiro a tevê de 40 polegadas da sala e coloco no quintal. Visto a mesma camisa do Brasil em todos os dias de jogo, não lavo até o campeonato terminar. E assisto sentado, fazendo figa, na mesma cadeira de balanço;, descreve.
Em 1998, após a derrota do Brasil por 3 x 0 para a França, Sérgio Henrique conta que quase jogou a cadeira de balanço fora. Naquele ano, a camisa do torcedor rasgou, mas ele a manteve até abril, quando ganhou uma nova da mulher. ;Ela me deu de aniversário. Estou usando essa agora. Ainda bem que ela me deu a amarela, porque é a que sempre usei e não vou mudar, mesmo achando a azul bonita.;
Nos outros três anos seguintes às eliminações do Brasil em Copa (2006, 2010 e 2014), a culpa recaiu sobre outros fatores. ;Havia muito barulho perto de mim, enquanto assistia ao jogo. Eu ficava incomodado com isso. Costumo ver jogo quietinho, de dedos cruzados. Só me agito na hora do gol;;, justifica. Nesta edição, ele está otimista e diz que assiste aos jogos sozinho. Para ele, até o nome do goleiro da Costa Rica, Keylor Navas, influenciou na vitória do time brasileiro sobre a Seleção da América Central. ;Temos o mesmo sobrenome. Pensei que não ele não ia deixar nada passar, porque ele é muito bom. Mas o nome deu sorte para nós;, brinca.
Mania hereditária
Os rituais pré-jogo do historiador João Jambeiro, 31, começaram na Copa de 1986, no México, quando ele tinha 7 anos. Ele conta que a mãe, Íris Moraes, 63, sempre tem ;mandingas; para antes dos jogos e que adquiriu o hábito. ;Comecei a me ligar em futebol graças à madrasta dela, um símbolo de flamenguista da família. Quando o Zico foi para a Seleção, comecei a ver os jogos;, conta. Fora ele e a mãe, a caçula dos quatro filhos de João, Giovana Jambeiro, 9, é a terceira geração de aficionados por futebol.
Desde então, João Luiz acompanha as partidas do Brasil na Copa ao lado da mãe. Os dois dão as mãos, rezam rapidamente e fazem figa enquanto assistem. O morador do Jardim Botânico também conta que, mesmo tendo diversas camisas da Seleção, sempre usa a mesma em dia de jogo desde 2006, mas ;depois de lavada, claro;, enfatiza. Há, ainda, outro hábito que, segundo ele, colabora com os jogadores. ;Sempre que a bola está no pé do adversário, a minha mãe fala a palavra ;cafifa;. Acho que ela não sabe o que significa, mas a bola sempre volta para a gente;, comenta. Por sinal, quer Íris saiba ou não, ;cafifa; é uma palavra geralmente usada para definir uma pessoa azarada no jogo.
João Luiz tem uma justificativa para os anos em que testemunhou uma derrota do Brasil em Copa: ;Sempre que vejo sem estar por dentro de tudo que acontece, sem focar nos jogos, a Seleção não ganha. Naquelas edições, eu estava meio por fora. Nesta, estou por dentro de tudo, mas, na partida contra a Suíça, não assisti acompanhado da minha mãe, e o Brasil empatou;, relata. Ele acrescenta que o jogo contra o México provavelmente será mais difícil. Mesmo assim, aposta em 2 x 1 ou 1 x 0 para o Brasil.
* Estagiário sob supervisão de Renato Alves