Adriana Izel, Luiz Calcagno
postado em 01/07/2018 07:30
Em Samara, na Rússia, a Seleção Brasileira enfrentará, amanhã, os mexicanos nas oitavas de final da Copa do Mundo. Quem perder volta pra casa. Torcedores de todo o mundo acompanharão o embate, seja para torcer por um dos times, seja para saber quem passará para as quartas. Em Brasília, a comunidade mexicana terá que dividir espaço com o verde e amarelo. Na mistura de cores, não há lugar, porém, para animosidade. Embora a maioria tenha escolhido o lado de antemão, há aqueles que balançam o coração entre canarinhos e tricolores.
A reportagem do Correio reuniu mexicanos e brasilienses para falar sobre a partida entre as duas seleções, às 11h. Deu empate na troca de gentilezas e de admiração pela cultura de cada um. Entre os presentes, por exemplo, a brasileira Omara Soares, 20 anos, ficou em cima do muro e escondeu para quem vai torcer, e Raul Gonzalez, por sua vez, nasceu no México, mas acredita no hexa brasileiro. Isso mesmo!
A estudante Omara Soares nasceu no Brasil, mas se apaixonou pelo México durante um intercâmbio na Universidade de Guadalajara. Sete meses na cidade mexicana foram o suficiente para dividir o coração da jovem. ;Conheci mais de 30 cidades, entre grandes e pequenas, e tive muito contato com o povo mexicano. Eles me acolheram de uma forma, que eu me sinto, praticamente, uma mexicana;, conta.
A paixão pelo México a deixa dividida. ;Será um dia difícil. Estou lamentando e questionando por que o Brasil não ficou em segundo lugar e seguiu em outra chave;, diz Omara. Ela preferia que a Seleção Canarinho enfrentasse a Suécia, caso os resultados da fase de grupos fossem diferentes. Mesmo assim, Omara arrisca um placar: 2x2 e, depois, a loteria dos pênaltis.
;Feliz aqui;
Mexicano naturalizado brasileiro, Raul Gonzalez, 64 anos, narra, com um sorriso desconcertado, mas certo do que está falando, os motivos para torcer para a Seleção Brasileira. Está há 38 anos em Brasília, é casado com uma brasileira, pai de três filhos nascidos na capital federal, se apegou à cidade e torce para o Flamengo, ;porque ninguém é perfeito;, brinca. ;Eu nasci no tempo certo, mas no espaço errado. Vim procurar o meu lugar e não me arrependo. Sou feliz aqui;, destaca.
Amante de futebol, ele está entre os que acreditam no hexa. Ao falar na seleção canarinho, o tom de voz é de entusiasmo. ;Estou muito confiante. É uma equipe espetacular, organizada, com um propósito e um técnico que sabe o que quer;, garante. Questionado sobre um palpite de placar, é direto: ;3x1 para o Brasil;.
Funcionário da Embaixada do México, Júlio Lavoignett, 24 anos, mora em Brasília há um ano. Chegou à capital sem conhecer ninguém e sem falar português, mas se adaptou com facilidade e, em pouco tempo, apaixonou-se pelo Brasil. ;Um país maravilhoso com pessoas muito amáveis;, define. Às 11h de amanhã, porém, esse amor será posto à prova, pois ele aguarda uma vitória dos conterrâneos da América Central.
Assistirá ao jogo na embaixada e avalia as chances do El Tricolor com esperança. ;A Seleção Mexicana mostrou bom desempenho. Conseguimos vencer a Alemanha e temos um time para jogar, com respeito, mas de igual para igual. Ao mesmo tempo, parece que falta alguma coisa para o Brasil;, avalia.
Independentemente do resultado do jogo, o Brasil conquistou Júlio e isso não deve mudar. ;Sinto saudades do México. Dos amigos e dos parentes que estão lá. Principalmente da comida, como a guacamole. Mas a carne brasileira é muito boa. ;Adoro churrasco;. E a tapioca salgada, também. E fiz muitos amigos aqui. Até apostamos que, se o México ganhar, eles vão pintar o cabelo de verde, vermelho e branco, mas, se o Brasil vencer, vou pintar o meu de verde e amarelo.;
Em 1976, o engenheiro químico Jorge Rincón trocou o México pelo Brasil. Era um sonho antigo, já que, aos 11 anos, se encantou pelas terras tupiniquins ao se deparar com uma imagem do Rio de Janeiro em uma enciclopédia. Anos depois, desembarcou em São Paulo para um mestrado em tecnologia de alimentos na Universidade de Campinas (Unicamp).
Desde então, morou no Rio, onde nasceu o filho Gabriel, 27, até chegar em Brasília, há 17 anos. ;Tenho um carinho muito especial pelo Brasil. Então é uma incógnita (sobre quem ele quer que vença a partida);, revela. O que Jorge quer é um bom jogo. ;Nessa hora, tenho que torcer para que vença o melhor. Porque o México tem aquele problema, como se fala na mídia, ;joga como nunca, perde como sempre;;, brinca.
Diferentemente de Jorge, o filho dele, Gabriel, que é consultor de marketing esportivo, aposta na seleção mexicana. Carioca, ele tem dupla nacionalidade, e , nesta Copa, o coração pende para o lado mexicano. ;Minha torcida vai para o México. É minha segunda casa. O Brasil é pentacampeão, agora é a vez do México;, aposta. Para ele, a partida terminará em 1x0, com gol de Chicharito Hernández, o camisa 10 do El Tricolor. A família assistirá unida em casa, com bandeiras e camisetas do Brasil e do México.
Bom time
Brasileiro e brasiliense de carteirinha, Tairo Felipe Gomes, 26 anos, reforça a torcida pela Seleção do Brasil e prevê um jogo tranquilo: 3x0, com dois gols de Neymar e um de Paulinho. ;O México não tem um bom time, perdeu o último jogo contra a Suécia e o Brasil tem peças melhores;, analisa o produtor de eventos.
Para o estudante, a Seleção Brasileira tem feito uma campanha parecida com outros mundiais, em que se sagrou vitoriosa. ;O Brasil nunca começa a Copa bem, só passa a ir melhor nas eliminatórias. Classificamos e é hora de mostrar a nossa força.;