Sarah Peres - Especial para o Correio
postado em 13/07/2018 06:00
O motorista que denunciou a abordagem violenta de dois policiais civis em ônibus tem medo de represálias. Os agentes são lotados no Complexo da Polícia Civil, no Parque da Cidade, e poderão responder na esfera cível pela ação no veículo da empresa Urbi Mobilidade. A ação foi gravada por um passageiro da linha 038.1 (Riacho Fundo 1;Taguatinga), na noite de sexta-feira, na altura da Estação Taguatinga Sul, do metrô, no Pistão Sul. Os vídeos mostram os agentes alterados, com armas nas mãos. Segundo os presentes, eles estavam ;doidos, (...) os dois embriagados;.
Segundo o motorista, ouvido pelo Correio, ele dirigia pela faixa da esquerda quando se deparou com o carro dos policiais, um Renault Sandero, trafegando abaixo do limite da velocidade da via ; 60km/h. ;Tentei avisá-los, mas acho que se irritaram. Tentaram me fechar uma vez e consegui sair pela direita. Depois, vi um dos agentes apontando a arma e me mandando encostar. Não sabia do que se tratava e não parei. Colocaram o giroflex (sirene) e me fecharam de novo;, descreveu.
Nesse momento, os vídeos começam a ser gravados por passageiros. Quando o primeiro policial entra no coletivo, os passageiros se desesperam e pedem para que o motorista abra a porta traseira. Depois, um dos policiais grita: ;Vai todo mundo para a P21 (21; Delegacia de Polícia, em Taguatinga Sul);. Mas eles arrancam na frente, furam o sinal vermelho e deixam o ônibus para trás. Quase uma semana depois do ocorrido, a Polícia Civil confirmou que o carro e os homens são da corporação.
Licença
O diretor da Divisão de Comunicação da Polícia Civil (Divicom), Lúcio Valente, explicou que os agentes têm aval para abordagens, mesmo sem identificação. ;A polícia pode e deve abordar pessoas, veículos e coletivos desde de que haja um motivo justificável;, ressaltou. Sobre a identidade dos policiais, ele informou que ;não serão reveladas até o fim das investigações, que correm em sigilo na Corregedoria. Se confirmado o abuso de poder, os policiais responderão na esfera cível;.
O motorista do coletivo ainda não depôs na Corregedoria da Polícia Civil. Por causa do episódio, foi afastado do trabalho após avaliação médica. ;Tenho três filhos, dois netos e uma mulher. O medo é de que tudo caia no esquecimento e algo aconteça comigo. Tudo ainda está muito obscuro;, lamentou.