Cidades

DF e GO têm mais de 500 cavernas; confira dicas para passeios com segurança

Especialistas advertem sobre cuidados necessários para se aventurar nas centenas de áreas propícias à visitação na Região Centro-Oeste

Pedro Grigori - Especial para o Correio
postado em 14/07/2018 07:00
A 83km de Brasília, Formosa abriga o Buraco das Araras, que conta com área para rapel e exploração de cavernas
Goiás e Brasília abrigam mais de 500 cavernas, com pelo menos 100 no território do Distrito Federal. As grutas abrigam ambientes paradisíacos, com lagos subterrâneos e vistas pouco conhecidas pela maioria das pessoas. O problema é que muitos desses tesouros naturais são como labirintos, e as chances de acabar perdido não devem ser desconsideradas. Neste mês, o mundo acompanhou o drama de 12 crianças e um adulto que ficaram presos por 17 dias em uma caverna da Tailândia. A operação de resgate mobilizou especialistas de 10 países e teve a morte de um mergulhador profissional. Para evitar que passeios se tornem tragédias, especialistas indicam uma série de normas de segurança.

No DF, há 35 cavernas cadastradas na Sociedade Brasileira de Espeleologia, mas a expectativa é que o número seja muito maior, com pelo menos 100 apenas na Fercal, região mais rica em calcário na capital federal. Em média, as cavernas brasilienses não são tão grandes e profundas como a Tham Luang, no norte da Tailândia. Análise do Grupo Espeleológico da Geologia da Universidade de Brasília (UnB) mostra que as extremidades tem, em média, 500 metros, e não costumam ser labirínticas.

O presidente da equipe, geólogo Rafael Grudka, afirma que, mesmo assim, é necessário tomar cuidado para não acabar perdido ou ferido. ;Se você não tiver costume de andar por esses ambientes, estará sujeito a lesões vindas de esforços físicos, fadiga, hipotermia, torções e quedas;, explica. Para evitar riscos, a principal dica é não fazer trilhas sem a presença de guias treinados ou espeleólogos. ;É importante também usar equipamentos corretos, como capacete de segurança para atividade em caverna e ter vestimenta ideal, como bota, calça e camisa comprida;.

O especialista conta que não é indicado fazer trilhas em épocas de chuva, por isso é importante consultar a previsão climática antes de começar o percurso. ;Temos casos no Brasil semelhantes ao da Tailândia, em que as pessoas entram na caverna, são surpreendidas por chuvas e acabam presas. A prática de espeleologia, assim como qualquer atividade de aventura, traz riscos inerentes, mas, se houver cuidado com a segurança, será uma prática bastante prazerosa;, afirma.

Itakama Aventura/Divulgação - 18/4/16


Bombeiros


O Grupamento de Busca e Salvamento do Corpo de Bombeiros do DF é o responsável por resgatar quem acaba perdido em cavernas. Segundo o capitão Victor Mendonça, é notado que os que mais acabam perdidos são jovens que fazem trilhas sem guias. ;Nesses casos, trabalhamos com três tipos de socorro: mergulho de resgate, salvamento de altura e buscas que envolvem longas caminhadas. Antes de colocar em prática, fazemos a identificação do local e vamos preparados para as possibilidades de traumas sofridos pelos perdidos;, explica.

O perigo a que os aventureiros são expostos em cavernas não é apenas de acabar perdido. Em junho do ano passado, oito bombeiros foram infectados com histoplasmose após participarem de treinamento para o Curso de Tripulante Operacional (Cetop), realizado em uma caverna próxima a Brazlândia. A infecção é causada pela inalação de um fungo presente em fezes de morcegos, mamíferos presentes em muitas cavernas. Em casos graves, a doença pode comprometer a capacidade do coração de bombear sangue e danificar os pulmões, podendo levar a morte. Todos os militares foram tratados e se recuperaram.

Riqueza em calcário


A região entre Unaí, em Minas Gerais, e o sul do Tocantins, faz parte de um dos maiores sistemas de cavernas do país. Com isso, Goiás abriga áreas como o Parque Estadual Terra Ronca (Peter), nos municípios de São Domingos e Guarani de Goiás, com mais de 200 cavernas catalogadas. A região fica a 315km de Brasília e tem entrada restrita a visitantes com guias, que cobram diária que varia de R$ 150 a R$ 200 por grupo de até 10 pessoas.

A segunda região que mais recebe visitantes é a Vila Propício, em Goiás, a 194km da capital federal. São mais de 50 cavernas e grutas que ajudam a mover a economia local, fortemente influenciada pelo turismo. O secretário de Turismo, Jaime Augusto da Cruz, conta que, antes de seguir trilha pelas grutas, é importante entrar em contato com o órgão para receber uma lista com detalhes de segurança das cavernas abertas à visitação e quais suprimentos são necessários para a aventura. ;Temos 12 cavernas favoráveis à visita. Indicamos sempre a presença de guias, com um profissional para cada 10 pessoas;, explica. Segundo o secretário, entre os itens importantes de sobrevivência para as trilhas estão canivete, corda, tela, fósforo, isqueiro e sinalizador.

Em Formosa, a 83km de Brasília, fica o Buraco das Araras e, segundo a Prefeitura do município, a maioria dos turistas são provenientes de Brasília. A caverna tem 327m de diâmetro e 128m de profundidade. O local é aberto para visitação, mas é indicada a contratação de empresas privadas que vendem pacotes para garantir o passeio com segurança. A entrada deve ser por rapel, de 70 metros, e é necessário adquirir jogo de equipamentos de proteção individual, com cadeirinha, cabo de vida, mosquiteiro, freio e capacete. A média do pacote é de R$ 100 por pessoa.

Geólogo Rafael Grudka perto de uma caverna
"Se você não tiver costume de andar por esses ambientes, estará sujeito a lesões vindas de esforços físicos, fadiga, hipotermia, torções e quedas;
Rafael Grudka, do Grupo Espeleológico da Geologia da UnB


Formação de cavernas

No Brasil, o processo dominante na formação de cavernas é feito pelo contato da água da chuva com as rochas calcárias. A interação entre a atmosfera e o solo, somado à chuva ácida, faz com que a água percorra pelas fraturas das rochas, causando dissolução, que alarga os condutos das rochas ; é o fenômeno que cria as cavernas. É um processo lento, que dura anos e não para de ocorrer. Por isso, guias e espeleólogos indicam que nunca seja retirado ou deixado nada dentro das cavernas.

Visite


Fercal (DF)
Proprietários de fazendas onde ficam as cavernas cobram, em média, R$ 10 pela entrada
Distância de Brasília: 34km

Buraco das Araras, Formosa (GO)
Aberto ao público o ano todo
Distância de Brasília: 110km

Guia turistico Ferreira de Freitas, na Caverna do Tubarão, em Dois Irmãos no municipio de Vila Propicio em Goiás.
Vila Propício (GO), 12 cavernas
Aberto ao público a depender do clima
Distância de Brasília: 195km

São Domingos e Guarani de Goiás ; Parque Estadual de Terra Ronca (GO)
Aberto ao público o ano todo
Distância de Brasília: 315km

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