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Conheça os tesouros históricos e artísticos escondidos em Pilar de Goiás

Fundada em 1741, Pilar de Goiás quase não recebe turistas, apesar da riqueza do seu casario, que é tombado pelo Iphan e tem elementos únicos no país. Isolada entre serras, cidade que viu fuga de moradores agora assiste à retomada da exploração do ouro

Renato Alves
postado em 30/07/2018 06:05
O campanário ao lado da igreja matriz exibe os três maiores sinos feitos para um templo em Goiás: fabricados em 1785, pesam, em média, 900 quilos

Pilar de Goiás ; Os tesouros históricos de Goiás vão além de Pirenópolis e Goiás Velho. A 320km de Brasília, Pilar tem o conjunto arquitetônico e paisagístico tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 1954. São duas igrejas e mais de 20 casarões centenários. Alguns exibem elementos únicos na arquitetura brasileira, mas permanecem a maior parte do tempo fechados, por falta de morador e de visitante. Outros tantos ameaçam desabar por ausência de manutenção.

Entre serras paralelas, Pilar teve como fundadores escravos que criaram o Quilombo de Papuã. Eles descobriram o ouro, responsável, em grande parte, pela fundação do município, em 1741. No auge da mineração, Pilar chegou a abrigar 15 mil pessoas, ainda no século 18. Com o fim da atividade, a população caiu para 1,5 mil moradores. A decadência aumentou na Revolução de 1932, quando homens deixaram a localidade para combater o movimento paulista que visava derrubar o governo provisório de Getúlio Vargas.

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Andar pelas poucas e estreitas ruas de Pilar, hoje com 2,7 mil habitantes, é como se sentir em uma cidade-fantasma. Quase não se vê carro nem gente nas vias, calçadas e praças. A maioria dos trabalhadores passa o dia na lavoura. Como quase todos os moradores fazem as refeições em casa, não há restaurante. As opções para comer e beber se restringem a uma dezena de botequins. Excelentes para quem aprecia bebidas e quitutes típicos do interior goiano, como cachaça, empada e pastel, com preços irrisórios e gente contadora de causos. As lojas funcionam como os antigos armazéns de secos e molhados, com as compras anotadas em caderninhos dos clientes, no fiado.


Casa da Princesa

Casa da Princesa em Pilar de Goiás
Percorre-se todas as atrações históricas de Pilar a pé, com destaque para a Casa da Princesa e as igrejas de Nossa Senhora do Pilar (a matriz) e de Nossa Senhora das Mercês. Ao lado da matriz, em um campanário, estão os três maiores sinos feitos para um templo em Goiás. Fabricados em 1785, pesam, em média, 900kg. Ao pé deles, fica o Chafariz São José, de 1745, que ainda sacia a sede com água pura. Erguida pela irmandade dos pardos, a Mercês é uma das três igrejas mais importantes do período no país, a única que guarda maior originalidade e integridade.

O prédio que abriga o museu de Pilar (leia Para saber mais) é um dos últimos no país a preservar janelas de gelosia, estilo árabe trazido pelos portugueses. Considerada a construção mais luxuosa do ciclo do ouro em Goiás, o interior do casarão impressiona pelas pinturas de portas e tetos em gamela. É a mais importante obra arquitetônica não religiosa do barroco do século 18 de Goiás. Conhecido como Casa da Princesa, nele morou a Princesa Isabel por dois semestres, no apogeu da mineração, quando Pilar tinha a maior produção aurífera goiana.

Sede da Secretaria de Cultura, a Casa de Câmara e Cadeia da cidade é a menor do tipo no Brasil. Nesses espaços, no Brasil Colônia, funcionavam os órgãos da administração pública municipal. Abrigava ainda a cadeia, onde acusados eram julgados e, se condenados, levados presos. Em condições muito precárias eles morriam doentes ou enforcados. Inúmeros escravos morreram na forca erguida ao redor da Igreja Nossa Senhora das Mercês, em uma colina. Em outro extremo da cidade, fica a Prainha da Limeira, antiga lavanderia de roupa das escravas.

Extração retomada

Pilar sonha com dias melhores desde a retomada da exploração do ouro por uma empresa canadense, em 2013. O município recebe royalties da atividade executada pela Yamana, que extrai 3,7 toneladas de ouro ao ano na mina a cerca de 2km do núcleo urbano. No entanto, a maioria dos operários e executivos da multinacional não reside nem gasta o dinheiro em Pilar, por falta de lojas. Eles preferem Itapaci, a 32km, que tem a mesma população, mas, devido à usina de cana-de-açúcar, à produção agropecuária e às faculdades, possui hotéis, restaurantes e um comércio diversificado.

Secretário de Cultura de Pilar de Goiás, Nerilton Batista lamenta a ausência de turistas na cidade. Credita o fenômeno à falta de investimentos do setor privado. ;Temos muitos atrativos, muita história, mas falta estrutura para receber o turista. Por isso, os que vêm não ficam mais do que algumas horas;, comenta, sem reconhecer precariedade de informações da prefeitura sobre o potencial turístico do município. Bom para quem deseja viver com tranquilidade, como o brasiliense Ademar Lourenço. ;Vim por causa da minha mulher, filha de Pilar, e não me arrependi. Aqui temos paz. Tanta que podemos deixar carros e casas abertos;, ressalta o funcionário público municipal. Ele trocou o Gama por Pilar há 10 anos.

Estilo colonial

Construída entre 1783 e 1824 pelos escravos, a igreja tem estilo colonial, com talha barroca no altar-mor em madeira, assim como um púlpito e coro também em madeira. A torre sineira lateral com escada exterior é típica das igrejas menores do período em Minas Gerais.



Transferência

Em 10 anos, Pilar produziu o equivalente a todo o ouro extraído da provínciade Goiás em um século. Razão pela qual a administração provincial se transferia para ela por seis meses do ano.



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