Severino Francisco
postado em 01/08/2018 06:00
Ari Cunha foi contratado por Edilson Cid Varela, em 1959, como gerente do periódico O Jornal. A ele foi confiada a reforma da Folha de Goiaz, em Goiânia, onde permaneceu até setembro. De lá veio para Brasília construir o Correio.
Ao ser admitido no Correio Braziliense, em 1975, o repórter Irlam da Rocha Lima foi convidado a visitar a sala de Ari Cunha. Era protocolar. Mas, ao longo do tempo, percebeu que ele se interessava por todas as editoras da redação: ;É uma pessoa que deixou um legado enorme para o Correio, inclusive na área cultural;, comenta Irlam.
A repórter Liana Sabo arremata: ;O jornalista, que depois ficou chefe, não era de fazer reprimendas. Preferia o aconselhamento, que, via de regra, era dado por ditados ; como os do Filósofo de Mondubim. ;A asneira que vocês escreverem pode sair, porque não existe ainda o verbo desimprimir;.
Além da vida jornalística, Ari Cunha assumiu postos importantes na vida pública. Em 1961, presidiu a Comissão de Incentivo à Iniciativa Privada, ligada diretamente ao gabinete do então prefeito de Brasília, Paulo de Tarso Santos, nos tempos em que Jânio Quadros era presidente da República. Entre 1986 e 1987, atuou como vice e presidente do Banco Regional de Brasília (BRB), no governo de José Aparecido de Oliveira. Ao ser convidado, um amigo o aconselhou a não aceitar, argumentando que não sabia contar dinheiro: ;Quem vai contar o dinheiro é o caixa. Eu vou ser diretor do banco;. E aceitou. Em 1990, assumiu o cargo de vice-presidente dos Diários Associados.
Amizades cultivadas
Desde que chegou ao Distrito Federal, na inauguração da nova capital, Ari fez amizades a partir das mais simples relações. Em um clube de Brasília, em 1966, conheceu o professor Walmar Montenegro, hoje com 68 anos, com quem manteve contato por décadas. ;Ari era apaixonado por comidas típicas do Nordeste, e eu morei por um tempo em Ilhéus, na Bahia, a gente fazia uns pratos baianos que ele adorava;, relembra.
Durante as viagens pelo Brasil, Walmar trazia para Ari lembranças que remetessem ao amor do jornalista pela cultura caipira. ;Lembro-me que trouxe uma casa de joão-de-barro com dois pavimentos, aí nos reunimos e fizemos uma vaca atolada para almoçar. Ele adorava esses troços, era uma pessoa muito querida;, conta.
O jornalista Fernando César Mesquita é cearense como Ari. Ele o conheceu em Fortaleza, mas os laços se estreitaram quando Mesquita veio para Brasília em 1963. O bom humor é uma das características do amigo que Mesquita gosta de lembrar. ;Ele era muito agradável, muito brincalhão, bem-humorado, sempre tinha uma tirada de humor. Era uma pessoa do bem, que tinha uma vontade de viver. Uma pessoa alegre;, recorda.
Raízes fortes
Mesmo há décadas em Brasília e com tanta identificação com a cidade, Ari Cunha nunca se esqueceu da terra natal, diz Mesquita. ;Em Brasília, ele era o jornalista mais bem informado, fez um grande trabalho no Correio, mas sempre manteve uma participação muito ativa também na imprensa e na comunidade cearense. Ajudou muito a Casa do Ceará;, comenta.
;Foi o melhor amigo que eu tive na minha vida. Nós éramos como irmãos;, diz, emocionado, o corretor de imóveis Sebastião Valadares de Castro. Ele conheceu Ari no início dos anos 1960, pouco depois da inauguração de Brasília. Logo, tornaram-se amigos e começaram a conviver intensamente. Ele ressalta a simplicidade e a alegria de Ari Cunha: ;Era um bon vivant, alguém que estava sempre feliz com a vida;.
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*Vídeo produzido em comemoração aos 40 anos da coluna "Lido, Visto e Ouvido", de Ari Cunha no Correio Braziliense
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*Vídeo produzido em comemoração aos 40 anos da coluna "Lido, Visto e Ouvido", de Ari Cunha no Correio Braziliense
[SAIBAMAIS];Com tristeza recebi a notícia do falecimento do jornalista Ari Cunha, diretor do Correio Braziliense, um dos pioneiros de Brasília e cuja vida se confunde com a história de nossa capital. Brasília encontrou um veículo de imprensa impregnado da ousadia de JK no Correio Braziliense, que contou, em sua brilhante existência, com o espírito desbravador e criativo do repórter Ari Cunha.;
Michel Temer,
presidente da República
;Brasília perdeu uma de suas maiores expressões. Jornalista, pioneiro, Ari Cunha confunde-se com a história de Brasília. Chegou aqui cedo e construiu-se como profissional e ser humano com a própria construção da cidade. Ainda menino aprendi, com a leitura diária de sua coluna por meu pai, que a política é o caminho para ajudarmos as pessoas. Com perspicácia, com um texto contundente, mas elegante, Ari Cunha tornou-se obrigatório nas nossas vidas de pioneiros que liam sua coluna em toda edição do Correio Braziliense. ;
Rodrigo Rollemberg, governador do DF
;Consternado, lamento a perda deste pioneiro da notícia. Nordestino de nascença, Ari Cunha foi sobretudo um forte. Acreditou no sonho e daqui, do Planalto Central, diuturnamente contribuiu para a edificação da nova capital, maior realização dos brasileiros;.
Joe Valle,
presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal
;Ari Cunha foi uma referência no jornalismo brasiliense por seu pioneirismo, conduzindo o mais importante jornal da capital federal, sempre de maneira intransigente na defesa da liberdade de expressão e na divulgação correta e precisa das informações para os leitores.;
Torquato Jardim,
ministro da Justiça
;A história do Ari se funde com a do Correio Braziliense para a consolidação e desenvolvimento de Brasília, além da implantação de jornalismo de qualidade na capital.;
Álvaro Teixeira da Costa, diretor-presidente do Correio Braziliense
;Ari Cunha foi um desbravador. Enfrentou o desafio dado por Assis Chateaubriand de erguer, tijolo por tijolo, a instituição Correio Braziliense.;
Guilherme Machado,
vice-presidente executivo do Correio Braziliense
;O Ari Cunha vai fazer falta. Como pessoa, ele foi extraordinário, um contador de causos, bem-humorado, de bem com a vida. Certamente, a família vai sentir muito, e nós sentiremos a ausência do bom companheiro, apaixonado por Brasília, pelo Correio, que tanto nos inspirou.;
Paulo César Marques,
diretor Comercial do Correio Braziliense