Cidades

A influência dos pais leva os filhos a seguirem caminhos semelhantes

Da música ao esporte, a influência dos patriarcas leva os filhos a seguirem caminhos semelhantes e inspira as próximas gerações

Mariana Machado
postado em 12/08/2018 07:00
Antônio Mello passou a paixão pela música aos filhos, Ana Luísa e Vitor Adonai
A difícil tarefa de escolher que caminhos trilhar ao longo da vida pode ser muito mais simples com o apoio de um pai para guiar. A influência do amigo e protetor serve de inspiração para muitos filhos que, fascinados, seguem os passos do primeiro herói.

É o caso da família Mello. O carioca, Antônio Mello, 57, aprendeu desde cedo a ser músico, profissão latente na família, que vinha dos avós e bisavós. ;Meu avô era um artista nato, construía os próprios instrumentos, tocava violão, cavaquinho e foi meu primeiro professor;, conta.

Pela influência, ele acabou estudando a arte e se especializou no violão clássico. Gravou discos no exterior e fez amizade com grandes nomes do cenário brasileiro, entre eles, Hermeto Pascoal, o Duo Assad e Elza Soares, com quem chegou a tocar. No meio disso tudo, os filhos acabaram se encantando pela música e refazendo os passos do pai.

O mais velho, Vitor Adonai, 19, disse, aos 3 anos, que queria ser maestro, para a surpresa de Antônio. ;Em casa, ele nunca tinha ouvido essa palavra, não sei de onde veio a ideia. Mas comecei a ensinar música, primeiro com um bandolim, que era mais fácil para as pequenas mãozinhas;, disse o pai.

Vitor foi parar no Conservatório do Rio de Janeiro, onde aprendeu cavaquinho, violão, piano, violino, flauta e, por fim, o clarinete, instrumento no qual está se formando pela Universidade de Brasília (UnB). Hoje, para ele, fica a sensação de gratidão. ;Esse cara é o culpado de tudo. O que eu sei de harmonia, composição e contraponto, eu aprendi com ele;, declara.

Por conta do pai, a família Barreto começou a praticar enduro equestre
A caçula da família, Ana Luísa Mello, 17, também está mantendo viva a tradição musical. Ela acabou de ser aprovada para o curso de música da UnB e se prepara para o primeiro semestre em canto. A jovem, que se especializou em canto erudito na Escola de Música de Brasília, também toca violino e flauta. ;Eu pensava em outra profissão, cogitava arquitetura, mas nada me trazia paz. Quando decidi pelo canto, veio a leveza. A música está conosco desde que nascemos;, diz, emocionada.

[SAIBAMAIS]Os três já se apresentaram juntos algumas vezes, na Escola de Música e em restaurantes. Para Ana, subir ao palco em família traz mais confiança. ;Meu pai me ensinou a fazer tudo por amor, nunca cantar por ego ou pelos aplausos;, conta a jovem. O trio espera continuar se apresentando e, quem sabe, gravar um disco no futuro.

Até lá, Antônio enche o peito de orgulho pelo trabalho dos filhos. ;Eu fico muito feliz de ver que alguma coisa por eles eu consegui fazer. Sempre digo a eles: fazendo o que se gosta, você fica feliz e, de alguma maneira, as coisas acabam dando certo;, afirma.

União esportiva


Assim como a música aproximou o trio, que ensaia junto em casa, outra família se uniu por uma paixão que veio do pai. Foram os cavalos que aumentaram os laços da família Barreto. O executivo Eduardo Barreto, 59, conta que sempre gostou dos animais e, nos anos 1980, pôde adquirir o primeiro.

Em 2002, o gosto começou a virar esporte, quando Eduardo e o irmão passaram a se aventurar no enduro equestre, uma espécie de corrida de longa distância em trilhas. Logo, o filho mais velho, Eduardo Barreto Júnior, 35, entrou na equipe, seguido dos mais novos, Rafaela, 23, e Rodrigo, 22.

Leonardo e Roberta passarão o primeiro ano sem o pai, Paulo Thompson Flores: lembranças que orgulham
O amor pelos cavalos cresceu tanto no primogênito que ele se formou em medicina veterinária e abriu uma empresa dedicada ao esporte. ;Com isso, a gente passa muito tempo juntos, conversa muito, tem uma relação legal;, disse o veterinário que, por levar o mesmo nome do pai, ficou conhecido como Dudu. ;É uma satisfação carregar esse nome. Meu pai é um ídolo para mim, uma referência;, orgulha-se.

O caçula, Rodrigo, também escolheu a mesma profissão e se prepara para a formatura. Ele aprendeu a montar aos 5 anos e gostou tanto que acabou virando atleta. No ano passado, conseguiu a 16; colocação em um campeonato mundial. ;Em 2006, meu pai falou que, em três anos, queria estar em um mundial. Ninguém acreditou que podia acontecer, mas ele focou, investiu e, em 2009, conseguimos. Essa é uma das maiores lições que tiro dele: acreditar nos objetivos e não desistir.;

A publicitária Rafaela, que também é atleta, conseguiu o segundo lugar na competição por equipes no último panamericano. Aos 14 anos, foi a atleta mais jovem a participar de um mundial de enduro equestre. ;Sempre fiz vários esportes, mas o cavalo foi o único que persistiu na minha vida e meu pai influenciou isso em mim;, afirma.

Orgulhoso, Eduardo se emociona ao falar da relação dos filhos com os animais. ;O que mais me emociona é que o enduro contribuiu para a formação deles como pessoas, profissionais, filhos, e cidadãos;, comemora o pai coruja.

O amor na memória


Este é o primeiro ano que a família Thompson Flores passará sem o patriarca, o advogado Paulo Thompson Flores, que morreu em agosto do ano passado, após um longo período de tratamento para combater um câncer no intestino. Para os filhos, que seguiram o pai na profissão, será um dia de muita saudade.

Natural da cidade de Bagé (RS), Paulo foi diretor do curso de Direito do UniCeub e professor por 47 anos. Antes disso, ocupou o cargo de secretário de Educação do Governo Collor e de vice-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), mas a família conta que a grande paixão era lecionar. Entre os 60 mil alunos que passaram por ele, dois foram os filhos: Roberta, 28, e Leonardo, 34.

;Era muito difícil tirar um SS (nota máxima) com o professor Thompson. Ele cobrava ainda mais da gente;, relembra Leonardo. Os filhos começaram a trabalhar com o pai ainda na faculdade, durante o estágio. Depois, tornaram-se sócios e a admiração foi crescendo.

;O programa dele era assistir a futebol, torcer pelo Internacional de Porto Alegre, corrigir provas dos alunos dele e aproveitar a família nessa rotina boa;, relata o mais velho. Segundo ele, se o pai estivesse vivo, o domingo seria regado a um tradicional churrasco gaúcho.
Para Roberta, ficam as lições aprendidas nos anos de convivência. ;A humildade e, principalmente, honestidade dele eram exemplares.; Neste domingo, ela acredita que a memória do pai segue viva. ;Era o meu ídolo;, orgulha-se.

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