Cidades

Primeiros jogadores de futebol do DF se reúnem para relembrar conquistas

Uma vez por ano, precursores do futebol e do futsal na capital federal se encontram para reviver as recordações dos dias de atleta e cultivar o companheirismo que dura pelo menos 40 anos

Augusto Fernandes
postado em 13/08/2018 06:00
Brasília não conta com os principais times de futebol ou futsal do país, mas já teve sua importância no cenário nacional durante alguns anos do século 20. Muito antes da aparição de Gama e Brasiliense, clubes como Defelê, Rabello, Colombo, entre outros, construíram a história dos dois esportes na capital federal entre as décadas de 1960 e 1970. Alguns chegaram a disputar importantes competições do país, a exemplo da primeira divisão do Campeonato Brasileiro de Futebol.

Muitos anos se passaram desde então, mas, mesmo depois de tanto tempo, os responsáveis pelos primeiros momentos de Brasília com a bola nos pés se lembram perfeitamente dos passos iniciais, e, a cada ano, se encontram para reviver as histórias de glória.

Cerca de 150 pessoas participaram da 12ª reunião, realizada no sábado no Lago Norte
Cada confraternização é marcada por risadas, abraços e, claro, boas conversas. Tudo começou em 2005, quando o funcionário público Renato Attuch, 72 anos, decidiu reunir os companheiros da época em que era jogador. A maioria não se via desde quando havia parado de competir, entre os anos 1980 e 1990. ;No início, foi um pouco difícil encontrar todo mundo. Mas cada pessoa que eu convidava conhecia outra, que sabia de mais outra. Assim, conseguimos reunir o máximo de pessoas possíveis.;

O encontro mais recente ocorreu no último sábado. Quase 150 pessoas compareceram à residência de Renato, no Lago Norte, para celebrar a 12; reunião do Salão de Futebol, nome dado à reunião dos ex-atletas.


[SAIBAMAIS]Assim como nos dias de jogadores, todos estavam uniformizados. Dessa vez, no entanto, não havia rivalidade. ;É gratificante. Nós conseguimos gravar esse momento na memória de cada um. Esse tipo de confraternização nos revitaliza, porque não é sempre que temos a oportunidade de conversar pessoalmente. Contribui para que a nossa amizade seja ainda maior;, confessa o funcionário público.

Os momentos mais emocionantes ficam por conta dos relatos de partidas inesquecíveis ou gols marcantes. Ao recordar as histórias de antigamente, os olhos de Renato brilham, e logo um sorriso aparece no rosto. ;É como se estivéssemos assistindo ao filme das nossas vidas. Cada pessoa tem uma história diferente e, com apenas uma palavra, conseguimos lembrar tudo. Isso é maravilhoso.;


Seleção de amor

Há algum tempo, os antigos jogadores não disputam partidas, mas isso não impede que eles defendam um clube. ;Somos o time de amor por Brasília. Estar junto com toda essa galera é uma felicidade enorme. Tudo o que nós fizemos está eternizado. Conseguimos dar reconhecimento nacional a Brasília tanto no futebol quanto no futsal;, conta o aposentado Guairacá Nunes, 71 anos.

Enquanto era profissional, Guairacá fez história nas equipes de futsal do Minas Brasília Tênis Clube, do Iate Clube de Brasília e do Ceub. Entre os amigos, é considerado o maior jogador do Distrito Federal da modalidade, que tinha como dons o drible e o faro de gol. Ele se lembra de cada detalhe e nem mesmo a perda da visão, há três anos, o atrapalha a recapitular o passado.


;Eu enxergo com o coração. Nunca perderei as memórias mais lindas que tive nesta cidade e tenho certeza de que os meus amigos também não se esquecerão. O esporte ensina muitos valores. Nós tínhamos muito amor por aquilo que fazíamos. Sem isso, talvez não tivéssemos história nem motivos para nos rever há pouco mais de 10 anos;, argumenta.

Lembranças

Apesar de a maioria dos ex-atletas ter competido apenas no Distrito Federal, existem pessoas que demonstraram as habilidades em equipes de outros estados. Como o aposentado José Alberto Bougleux, 74, que defendeu Atlético-MG, Santos e Vasco quando era profissional. Na passagem pelo clube paulista, jogou ao lado de Pelé.

Mas ele se orgulha de outra façanha: dos seus pés, saiu o primeiro gol da história do estádio Mineirão, em Belo Horizonte. ;Foi em 1965. Estávamos jogando contra o River Plate (Argentina). Recebi um lançamento do Dirceu Lopes, driblei o goleiro e depois foi só correr para o abraço. Vencemos o jogo por 1x0;, recordou-se.

Neste ano, ele participou do encontro do Salão de Futebol pela primeira vez, e disse que ter a oportunidade de relembrar acontecimentos do passado o enchem de satisfação. ;Sinto-me muito bem. É muito bonito rever toda essa gente, e saber que eles ainda se lembram de cada um. Acredito que todos aqui são irmãos. Nas próximas edições, minha presença está garantida;, afirmou.
As recordações de antigamente estão eternizadas na mente de cada um, mas há pessoas no grupo que decidiram guardar as lembranças também em pedaços de papel. O ex-massagista Raimundo Marreta, 78, por exemplo, sempre carrega para os encontros fotos e matérias de jornais de quando trabalhou por clubes de futebol, futsal e basquete.

;Muitos dos que estão aqui já passaram pelas minhas mãos. Poder conversar sobre as histórias do passado enche-me de honra. A lenda diz que tudo o que você planta um dia você colhe. E, agora, nós estamos colhendo. É uma irmandade que dinheiro nenhum paga. Nossa semente é forte;, frisou.



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