Cidades

Homem que matou o pai em Vicente Pires vai para ala psiquiátrica da Papuda

Juiz determinou a prisão preventiva do jovem, que tem sinais de transtornos mentais. Aos policiais que o prenderam, ele disse ser o 'demônio'

Pedro Grigori - Especial para o Correio, Walder Galvão - Especial para o Correio, Jéssica Eufrásio
postado em 14/08/2018 13:55
Marcas de sangue ficaram por toda a casa: crime aconteceu na madrugada seguinte ao Dia dos Pais
A Justiça determinou, em audiência de custódia, na manhã desta terça-feira (14/8), que a prisão em flagrante de Gabriel Lima Braga, 23 anos, seja convertida em preventiva. Foi ordenado também que ele seja encaminhado à Ala de Tratamento Psiquiátrico (ATP) da Papuda. O jovem é acusado de assassinar o pai, José Pereira Braga, 57, e esfaquear a mãe, a pastora Josenita Lima Braga, 50.

Na decisão, o juiz Aragonê Nunes orientou que Gabriel seja mantido separado dos demais custodiados, tendo em vista que apresenta sinais de problemas psiquiátricos. O juiz acrescentou que, a partir do colhido por relatos da vítima e do próprio acusado, os crimes teriam relação com ritual de magia negra. Em depoimento, a Josenita disse que o filho "mexe com magia negra, feitiçaria e bruxaria".

Na sentença, Nunes conta que Gabriel defendeu a esposa, impedindo que ela também fosse morta pelo filho. "O desfecho só não foi pior porque o pai, antes de falecer, protegeu sua esposa, impedindo o resultado morte. Nesse contexto, a única providência capaz de frear o ímpeto criminoso e garantir a ordem pública é sua segregação cautelar", escreveu o magistrado.


Como o crime aconteceu

[SAIBAMAIS]O crime aconteceu na madrugada de segunda-feira (13/8), após ao Dia dos Pais, na casa onde os três moravam, em Vicente Pires. Em depoimento, Josenita informou que Gabriel já a havia ameaçado e batido no pai. Eles não o denunciaram, mas passaram a trancar a porta do quarto todas as noites por medo do filho. Na noite de domingo (12/8), o casal esteve na igreja e, ao voltar para casa, perceberam que a chave do quarto havia sumido. Josenita disse ao marido que só dormiria se ele ficasse acordado.

Por volta de 1h30 da madrugada, a pastora ouviu gritos na sala. Ela correu para o cômodo e encontrou o marido ensanguentado e o filho com uma faca na mão. Gabriel avançou sobre a mãe e desferiu golpes no rosto, pescoço, braço e na barriga dela. A mulher pediu para que o filho tivesse misericórdia, e ele afirmou que os amava, mas que "tinha de fazer aquilo". José conseguiu proteger a esposa e, com isso, levou mais golpes. Josenita aproveitou esse momento para se refugiar no quarto e usar a cama para travar a porta.
José morreu no Hospital Regional de Taguatinga

A mulher ligou para a Polícia Militar, que, ao chegar ao endereço, encontrou a casa trancada. O cabo Tales Eduardo, que participou do salvamento, disse que viu bastante sangue pela janela e que precisou arrombar a porta da cozinha. "A mulher estava toda ensanguentada, com o marido esfaqueado no chão. Ela não conseguia falar direito. Só confirmou que o filho havia feito aquilo e que ele estava no quarto", relatou. O filho reagiu à prisão quando os policiais entraram no cômodo. "Ele tentou ir para cima. Falava que era o demônio, que estava com o capeta no corpo", contou o militar.

As vítimas e o suspeito foram levados para o Hospital Regional de Taguatinga (HRT). José não resistiu aos ferimentos e morreu. Josenita recebeu alta na tarde de ontem e Gabriel foi encaminhado para o Departamento de Polícia Especializada (DPE), onde permaneceu até esta terça-feira (14/8), quando foi transferido para a Papuda.

Tímido e quieto

Criado em um lar religioso, Gabriel Lima Braga, 23 anos, é descrito por conhecidos como uma pessoa reservada e tímida. O jovem estudou em colégio particular e passou em história no vestibular da Universidade de Brasília (UnB), em 2013. Até os 18 anos, frequentava a igreja pentecostal Ministério Internacional Vida Abundante (Miva), igreja onde os pais eram pastores. O Correio ouviu amigos e colegas de turma de Gabriel, que preferiram não se identificar. Eles afirmaram que, nos últimos anos, o comportamento do jovem mudou bastante. Ele é considerado como alguém calado que faltava muitas aulas.
Em 2016, foi desligado da UnB devido a pendências acadêmicas. ;O Gabriel sempre foi muito calado, era tímido e ficava na dele. Mas nada que levasse a suspeitar que um dia ele cometeria um crime como esses;, afirmou um conhecido que estudou com o suspeito no Ensino Médio e na Universidade.
A irmã de Josenita, Gislaine Lima, 44 anos, afirmou à reportagem que a mãe de Gabriel ainda está em choque diante do ocorrido. Por isso, a vítima preferiu não dar entrevista. Diferente do afirmado por Josenita em depoimento, Gislaine contou que o jovem nunca havia demonstrado agressividade contra os pais ou conhecidos. "O comportamento dele era meio estranho. Tinha horas em que não dava para entender direito o que falava. Ele ficava andando pela casa e havia momentos em que conversávamos sobre um assunto e ele entrava em outro. Mas agressão aos pais, nunca", disse.
Ela acrescentou que o jovem frequentava um centro religioso e que costumava chegar sujo de terra em casa. Ela não soube definir que tipo de centro seria esse. A tia do jovem acrescentou, ainda, que ele sempre foi bem recebido pelos pais. "Uma vez ele disse que queria morar sozinho. Ele se mudou para os fundos da casa de uma tia e ficou lá por uns meses." Algum tempo depois, ele teria pedido para voltar para a casa dos pais, em Vicente Pires. "Os dois concordaram e aceitaram ele muito bem, com muito carinho. Ele nunca foi expulso. Todas as decisões que tomou foram por conta própria, porque ele era de maior", contou Gislaine.

Casal querido

Na rua onde moravam, José e Josenita eram conhecidos por ser um casal querido por todos. ;Não éramos muito próximos, mas sempre que o velho (José) passava pela rua, ele me dava bom-dia. Com grande bom humor, ele andava com um sorriso no rosto;, contou um vizinho, que não quis se identificar. De acordo com ele, o casal se mudou para a residência havia 18 anos e nunca tiveram problemas no lugar. ;Eles eram muito tranquilos. O garoto (Gabriel) eu não conhecia e nem costumava ver por aqui. Mas os pais eram gente boa, sempre animados;, ressaltou.
Outro conhecido da família, que também não quis se identificar, afirmou que o casal tinha uma alegria contagiante. ;Sempre via José saindo em um Corsa. Ele só saia de casa para ir à igreja, onde era pastor e passava o resto do dia reformando a casa, que estava quase terminada. Ele vivia para isso. Esse homem era um excelente vizinho, não fazia barulho. A esposa dele também era tranquila, mas esse filho deles eu não conheço;, disse. Para o colega, a morte de José chocou todos que moram ali. ;Escutamos a polícia de madrugada e saímos para ver o que tinha acontecido. Pensamos que havia sido algum acidente ou coisa do tipo, mas, na verdade, foi essa tragédia;, lamentou.
A igreja em que o casal atuava fica no P Sul, em Ceilândia. Em postagens no Facebook, amigos da congregação lamentaram a morte dele. ;Esse tem dom de mestre. Suas pregações sempre foram impactantes;, disse uma conhecida. Em outra publicação, um colega reconheceu a importância dos ensinamentos deixados por José. ;Hoje, sem dúvidas se foi um grande pastor, mestre, líder e amigo. (...) Agora, ele estará com o Pai;, ressaltou. Josenita faz tratamento contra câncer. Tanto na página do Facebook dela quanto na de José, não há fotos de Gabriel, apenas da outra filha.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação