Marlene Gomes - Especial para o Correio
postado em 18/08/2018 07:00
Verde, vermelho, amarelo, roxo ou bege. De sabor levemente picante, pode ser comido cru, refogado ou assado e serve como ingrediente na composição de diversos pratos. Não parece, mas o pimentão é um fruto. A classificação não é problema para produtores e consumidores de um dos alimentos mais versáteis da cozinha. Não se pode negligenciar sua importância. Tanta que, há duas décadas, é reverenciado durante uma semana inteira em Brasília. E não é por menos: a safra 2018 do DF chega a 15 mil toneladas, movimentando cerca de R$ 11 milhões na economia local.
Dono da fazenda Olhos d;Água, no Núcleo Rural de Taquara, em Planaltina, Zacarias Severino de Rezende, 58 anos, vai colher 24 mil caixas de 10kg de pimentão verde, nessa safra. O alimento é cultivado em estufa, ou campo protegido, e em campo aberto. A colheita do pimentão produzido em estufa só começa em novembro e sairá da fazenda por valores que oscilam de R$ 10 a R$ 15, a caixa de 10kg.
;O custo de produção do pimentão de estufa é maior, mas a rentabilidade é grande. Em campo protegido, o pimentão não leva chuva, está livre de pragas e fica mais resistente. Ele tem uma ótima durabilidade e aguenta bem até uns oito dias depois de colhido, antes de chegar à mesa do consumidor;, disse Zacarias.
Nos quase 30 hectares da chácara no Núcleo Rural de Pipiripau 2, também em Planaltina, João Takagi, 59, planta um pouco de tudo, mas o pimentão ficou de fora da área cultivada este ano. O produtor está realizando a rotação de culturas para melhorar a qualidade do solo. A plantação de pimentão retorna em dezembro, mas será feita apenas em estufa. ;Assim terei um produto com mais qualidade nutricional. Consigo reduzir em até 80% o uso de agrotóxicos;, afirma Takagi.
Economia
A Cooperativa Agrícola da Região de Planaltina (Cootaquara) reúne 60 produtores da região. No total, eles cultivam pimentão em uma área de 42 hectares, sendo 12 hectares em campo protegido e 30 hectares em campo aberto. A produção dos cooperados é vendida em municípios de Goiás, na região do Entorno e no DF. Nas últimas duas safras, a produção deu uma leve encolhida, atribuída à crise hídrica, ao clima seco e ao aparecimento de pragas. Mas a boa produtividade do pimentão, principalmente na região, anima os agricultores.
Produtor rural há quase três décadas, o presidente da Cootaquara, Maurício Severino de Rezende, é um dos pioneiros na produção do fruto em estufa do DF. Ele quer terminar a safra de 2018 com a colheita de mais de 1,5 mil toneladas de pimentão, originários de 60 estufas e 30 mil pés plantados no campo. ;A produtividade do pimentão é muito grande nessa região. Por isso, vale a pena insistir no cultivo, mesmo em condições adversas, como aconteceu na época da crise hídrica;, disse.
O pimentão ainda tem muito espaço para crescer no DF, segundo avaliação do presidente da Emater, o engenheiro agrônomo Roberto Guimarães Carneiro. Os desafios da atividade incluem a implantação de novas tecnologias no campo, busca por novos mercados e a agregação de valor ao produto. ;Precisamos reduzir custos de produção. Com um melhor manejo, teremos uma planta mais saudável, com menos custos de bombeamento e menos fertilizantes;, analisou.
Celebração
A Semana do Pimentão chegou à 20; edição com uma programação com foco na capacitação dos produtores rurais. Estudos da Emater-DF indicam que a plantação do fruto é responsável pela geração de 150 empregos diretos, somente no Núcleo Rural de Taquara, região que absorve mais de 50% da produção do DF.
Entre os temas do encontro, foram abordadas as boas práticas na cultura do pimentão, apresentando as estruturas do cultivo protegido, os manejos da irrigação, fertirrigação e do ácaro, além da comercialização do produto. O encontro reúne 200 participantes, entre produtores rurais e profissionais da área.
Uma campanha de recolhimento de embalagens vazias de agrotóxicos foi realizada na região para conscientizar o produtor rural sobre a correta destinação das embalagens. A Emater recolheu 5.390 embalagens diversas de agrotóxicos vazias dos produtores. ;Orientamos o agricultor sobre o armazenamento adequado desse material. É preciso guardá-lo em um cômodo afastado da residência, cercado, trancado e com ventilação. E o produtor deve perfurar e realizar a tríplice lavagem do recipiente antes de devolvê-lo;, disse o engenheiro agrônomo Fabiano Carvalho.