Cidades

Mais da metade dos brasilienses estão desanimados com as eleições no DF

Pesquisa feita a pedido do Correio mostra que mais da metade dos entrevistados estão desanimados com as eleições no Distrito Federal. Especialistas acreditam que o início da propaganda eleitoral pode atrair a atenção do brasiliense

Ana Viriato
postado em 18/08/2018 07:00
Gráfico mostra interesse nas eleições de 2018Os candidatos do Distrito Federal precisarão trabalhar duro para empolgar o eleitorado e garantir apoio nas urnas. Pesquisa do Instituto Opinião Política, encomendada pelo Correio Braziliense, mostra que 51,3% dos entrevistados têm pouco ou nenhum interesse no pleito de outubro (veja Interesse pelas eleições). Segundo cientistas políticos, os percentuais refletem o desencanto da população com a política, provocado pela descoberta de esquemas de corrupção que desviaram bilhões dos cofres públicos. No entanto, os estudiosos avaliam que o quadro deve sofrer mudanças ; ainda que pequenas ; com o início da propaganda eleitoral na tevê e no rádio, transmitida a partir de 31 de agosto (leia O que diz a lei).
Professor da Universidade de Brasília (UnB), o cientista político Ricardo Caldas indica que o formato atípico da campanha adiou o interesse de parcela da sociedade pelo período eleitoral. Em 2014, a peregrinação teve início em julho. Neste ano, começou na quinta-feira. Além disso, os postulantes a cargos públicos terão 45 dias, em vez dos usuais 90, para investir no corpo a corpo. ;Na pré-campanha, não se pode, efetivamente, pedir votos. O engajamento começa agora e ganha força ao início da propaganda gratuita. No momento em que os concorrentes passarem a falar das propostas na tevê, haverá um choque de realidade;, analisa.

Caldas destaca que ;a falta de interesse não quer dizer que mais de metade da população deixará de votar;. ;Em meio à campanha, parte dessas pessoas passará a avaliar quem apoiar. Algumas, pelo processo de exclusão, quando se verifica qual o candidato ;menos pior;. O eleitorado tem encontrado grande dificuldade em se identificar com um concorrente;, pontua o estudioso.
David Fleischer, também da UnB, acrescenta que o desinteresse acompanha tendência nacional. ;Pesquisas relativas a presidenciáveis apresentam o mesmo quadro. As pessoas são bombardeadas todos os dias por notícias sobre corrupção, desvios, operações, prisões. Há, portanto, um momento de descrédito. Os eleitores questionam-se, muitas vezes, se vale a pena votar em alguém. Deve haver uma mudança nos próximos dias por conta da campanha, mas não será muito grande;, avalia o cientista político.

Ao responderem ao estudo, outros 46,6% dos brasilienses ouvidos alegaram ter médio ou muito interesse no pleito de 7 de outubro. Além disso, 1,8% dos entrevistados disseram não saber se posicionar e 0,3% não responderam ao questionamento. ;Quem observa as eleições com interesse desde já, geralmente, é engajado politicamente, tem ligação com candidatos ou faz parte de grupos que pretendem emplacar nomes, como sindicatos, igrejas e afins;, complementou Fleischer.
David Fleischer:

Ficha limpa

Apesar da dificuldade de identificação, a maior parte do eleitorado ouvido, cerca de 32,8%, pretende levar em consideração a honestidade do candidato no momento da escolha. Outros 22,2% avaliarão se os concorrentes são ficha-limpa. ;Do Mensalão para cá, houve uma desconstrução contínua da relação de confiança entre políticos e eleitores. Além dos escândalos, as políticas públicas não foram corretamente implementadas. O que acontece em Brasília é um microcosmo do que ocorre no Brasil: um grande desconvite às urnas. O eleitor, então, busca alguém que fuja desse padrão;, verifica o analista político e professor da Universidade Católica de Brasília, Creomar Souza.

A competência do administrador é um fator preponderante para o apoio de 13,6% dos entrevistados, e a experiência como gestor público, critério usado por 8,3% dos eleitores ouvidos. Promessas de benefícios também constam na lista de fundamentos do voto: 6,5% dos brasilienses desejam ouvir garantias de reajustes, empregos e lotes.
A onda de preferência por outsiders para a renovação do quadro político, observada em 2016, não se manteve. Ao Instituto de Pesquisa, somente 5,6% destacaram a necessidade de que o candidato não tenha sido eleito em outro pleito. ;Na eleição de prefeitos, as pessoas estavam dispostas a arriscar mais. Agora, estão prudentes, uma vez que governadores, senadores, deputados e presidentes influenciam questões significativas, como a taxa de juros, o crescimento econômico e a geração de empregos;, apontou Ricardo Caldas.


Desconfiança

A crise enfrentada pelo país nos últimos anos não influenciou apenas as perspectivas políticas do eleitorado, avaliam os entrevistados. Cerca de 49,3% dos brasilienses consultados afirmaram que a vida piorou no DF ao longo dos últimos quatro anos e 33,7% alegam que nada mudou. ;A economia entrou em parafuso. Estamos, lentamente, saindo da crise. O desemprego continua alto e o poder de compra, baixo;, lembrou David Fleischer. Apenas 15% do eleitorado avalia que as condições melhoraram na capital.

Quando projetados os próximos anos, 50,6% dos entrevistados preveem um futuro melhor para as respectivas famílias. Cerca de 15,7% mantêm a indiferença e 29,4% mostram-se pessimistas.

A pesquisa foi registrada no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) com o número DF-03100/2018. Para a amostra, o Instituto realizou 1.231 entrevistas, entre 10 e 13 de agosto, com eleitores residentes no Distrito Federal maiores de 16 anos. O intervalo de confiança da pesquisa é de 95%, e a margem de erro, de 3%.

O que diz a lei

Conforme a Resolução n; 23.551, de 2017, quando a renovação do Senado for de dois terços, a veiculação da propaganda eleitoral de candidatos aos governos estaduais ocorrerá em dois blocos de nove minutos, às segundas, quartas e sextas-feiras. A de concorrentes às cadeiras de senadores, em blocos de sete minutos, nos mesmos dias. A Justiça Eleitoral realiza a divisão do tempo entre os postulantes. Pelas diretrizes, 90% dos nove minutos são distribuídos proporcionalmente às legendas com base no número de representantes na Câmara dos Deputados. Repartidos igualitariamente, os demais 10% ficam com todas as siglas do país.

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