Cidades

Com 55 anos de existência, a Casa do Ceará celebra as tradições nordestinas

Casa do Ceará, na Asa Norte, se tornou o lar de vários imigrantes da região que ajudaram na construção de Brasília e, hoje, estende o cuidado a outros moradores da capital

Walder Galvão - Especial para o Correio
postado em 20/08/2018 06:07
Antônia Gomes mora na instituição há sete anos
Há quase 60 anos, trabalhadores de várias partes do Brasil chegaram ao Planalto Central para construir a nova capital do país. Grande parte veio do Nordeste do e, na bagagem, trouxe uma imensa riqueza cultural. Com isso, a região passou a reunir diversos costumes e um pedacinho do Ceará nasceu em Brasília.

Com 55 anos de existência, a Casa do Ceará, localizada na 910 Norte, celebra diariamente tradições nordestinas. ;Aqui pulsa o coração e se pratica a solidariedade cearense.; Com esse lema, a instituição oferece uma série de serviços à comunidade brasiliense. Atendimento médico, odontológico, cursos de idiomas, manicure, cabeleireiro, e até mesmo, um centro de convivência para idosos são alguns dos trabalhos disponibilizados à população local.

Os atendimentos são, preferencialmente, ofertados a pessoas com baixa renda, mas qualquer pode entrar em contato com a instituição e agendar uma visita. O lugar conta ainda com um museu, repleto de itens que contam, sozinhos, a história da região. Nele, há vestimentas típicas, instrumentos antigos, que eram usados pelos nordestinos, artesanato característico e outras diversas riquezas, entre elas uma biblioteca organizada com centenas de livros apenas de autores cearenses.

Os próprios funcionários da entidade passaram a criar e desenvolver a identidade nordestina, mesmo aqueles que nem nasceram lá. Natural de Vila do Conde, em Portugal, Maria de Fátima Azevedo Ramos, 75 anos, chegou ao Brasil quando ainda tinha 8 anos. Passou a infância em Recife, se mudou para o Rio de Janeiro e, em 1959, decidiu vir a Brasília. Fatinha, como é conhecida, casou-se, teve filhos e em 1987 começou a trabalhar na Casa do Ceará. Trinta e um anos depois, é responsável por apresentar o museu aos visitantes.

;Aqui, temos roupas de vaqueiro e pescador, os materiais de trabalho das rendeiras e até mesmo um vestido feito aqui mesmo, nos nossos bancos. Também temos trajes de carnaval e indígenas;, explica ela. ;Comecei na Casa como secretária e já dei curso de datilografia. Estou aqui de segunda a sexta, das 8h às 17h. Adoro trabalhar aqui e já me sinto cearense;, reforça.


Apoio


;Quando a Casa surgiu, o objetivo era dar apoio aos cearenses que vieram trabalhar na construção da cidade. Ao longo do tempo, fomos crescendo e continuamos com o mesmo trabalho depois;, ressalta o presidente da Casa do Ceará, Osmar Alves de Melo, 83. ;Em 2017, conseguimos atender cerca de 50 mil pessoas e a nossa expectativa é ampliar o serviço este ano;, garante.

Ele explica que um assistente social é responsável por realizar a triagem dos atendimentos solicitados pela população. A instituição se mantém por meio de doações e aluguéis de algumas das salas. No total, são mais de 150 pessoas, entre voluntários e funcionários contratados, atuando no lugar.

Osmar também é cearense. Pioneiro, ele chegou à capital em 1963. ;Eu era jornalista, vim de passagem, mas a cidade me abraçou e acabei ficando;, lembra. Ele está no segundo mandato, que é de quatro anos, e deve permanecer na chefia da entidade por mais um ano. ;Temos um lugar muito especial no DF, que consegue oferecer serviços públicos e cultura para toda a população;, frisa.

Lar de todos


A solidariedade cearense se estendeu também aos moradores do Distrito Federal. A casa passou a receber idosos carentes que vêm encaminhados pelo Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas). Agora, 14 chamam a entidade de lar. No local, eles recebem assistência médica e podem desfrutar das riquezas da tradição todos os dias.

Lydia Almeida também se mudou para o local e a atividade preferida é ler

Aos 96 anos, Antônia Gomes é uma das moradoras. Nascida em Pirenópolis (GO), ela chegou a Brasília antes mesmo do surgimento da cidade. ;Juscelino foi a Anápolis (GO) quando eu estava lá. Eu gostei da ideia dele e decidi me mudar;, lembra. No DF, dona Antônia morou em Sobradinho e conta que trabalhava na roça, depois foi doméstica, assistente de dentista e até teve emprego em uma gráfica.

Ela chegou à Casa do Ceará há sete anos. ;Fui muito bem recebida aqui. Gosto de fazer de tudo. Se você me chamar para limpar um quintal, eu vou. Topo qualquer parada;, diverte-se. Ela teve 10 filhos, mas conta que apenas quatro estão vivos e compartilha um sonho com a reportagem. ;Eu ainda vou me casar;, garante dona Antônia, em tom de confiança.

Para Lydia Almeida de Oliveira, 92 anos, o carinho pela Casa do Ceará foi crescendo ao longo dos anos. A carioca chegou a Brasília em junho de 2016, após ser atropelada. ;Vinha aqui todas as quartas-feiras e decidi ficar de vez. Trouxe todas as minhas coisas do Rio de Janeiro e tenho quatro netos e quatro bisnetos em Brasília, não tenho por quê ir embora;, comenta. Ela ressalta que a atividade preferida é ler. ;Gosto de livros e de jogos de palavras. Tudo isso estimula minha mente e a imaginação. Agora, tenho muito tempo para isso;, reforça.

Serviço
A Casa do Ceará fica na SGAN 910, Conjunto F. Quem se interessar por algum dos serviços oferecidos ou quiser contribuir com doações, pode entrar em contato pelo telefone 3533-3800.

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