Augusto Fernandes
postado em 24/08/2018 06:00
Primeiro, o ressoar dos instrumentos de corda. Na sequência, a melodia originada do sopro de flautas, clarinetes, trompetes e outros tantos aparelhos. Depois, para dar ainda mais harmonia às canções, as batidas dos percussionistas. Sem perder o compasso, o grupo chamava a atenção de um público que tem de lutar pela vida diariamente. A cada intervalo, os sorrisos e os aplausos dos pacientes do Instituto Hospital de Base do Distrito Federal surgiam naturalmente, afinal, as doses de música eram o remédio que todos precisavam para anestesiar a alma e revigorar as energias.
Pela primeira vez em quase 40 anos de história, a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional se apresentou na maior unidade da rede pública de saúde de Brasília. Cerca de 80 músicos profissionais participaram do concerto. Com obras clássicas e contemporâneas, eles encheram de som e alegria praticamente todos os corredores e salas de internação do hospital.
A iniciativa surgiu de uma parceria entre as secretarias de Cultura e de Saúde. Desde julho, as pastas promovem a turnê Concertos da Saúde. O objetivo é levar a orquestra para unidades públicas de saúde espalhadas em todo o Distrito Federal. Até o momento, outros quatro centros médicos receberam a apresentação: Hospital da Criança, Hospital Materno-Infantil de Brasília, Hospital de Apoio e Hospital de Planaltina. Até dezembro, os músicos devem ir a mais 15 locais, sempre às quintas-feiras.
Apesar de o foco da orquestra ter sido entreter os pacientes, os funcionários do hospital não esconderam a admiração pelo grupo de músicos. ;É emocionante também para nós. O sorriso e a música andam lado a lado. Conseguimos gerar uma corrente em prol do cuidado ao paciente. Uma forma de terapia, na qual estimulamos o bem-estar;, comentou o diretor presidente do Instituto Hospital de Base, Ismael Alexandrino.
Medicação
O aposentado Gabriel de Oliveira, 65 anos, saiu do seu leito na unidade de terapia intensiva (UTI) coronariana para assistir à apresentação de uma orquestra pela primeira vez na vida. Ao apreciar as sinfonias, fechou os olhos, balançou-se na cadeira de rodas e deu boas risadas de satisfação. Gabriel trata um problema cardiovascular. No ano passado, fez quatro cirurgias de ponte de safena. Segundo ele, o concerto foi um dos melhores remédios que ele poderia receber para o seu coração. ;Estou muito mais feliz. Aproveitei o máximo possível, porque é assim que devemos agir na nossa vida. Apesar de tudo, depois de hoje (ontem), sinto que o meu coração está em paz;, celebrou.
As crianças também aproveitaram a apresentação, como a pequena Letícia Moreira, 1 ano, que nem piscava ao apreciar os sons da harpa, do violino, do violoncelo e dos outros instrumentos. Cada canção era acompanhada por palmas e sorrisos da menina. Nos braços da mãe, a administradora Cristiane Moreira, 38, ela não perdeu nenhum detalhe. ;Deveria acontecer com mais frequência. Criança feliz é um indício de criança saudável. Independentemente da doença, não podemos deixar que elas se entreguem à tristeza, pois o sorriso ainda é um dos melhores remédios;, lembrou Cristiane.
Esperança
;Queremos, com a arte, oferecer beleza e conforto a todos os pacientes. Temos a convicção de que a música ajuda no dia a dia dessas pessoas. Em um espaço onde o cotidiano é difícil, a cultura pode fazer com que eles tenham um pouco mais de esperança;, destacou o secretário de Cultura, Guilherme Reis. ;São momentos que quebram a rotina de um hospital. É um trabalho de recuperação. Ao trazer algo novo, conseguimos melhorar a atmosfera dos pacientes e contribuir para que eles voltem para casa mais fortes;, ressaltou o secretário de Saúde, Humberto Fonseca.
O sentimento de felicidade também estava presente entre os músicos, como o maestro Cláudio Cohen, que regeu a orquestra em uma apresentação no jardim do hospital. ;É a nossa missão cidadã levar tranquilidade aos pacientes. Fazer da música um elemento curativo e de satisfação pessoal;, apontou. Assim como o maestro, o trombonista Ricardo Pacheco classificou a experiência como gratificante. ;Quando o público reage com palmas, eu fico com a sensação de dever cumprido. Tudo o que nós queríamos era trazer carinho, pois este é um ambiente que precisa de calmaria. Acredito que atingimos esse objetivo;, destacou.