Cidades

ONG promove encontros entre cães e pacientes no Hospital de Apoio

Atitude altruísta promove o bem-estar de quem está internado ou passa por lá para fazer exames

Letícia Takada*, Aline Ramos*
postado em 27/08/2018 06:00
Crianças estão entre as principais beneficiadas com as visitas dos animais
Nas alas de hospitais e asilos por onde passam eles levam alegria e enchem o ambiente de vida. Sempre recebidos com carinho em seus pelos e abraços apertados, eles são os cães terapeutas da ONG Pet Amigo. A organização surgiu de projeto iniciado em agosto de 2016 na Associação de Voluntários do Hospital de Apoio de Brasília (AVHAP).

A ideia partiu da veterinária Nayara Brea Marodin, 35 anos, recém-formada à época. Ela queria levar momentos de alegria e alívio aos pacientes que precisam de cuidados paliativos, muitos deles diagnosticados com poucas semanas de vida restantes. Assim, conheceu a Terapia Assistida por Animais, que consiste em estimular a interação entre homens e bichos, promovendo desenvolvimento físico, psíquico, cognitivo e social.

;Comecei a fazer pesquisas e vi que, no mundo todo, era prática comum a Pet Terapia. Procurei artigos e normas internacionais sobre o assunto para que tudo desse certo e fosse aceito pelo hospital como um projeto;, conta Nayara. Márcia Brea, 60 anos, aposentada, foi a primeira tutora a levar um pet. A Millie, uma shitzu de 3 anos de idade, é calma e doce. Ela relata que a cachorra gosta de interagir mais com humanos do que com outros animais e é ela que atende aos pacientes com o quadro de saúde mais grave, que não conseguem se levantar ou sentar. ;Ela já se acostumou a trabalhar no projeto. Fica quietinha no leito e, muitas vezes, escolhe o paciente de que gosta mais;, comenta a tutora.

O projeto, sem fins lucrativos, conta com 23 cães. Além dos proprietários, há participantes sem cães. Ao todo, são 40 voluntários. Junto aos tutores, os cães visitam alas de internação de adultos e corredores onde crianças aguardam atendimento. O contato com o animal ajuda a ativar a produção e a liberação de endorfina no corpo, levando à sensação de bem-estar e relaxamento, assim como diminuição na pressão arterial. Além disso, diminui a solidão e a ansiedade.

Patrícia Pina Von Adamek, 55 anos, é advogada e dona de Nina, uma golden retriever de 9 anos que já está se aposentando do projeto. A tutora conta que a cadela fica muito feliz quando é dia de visita. ;Na hora em que eu pego a bandana, ela corre para a garagem e fica sentada na porta do carro para entrar;, relata. ;Os pacientes até perguntam ;é hoje que o cachorro vem?;. É muita felicidade, pois uns nem visita recebem. É um pequeno gesto, que faz muita diferença;, conclui.

Carinho

O projeto, sem fins lucrativos, conta com 23 cachorros. Além dos proprietários, há participantes que não são donos de bichos. Ao todo, são 40 voluntários
Suyenne Figueiredo, 43, é fisioterapeuta e voluntária no projeto desde o fim do ano passado. ;Eu digo para todos que somos coterapeutas, os terapeutas são eles (cachorros). Somos facilitadores para que o trabalho aconteça, e é um trabalho de acolhimento;, afirma.

Na área de internação na ala dos idosos, uma das voluntárias pediu autorização a um paciente para aproximar o cão dele. O homem consentiu com a cabeça e um sorriso. Edna Santos se emocionou ao ver o irmão João, 69, que sofreu um AVC, tentando falar para elogiar o cachorro. ;Meu irmão não falava, e está tentando falar, e fazendo carinho no cãozinho. Eu fico emocionada de ver que ele ficou sensibilizado com o animal. Antes de adoecer, ele cuidava de cinco na casa dele, com certeza, resgatou essa memória;, observa a acompanhante.

Cuidados


Até 24 horas antes da visita o animal tem que estar de banho tomado. Para entrar no hospital e, em seguida, nos leitos, é feita a limpeza das patas. Todos os pacientes que têm contato com os bichos também passam por higienização com álcool gel, seguindo requisitos internacionais e padrões da Associação Internacional de Terapias de Intervenções Assistidas por Animais.

A presidente da ONG, Vanessa Spangnolo, explica que o cão terapeuta já nasce pronto, pois trata-se de um dom. Os adestradores apenas modelam alguns tipos de comportamento do animal. ;O cão já tem o perfil ideal com ele desde o nascimento;, detalha. Os animais voluntários passam por testes para avaliar se são não reativos, ou seja, se não reagem a estímulos negativos, como a agressividade.

O dono do cão também precisa ter o perfil, pois o trabalho deve ocorrer em dupla: o tutor e o seu pet. Inicialmente, é preciso responder a um questionário on-line. Em seguida, são feitas entrevistas e o cão precisa ter a saúde perfeita, com vacinação e vermifugação em dia.

* Estagiárias sob supervisão de Mariana Niederauer



Participe

A ONG está com vagas abertas. Os interessados em se inscrever ou ajudar podem enviar um e-mail para projetopetamigo@gmail.com.

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