Letícia Takada*, Marlene Gomes - Especial para o Correio
postado em 03/09/2018 13:47
A investigação sobre o caso do estudante assassinado no Parque da Cidade chegou ao fim na 1; DP (Asa Sul). Na próxima quinta-feira (6/9), o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) deverá pedir à Justiça para que os acusados continuem presos. Em 26 de maio, o adolescente Victor Martins Melo, 16 anos, foi espancado até a morte por um grupo de 15 pessoas, das quais 11 são adolescentes.
Ainda em maio, com ajuda de três denúncias anônimas, a Polícia Civil deteve quatro envolvidos. Marcela Sabrina da Silva, 24 anos, a única participante que confessou o crime, Welington Silva Alves, 23, Wesley Vinícius Moreira de Melo, 21 e Alan Luiz da Silva Júnior, 22 anos, todos moradores do Paranoá.
O delegado adjunto da 1; DP, João de Ataliba Nogueira Neto, classificou o assassinato como um "crime bárbaro". Era a primeira vez que Victor saía sozinho de casa. O delegado ainda afirma que o linchamento durou cerca de 15 minutos e todos os suspeitos já foram identificados.
Eles vão responder por homicídio duplamente qualificado, devido à impossibilidade de defesa da vítima e pela crueldade. A pena varia de 12 a 30 anos. Para a 1; DP, o caso está solucionado e, a partir de agora, as investigações serão conduzidas apenas pela Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA).
Entenda o caso
O adolescente era morador da zona rural do Lago Norte e não tinha passagens pela polícia. Na tarde do ocorrido, ele saiu de casa pouco antes das 16h, para ir à festa Cala a Boca e me Beija, que não tinha alvará, nem a presença de seguranças, policiais ou socorristas.
Após ser acusado de roubar o celular de uma adolescente de 16 anos, Victor foi agredido com socos, pontapés e garrafadas. Levou uma facada no coração, o que, segundo laudo do Instituto de Medicina Legal (IML), provocou a morte. Paramédicos do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) socorreram a vítima, mas o estudante não resistiu aos ferimentos.
A vítima do roubo afirmou à polícia que estava reunida em uma roda de amigos, com o celular nas mãos, quando um desconhecido tentou pegar o aparelho. Ela teria resistido, enquanto outra pessoa a teria agarrado por trás, no momento que o suspeito de pegar o telefone teria fugido.
A apuração da polícia apontou que o responsável por roubar o aparelho não foi Victor, e sim um amigo dele. O suspeito também tem 16 anos e foi encaminhado à DCA.
Os investigadores acreditam que uma disputa entre gangues do Paranoá Parque, região onde mora a maioria dos suspeitos, possa ter ocasionado a briga. Agentes coletaram mais provas para descobrir quem foi responsável por cada ação. Os suspeitos podem responder por homicídio, lesão corporal seguida de morte ou rixa qualificada.
A polícia averiguou que Victor foi à festa acompanhado de seis ou sete amigos, incluindo o responsável pelo roubo. Alguns deles tinham a intenção de praticar furtos a celulares, mas, de acordo com as investigações, Victor não sabia do fato. As informações prestadas pelas testemunhas foram consideradas contraditórias, em decorrência de a maior parte delas estar sob efeito de álcool no momento do crime. Mesmo assim, durante depoimentos ninguém apontou o estudante como autor do crime.
Os divulgadores da festa não podem responder pelo caso no âmbito da Justiça cível porque não tinham autorização para realizar o evento em espaço público. Uma das pessoas apontadas como organizadora negou qualquer envolvimento com a festa. A Secretaria de Esporte, Turismo e Lazer do Distrito Federal, responsável pela gestão do Parque da Cidade, confirmou que o encontro não tinha permissão pública e que, assim que soube da festa, contatou a PM, que chegou ao local após o linchamento.
* Estagiária sob supervisão de Roberto Fonseca