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75% das famílias do DF estão no vermelho; veja dicas para fugir das dívidas

Pesquisa realizada pela Fecomércio/DF mostra que 75% das famílias do Distrito Federal estão com as contas no vermelho. Especialistas em controle financeiro ensinam que, para resolver a situação, é preciso cortar gastos e reduzir despesas, além de disciplina e planejamento

Condomínio, aluguel, supermercado, escola, impostos, gasolina. Equilibrar as contas de uma casa exige controle das despesas. Seja por tabelas, seja por aplicativos, seja por folhas de cadernos, quem tem renda tenta encontrar a melhor forma de administrar o dinheiro, pagar as contas e não ficar no vermelho. Para isso, especialistas em finanças reforçam a necessidade de um planejamento. Entre as etapas estão: guardar parte da receita para uma reserva de contingência, destinar valores para cada despesa, economizar com mudanças de hábitos e saber investir.

Em junho, 729.485 (75%) famílias do Distrito Federal estavam endividadas. O número é maior do que o de maio, quando 722.080 estavam nessas condições. Os resultados são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do DF (Fecomércio/DF).

Uma dessas pessoas era a enfermeira Kamila Lustosa, 32 anos. Recém-separada, ela teve de arcar com as dívidas que os ex-marido deixou no cartão de crédito. Ele comprou uma moto de
R$ 1.920, em 12 parcelas, no nome de Kamila, além de acumular multas no carro dela de quase
R$ 1 mil. A mulher ainda teve de trocar os pneus e desfazer o rebaixamento do veículo feito pelo ex-companheiro. "No total, tudo chegava a quase R$ 4 mil. Como ele disse que não ia pagar nada, tive de mudar a minha vida a partir de então. Vivi cinco meses atolada em dívidas", relembra.


Mãe de um garoto de 6 anos, ela mudou-se para um apartamento com aluguel mais barato. Na tentativa de economizar, ainda reduziu os planos da tevê a cabo e do celular. Mesmo assim, paga a escola do filho (R$ 500) e o transporte escolar (R$ 260). "Nunca tive gastos com vaidade. Nunca fui de comprar roupa de forma descontrolada. Precisei cair um pouco para poder levantar. Foi uma dívida de cartão de crédito mês a mês", conta. "É como se eu estivesse zerado tudo para o futuro. Aprendi sobre investimento, projeção e perspectiva. Hoje, consigo respirar e retomar a vida com o meu filho, que sofreu um período por causa das dívidas", destaca.

A coordenadora comercial Andressa Ramos Queza, 25, tenta controlar as finanças da casa em um aplicativo. Ela e o marido, Rosevaldo Rodrigues Ferreira, 29, anotam todos os gastos, como tevê a cabo, prestação de carro, aluguel de uma loja, dois seguros de veículos e boleto do celular. "O segredo é ter controle para não gastar muito. Se a gente compra uma mobília para casa, por exemplo, preferimos fazer em boleto, porque fixa uma prestação por mês. Depois, espero quitar para adquirir outros sonhos", indica.

O casal tem um filho de 3 anos. Para complementar a renda, ela concilia a função de coordenadora comercial com a revenda de cosméticos. Mesmo assim, consegue poupar pouco mais de R$ 200 por mês e reserva cerca de R$ 100 para a compra de produtos pessoais. "Sempre tento ter uma meta, mesmo que aperte alguma coisa. Tento quitar tudo até aquele determinado prazo, porque, se não, a gente só vai gastando, pagando parcela e não conseguimos ter controle de nada", reforça.

Curso de finanças


Para equilibrar as finanças, a família Castelo Branco aprendeu a fazer um planejamento dos gastos. Daniel e Aline Castelo Branco, 34 e 27 anos, têm um filho de 6 meses, Noah, e economizaram R$ 1,3 mil no período. Eles deixaram um crédito pessoal e outro consignado, de 3,8% e 1,8% de juros ao mês, respectivamente, para um único de 1,3%. Também reduziram o plano da tevê a cabo, estudaram os trajetos para poupar gasolina e diminuíram as saídas. "Aprendemos a dar destino às dívidas e a ter um compromisso financeiro. Preferimos, agora, nos reunir na casa dos amigos e cada um levar alguma coisa do que sair", conta o servidor público Daniel.

Sem saber por onde começar, ela e o marido se matricularam em um curso de educação financeira. "Só anotar em uma planilha acaba não sendo eficaz. Você vê aqueles valores todos, mas, na prática, não encontra uma solução. Aprendemos a setorizar. Temos o dinheiro fixo da moradia, do carro, dos custos do mês. O que sobra vai para um refinanciamento para aposentadoria e outros gastos, como viagens", explica Aline, formada em odontologia e coach em empreendedorismo.


Inteligência financeira


Especialista em finanças pessoais e fundador do Hospital das Finanças, Thiago Campos explica que, para equilibrar as contas, as famílias precisam tomar controle dos gastos, identificar os problemas e tomar decisões. "Depois de se questionar, é hora de começar o processo de mudança devagar. Muita gente não consegue, porque tenta mudar de forma rápida, como o caso de pegar empréstimos. Se for para iniciar, que seja criando hábitos, que são mais interessantes do que os resultados financeiros", ensina.

Para ele, economia comportamental é mais importante do que ideias racionais. "Todo mundo sabe o que fazer: não gastar mais do que pode, poupar, porque isso é bom para a saúde financeira. Mas por que não fazem? Porque antes de usar a tabela é importante que se reflita e tome consciência financeira. Para melhorar o processo de produção, é necessária a inteligência financeira", destaca.

Casados há quase três anos, Flavio Migowski, 30 anos, e Tayná Carvalho, 28, passaram a gerenciar os gastos, mas sempre pouparam. Em vez de fazer uma festa de casamento, optaram por reunir a família e viajar para Paris. O casal também prefere fazer viagens do que adquirir bens. Mesmo assim, preocupam-se com a reserva. Foi o dinheiro guardado que custeou a cirurgia de um dos olhos da fisioterapeuta. A lente e o procedimento cirúrgico a laser custaram R$ 21,9 mil. "O que dá alívio é saber que você não terá preocupação de onde tirar um valor para situações de emergência como essa", detalha Tayná.

O consultor financeiro Erik Ferraz sugere quatro passos para o controle de gastos: diagnósticar despesas e receitas, envolver a família, planejar corte e diminuir custos. "Não existe regra máxima para o orçamento caber dentro das despesas. Cada casa precisa encontrar a própria dinâmica familiar. E o bom equilíbrio financeiro passa por isso", alerta.