Jornal Correio Braziliense

Cidades

Manifestações e atos políticos tiveram espaço no desfile de 7 de Setembro

A diversidade de cores marcou o desfile cívico-militar realizado na Esplanada dos Ministérios, onde 30 mil pessoas se reuniram para celebrar a Pátria

A cada quatro anos, o desfile da independência do Brasil se transforma em palco de campanha partidária nas arquibancadas e fora delas. Dessa vez, a política deu o tom nas estampas das camisetas vestidas pelo público, em panfletos distribuídos do lado de fora e em gritos isolados em apoio a candidatos à Presidência da República. Vaias ao chefe do Executivo, Michel Temer (MDB), também ecoaram na plateia, assim como palmas e gritos em apoio à Polícia Federal, a instituição mais ovacionada na apresentação ; a corporação é responsável pela Operação Lava-Jato.
Um dia depois do ataque a golpe de faca sofrido pelo presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), em Juiz de Fora (MG), durante passeata, camisas em apoio ao militar se misturavam com as cores verde e amarela. Cartazes com pedidos de intervenção militar também foram erguidos na passagem das Forças Armadas. Um grupo carregava, ainda, a bandeira da monarquia e pedia o retorno do império. Nas filas, antes de alcançar os assentos, algumas pessoas gritavam nomes de políticos, como o de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso em Curitiba.

Para evitar conflitos, forças de segurança pública reforçaram o esquema durante a solenidade. A ordem era evitar a todo custo qualquer episódio de violência ou ameaça. Agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) ocuparam estrategicamente o topo de ministérios. Grades de ferro também ganharam reforço para isolar, sobretudo, a tribuna presidencial, onde estava Temer, ministros de Estado e diplomatas. Apesar da proteção intensificada, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, Sérgio Etchegoyen, garantiu que não houve mudança na estrutura de segurança do presidente.
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A celebração de ontem teve como tema a mensagem: ;Celebre a história da nossa independência;. Entre as autoridades presentes estava o governador Rodrigo Rollemberg (PSB), que viu o desfile ao lado de Temer e da primeira-dama, Marcela. Mesmo com um público de 30 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios, a Polícia Militar não registrou nenhuma ocorrência em 2h de desfile. Apesar do tempo quente e seco, não houve atendimento do Corpo de Bombeiros.

Acrobacias
Quase uma hora depois do início do desfile, às 9h, famílias enfrentavam lonfilas para as arquibancadas. Era o caso de Claudineide e Adelmar Batista, 34 e 38 anos, que levaram os trigêmeos Arthur, Letícia e Gabriel Batista, 4 anos. ;Desde que eles começaram a entender o significado da independência, nós passamos a trazê-los;, explicou o pai, enfermeiro. ;Queremos ver bombeiros, ambulâncias e cavalos;, contou Arthur.

Às 10h30, o público se aglomerou nas tendas para assistir ao desfile militar. Alguns se penduraram nas grades, outros subiram em árvores. Quem não conseguiu um espaço do lado de dentro se contentou com telões instalados no gramado da Esplanada. Paulo Leite, 39, e Eliane Sanches, 42, estenderam uma toalha na grama para acomodar os filhos Rafael e Lucas Leite, 6 e 2 anos. Moradores de Brasília desde fevereiro, foi a primeira vez que compareceram ao desfile da independência. ;Chegamos às 8h50, não conseguimos entrar e vimos as pessoas misturando a independência com política. Na fila, alguns gritavam o nome de candidatos. Esse não é o propósito;, criticou a publicitária.

Moradores de São José do Rio Preto (SP), Glauco Laguna e Ana Claudia Rodrigues, 49, aproveitaram a viagem a Brasília para visitar a filha, a médica Tamires Mariano, 27, e assistir, pela primeira vez, ao desfile na capital federal. ;O Brasil perdeu um pouco o sentido da Pátria e precisa retornar esse sentimento;, destacou a fisioterapeuta Ana Cláudia. ;O que aconteceu com um candidato a presidente foi um atentado à democracia;, reforçou o marido.

O ápice das exibições em terra ficou com o Batalhão de Polícia do Exército: 27 homens equilibraram-se em uma motocicleta, formando uma pirâmide humana. O grupo percorreu o trajeto reservado para o desfile soltando fumaça verde-amarela e balançando a Bandeira do Brasil. Nos hinos, sete aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) sobrevoaram a Esplanada dos Ministérios, formando a frase: ;Pátria amada, Brasil;.

Jeane Cristina Santos, 37, e o marido, Uneilson dos Reis Almeida, 47, levaram Arthur Santos, 6, para apresentar a ele o sentido do Dia da Independência. ;Pena que é uma independência que ainda não alcançamos em razão do ódio e da intolerância que vemos por aí;, lamentou o motorista de aplicativo. Arthur estava ansioso para assistir ao show aéreo. ;Quero ver os aviões fazendo o meu nome;, esperou. Com acrobacias e manobras, sete pilotos da Esquadrilha da Fumaça sobrevoaram o céu em aeronaves modelo A-29 estampadas em azul, amarelo e verde para encerrar a celebração.

Grito esvaziado
Com público menor do que o registrado no ano passado, o Grito dos Excluídos reuniu cerca de 60 pessoas em frente ao Museu Nacional, segundo a Polícia Militar ; no ano passado, foram entre 1 mil e 1,5 mil. O ato ocorre no mesmo dia da independência do Brasil como contraponto. Neste ano, além das bandeiras históricas de direito às mulheres e aos indígenas e da defesa da democracia, a manifestação foi tomada por gritos de apoio ao ex-presidente Lula, preso há cinco meses. Em campanha, candidatos de esquerda também aproveitaram para fazer discursos.

Na 24; edição do Grito dos Excluídos, não houve, porém, passeata e concentração em frente ao Congresso Nacional, como em 2017. Mas o grupo pediu a soltura de Lula e defendeu a revogação da Emenda Constitucional n; 95, que trata sobre o teto dos gastos. Roberto Ferdinand, representante do Movimento Nacional Contra a Corrupção e pela Democracia, deu um tom mais nacionalista. ;Quando saíram às ruas com camisas verde-amarela, nós criticamos. Criticamos as cores do Brasil. Está errado. Precisamos recuperar esse sentimento nacional, de pátria, da nossa bandeira. Devemos refletir;, afirmou.