Cidades

Moradores reclamam de insegurança em área tradicional de Taguatinga

Falta de iluminação e de equipamentos de cultura são apontados como principais problemas

Isa Stacciarini
postado em 15/09/2018 07:00
Região conhecida por reunir bares e galerias de arte reúne queixas de assaltos, furtos, disparos de arma de fogo e tráfico de drogas
Comerciantes da Praça da CNF, em Taguatinga Norte, reclamam que o espaço tradicional da cidade se transformou em um local inseguro para frequentadores e trabalhadores da região. Considerado um ponto de entretenimento por causa dos bares temáticos, das apresentações de música e das galerias de arte, a sensação de insegurança tem afastado a frequentadores. Moradores também se queixam de disparos de arma de fogo na rua, assaltos, furtos e até sexo ao ar livre.

Além da ausência de policiamento ostensivo, a população se queixa da falta de iluminação, principalmente à noite, e de pontos malcuidados, pichados e sujos. Proprietário da Galeria Olho de Águia, o fotógrafo Ivaldo Cavalcante Alves, 52 anos, observa que as drogas têm tomado conta do espaço. ;Tornou-se uma questão comum nas praças em geral, porque elas se tornaram ambiente de venda de droga e essa é a realidade da Praça CNF. São necessárias políticas públicas para mudança desse cenário;, ressalta.

Para ele, faltam investimentos em espaços culturais. ;É importante ter um ambiente onde a juventude possa se reunir, brincar com segurança. Se isso não acontece, o tráfico toma conta. Ao mesmo tempo, vemos traficantes muito novos, já com filhos, que veem nessa atividade uma forma de sustento;, avalia Ivaldo.

Dono do bar Kaixa d;Água, Jaile de Assis Ricardo, 64, conta que, principalmente na madrugada, ocorrem pequenos delitos, como roubos de celulares e venda de droga. ;Vemos crianças de 12, 13 anos, comercializando entorpecente 3h, 4h. A polícia até passa, mas não sei como eles não conseguem deter essas pessoas. É um problema social que acaba afugentando as pessoas;, relata.

Jaile reforça que o local precisa de um acompanhamento mais efetivo das autoridades públicas. ;A insegurança acaba com qualquer ambiente. Quem sai à noite quer se divertir. Era assim no centro de Taguatinga, mas hoje ninguém mais vai lá, porque se tornou um endereço tomado por usuários de droga, pela prostituição e que acabam sempre ocorrendo pequenos delitos;, lamenta.

Estatísticas criminais da Polícia Militar demonstram que o roubo e furto de veículos ou no interior dos carros são os crimes mais frequentes na Praça da CNF. Balanço realizado no local e na QNF mostra que, em agosto, houve quatro assaltos de carros, seguidos de três ocorrências em julho e uma em junho. Os furtos se mantiveram com três casos em agosto, em julho e em junho.

Apesar da sensação de insegurança, Francisco Ribeiro de Souza, 76 anos, conta que os veículos dos moradores não viram alvo dos ladrões. Ele vive com a família em um edifício de frente à praça desde a inauguração do prédio. Pela janela do apartamento, consegue ver o que acontece embaixo. ;É uma baderna, porque a maioria desse pessoal é de fora. Mas carro de morador ninguém ataca. O que acho é que falta uma praça limpa e bem cuidada para isso acabar;, reforça.

Ele confirma que um dos principais problemas do local é o consumo de entorpecentes. ;A droga corre solta. Há dois meses, um casal fazia sexo às 2h encostado no meu carro. Vi pela janela, mostrei um cabo de vassoura e os dois saíram correndo, pelados;, conta.

Desafios


Morador há mais de 30 anos de uma casa próximo à praça, Paulo Chagas Ribeiro, 57, destaca que, à noite, com pouca iluminação, ele não anda pela praça. ;Quando amanhece, a gente só escuta falar de tiro, briga e assalto relâmpago. O policiamento é escasso. Tinha que passar uma patrulha por aqui ou retornar com a dupla Cosme e Damião;, opina.

Subcomandante do 2; Batalhão da PM (Taguatinga), o capitão Fagner de Oliveira Dias reforça os índices criminais na região é considerado baixo. ;Tivemos 20 ocorrências na CNF e na QNF, de um total de 1.886 em toda região de Taguatinga. O único crime que teve um leve aumento foi de roubo de veículos. Vamos articular uma operação contra esse tipo de crime;, garante.

Uma das reclamações recorrentes entre moradores e comerciantes é a retirada de um posto da Polícia Militar do local, ocorrida em 2016. Na avaliação do subcomandante, no entanto, a sensação de insegurança passa por outros aspectos. ;A sensação de segurança para as pessoas que conviviam com um posto policial pode ser até diferente, mas esse sentimento envolve outras áreas, como iluminação e limpeza;, explica.

Ele confirma que o atendimento policial da área é mantido conforme os resultados das manchas criminais. ;Fazemos a patrulha na região com viaturas, motos e homens do Grupamento Tático Operacional (Gtop);, detalha. Diz, ainda, que à época da idealização dos postos policiais, imaginou-se um efetivo de 18 a 20 mil militares. ;Hoje, na última contagem, tínhamos menos de 11 mil. O posto se revelou ineficiente.;

Por e-mail, a Administração de Taguatinga informou que a Praça da CNF consta no cronograma para ser revitalizada. Na ação, está programada a instalação de iluminação LED. Não detalhou, porém, qual a previsão para isso acontecer.

Movimento em baixa

Silvio Abadia, dono de hamburgueria, teve 19 televisores furtados
Matheus Ribeiro, 38 anos, avalia que a sensação de insegurança acaba diminuindo o movimento na praça. Dono do Isso aqui é DF Cozinha Bar há dois anos, o empresário percebe brigas e pequenos furtos como as principais ocorrências após a retirada do posto policial. ;Quando tinha a estrutura aqui, inibia um pouco a atividade criminosa. A falta de policiamento é o principal fator para a sensação de violência, porque essas pessoas se sentem mais corajosas. Esse tipo de problema sempre existiu, mas tem aumentado e acaba que o local vai ficando esquecido;, lamenta.

Três meses após a retirada do posto policial da Praça CNF, ladrões furtaram a hamburgueria de Silvio Abadia, 49 anos. Os suspeitos levaram 19 televisores e diversos equipamentos eletroeletrônicos. ;As câmeras mostraram que eles fizeram três viagens para colocar tudo no carro. Perdemos R$ 30 mil. Aqui, o comércio de droga é forte e acaba que uma coisa leva a outra. Antes, a presença da polícia intimidava. Hoje, a insegurança acabou. Fecho a loja por volta de 1h e todos os funcionários esperam para sair juntos, por medo.;

Nem o templo para celebração de cultos evangélicos escapa da violência. Por duas vezes, a igreja foi arrombada. Para evitar prejuízos, as pastoras da comunidade investiram em grades de ferro. A estrutura custou R$ 1,8 mil. Até o fim do ano, elas planejam instalar câmeras de segurança. ;Tem assalto, briga de jovem, tiroteio à noite. Há meses retiraram as quatro rodas de um dos carros. Falta segurança;, reclama uma das pastoras de 60 anos que, por medo, prefere não ser identificada.

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