Cidades

Projeto Ateliê Terapêutico prepara exposição em Taguatinga

Participantes do Centro de Atenção Psicossocial II de Taguatinga preparam exposição com trabalhos feitos por eles mesmos. A arte como forma de expressão de sentimentos e de se conectar com o mundo

Walder Galvão - Especial para o Correio
postado em 20/09/2018 06:00
Integrantes do projeto: iniciado há dois anos, o Ateliê Terapêutico terá obras expostas na Biblioteca Machado de Assis a partir do dia 27Quinze participantes do Centro de Atenção Psicossocial II (CAPS II), instituição que trata de pessoas com transtornos mentais em Taguatinga, encontraram na arte a melhor forma de expressão para seus anseios e tormentos, de quebrar barreiras de comunicação com o mundo. Para isso, expressam os sentimentos por meio de pinturas, desenhos e esculturas de argila.

O projeto, batizado de Ateliê Terapêutico, começou há dois anos, mas o reconhecimento do trabalho está por vir. No próximo dia 27, os artistas participarão da primeira exposição própria. Ela vai ocorrer na Biblioteca Pública Machado de Assis de Taguatinga e será aberta ao público. A notícia surpreendeu os integrantes do grupo e o sentimento de felicidade tomou de conta deles. Agora, a ansiedade se junta à alegria de ver os trabalhos conhecidos pela população e por familiares.

;Eu fiz um fogão a lenha de argila, porque morei em uma fazenda. Lembro-me de buscar a madeira no cerrado e me sentar próximo a ele, enquanto a comida era preparada, para me esquentar do frio;, conta Lucileide Batista, 52 anos. Por meio da escultura, ela simbolizou uma memória querida. Ela encara o trabalho como uma de suas obras preferidas e faz questão de exibi-lo a todos que vão conhecer o projeto.

A curiosidade fez com que Sandra Gomes da Silva, 52 anos, fizesse a escultura em argila de uma pizza vegetariana. ;Essa aqui é de verdura. O pai do meu filho trabalha em uma pizzaria e nunca tinha visto uma com berinjela, então decidi fazê-la assim. Coloquei até uma cenoura no meio;, relata. Ela ressalta que encontrou no artesanato uma forma de distração e acaba fazendo com que ele seja um exercício para a mente. ;A gente se esforça para pensar e escolher o que queremos fazer. Eu gosto muito de estar aqui;, afirma.

A terapeuta ocupacional à frente do projeto, Aline Canuto, explica que a produção possibilita um meio de expressão para os assistidos. ;Somos um grupo livre. Fazemos desde esculturas de argila até confecção de mandalas. Quem tiver desejo pode participar;, diz. Aline explica que todos os CAPS têm projetos próprios, mas o Ateliê Terapêutico é realizado apenas em Taguatinga.

De acordo com ela, a adesão das pessoas atendidas pelo CAPS é boa, porém ressalta que falta material para desenvolver as atividades. ;Nós aceitamos doações de materiais de pintura, pincéis, tintas, telas e argila. Quem quiser se voluntariar a trabalhar aqui também basta nos procurar;, informa. Para ela, a partir das obras, a história de vida dos artistas começa a ser contadas e isso ajuda com processos de socialização de convivência.

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Talento

Além do talento para pinturas e produção de esculturas, alguns membros do Ateliê Terapêutico têm afinidade com a escrita. Lucas Santiago, 24 anos, conta que sempre gostou de escrever e está com um livro de poesias a caminho de ser publicado. ;Após sofrer uma queda, fiquei oito meses internado no Hospital de Base e comecei a escrever. Lá, fazia mais textos e pensava em me profissionalizar nisso;, conta. O jovem relata que uma editora brasiliense independente está com a obra dele e que em breve entrará em fase de confecção.

Lucas ressalta que o atendimento no CAPS é positivo e que, ao chegar ao local encontrou pessoas com quem conseguiu se identificar. ;Eu sou um dos mais novos daqui, mas os grupos ajudam a ver que não é só você que está passando por problemas. Isso ajuda muito a colocar as coisas para fora;, destaca.

Na exposição do dia 27, Lucas vai ler uma poesia. ;Eu nunca recitei. Vamos ver como vai ser lá na hora;, se diverte. Ele relata que gosta de escrever contos, mas gosta mesmo é de poesias. ;Escrevo sobre esperança. Gosto de falar que virão dias melhores e de que a gente não precisa ficar triste;, reforça. Além do objetivo de se tornar um grande escritor, o jovem almeja voltar ao ensino superior. ;Comecei a cursar filosofia na Universidade de Brasília (UnB), mas saí de lá. Agora, estou em dúvida sobre se vou para comunicação ou se faço letras;, diz.

Junto a Lucas, Reginaldo Santos de Andrade, 43, também é apaixonado pela escrita. A diferença é que ele compõe canções. ;Gosto muito de sertanejo, mas não de cantar, aí eu só escrevo as músicas;, comenta. Ele conta que começou no projeto há dois meses e que gosta de participar das atividades. Reginaldo não esconde a ansiedade com a exposição. Entre os trabalhos realizados por ele, estão as mandalas e colagens. ;Nos trabalhos, eu uso as cores do meu time santista, preto e branco. Outra coisa que gosto de fazer é pintar quadros;, confessa.

Saiba como ajudar

; O Centro de Atenção Psicossocial II (CAPS II) de Taguatinga é um plano terapêutico que dispõe de psicólogos, psiquiatras, enfermeiros, assistentes sociais e terapeutas ocupacionais. Eles funcionam de segunda a sexta-feira, das 7h às 18h. Quem precisar dos atendimentos, basta se dirigir à unidade, localizada na QNA 39. Os interessados em ajudar, podem entrar em contato com a unidade pelo telefone (61) 99137-8006. Eles precisam de doações e pessoas interessadas em ajudar e fazer trabalho voluntário.

Exposição

; A exposição do Ateliê Terapêutico ocorre em 27 de setembro, às 17h, na Biblioteca Pública Machado de Assis de Taguatinga, localizada no setor central da Região Administrativa. O evento será aberto ao público.

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