Alan Rios
postado em 25/09/2018 10:45
Dez anos depois, um crime de trânsito que marcou o Distrito Federal segue impune. No dia 27 de abril de 2008, Igor de Rezende Borges bebeu, dirigiu e causou um acidente na DF-001 que deixou cinco mortos e dois feridos, segundo denúncia do Ministério Público. O motorista, de 25 anos na época, conduzia um Peugeot a quase 100km/h, sob efeito de álcool e realizava manobras perigosas, como invadir a contramão numa prática conhecida como roleta-russa: conduzir na contramão até tirar da estrada o veículo que trafega no sentido contrário. A prática terminou em tragédia após Igor bater de frente com um Vectra, matando quatro pessoas do carro atingido e um passageiro que estava com ele. A audiência estava marcada para a manhã desta terça-feira (25/9), no Fórum de Águas Claras, mas foi cancelada.
No processo, em andamento no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), há a informação de que essa sessão de hoje tinha sido marcada em 14 de junho. Porém, às 19h51 da última segunda-feira (24/9), o julgamento foi cancelado. Segundo o Tribunal, isso ocorreu pois a defesa de Igor entrou com parecer técnico de um perito particular, então, o Ministério Público analisou os documentos e reconheceu que não teria tempo hábil para analisar, adiando a audiência para uma data ainda não marcada. A família de Ingridh Martins, uma das vítimas do acidente, chegou a ir até o fórum para acompanhar a sessão, mas foi pega de surpresa com a notícia do cancelamento.
O acusado está em liberdade por ter pagado fiança no dia do crime, e Ribamar Martins, primo da garota, questionou a falta de solução para o caso: "Como é possível uma pessoa ser acusada de crime doloso, com cinco vítimas, e pagar fiança e ser liberada? Será que o advogado do acusado é gente grande? Porque estão fazendo de tudo para adiarem esse julgamento. São dez anos sem respostas".
Ingridh teve traumatismo craniano e fratura na região pélvica. Ela chegou a ser internada na UTI do Hospital de Base no dia da colisão, mas não resistiu aos ferimentos. Segundo consta no processo, Igor de Rezende admitiu a ingestão de vodca antes de dirigir. Uma garrafa vazia da bebida foi encontrada no local do acidente. No Instituto de Medicina Legal (IML), o teste de alcoolemia também apontou resultado positivo para alcoolemia.
Na denúncia do Ministério Público, consta que o acusado dirigia na contramão "em busca de aventura", segundo depoimento. "Isso deixa toda nossa família muito indignada e mostra que a vida não é levada em consideração. A Ingridh tinha 17 anos e foi vítima desse monstro. Ela perdeu sua vida, deixando marcas de muita dor", indagou Ribamar.
Posicionamento do TJDFT
Os pedidos de recursos da defesa são alguns dos motivos para a demora no julgamento, segundo informou a Assessoria de Comunicação Social do TJDFT. "O réu foi pronunciado, houve recurso, a sentença de pronúncia foi parcialmente modificada pelos desembargadores e voltou para a 1; instância para o prosseguimento do processo. Com a criação do Fórum de Águas Claras, surgiu conflito de competência para decidir em qual vara o processo continuaria correndo (Taguatinga ou Águas Claras). Conforme decisão da 2; instância, em 2017, o processo passou a correr em Águas Claras."
Defesa do acusado
O advogado de defesa de Igor, Pedro Maurino Calmon Mendes, conversou com o Correio sobre o caso. Segundo ele, as acusações de que o motorista do Peugeot dirigia embriagado não procedem: "A culpa toda foi do motorista do Vectra, que dirigia com maior teor de álcool e não tinha esse exame no processo. O laudo oficial colocou meu cliente como se ele tivesse dirigindo embriagado, mas tenho um laudo que não detectou nem indício de álcool. Já as passageiras desse outro veículo, o Vectra, estavam drogadas com cocaína, todas elas, e eu juntei tudo isso".
Além desse argumento, Pedro também coloca que Igor não dirigiu na contramão, como apontado na perícia da polícia. "Pedi que um perito particular verificasse a batida do carro e ele viu que quem colidiu foi o Vectra, dirigido por uma pessoa completamente louca ao volante. Não houve uma colisão frontal dos veículos, porque o meu cliente andava na sua via, como apontou esse laudo entregue para o promotor." O Ministério Público agora analisa esses documentos entregues para marcar uma nova data da audiência.