Alexandre de Paula, Pedro Grigori - Especial para o Correio, Ana Viriato
postado em 03/10/2018 06:00
Com a função de, se eleito, substituir o chefe do Palácio do Buriti em casos de ausência ou auxiliá-lo em missões especiais, os 11 candidatos à vice-governadoria apresentam perfis antagônicos. Pastor, professor, agricultor familiar, engenheiro, médico, empresário, assistente social: as profissões distinguem-se entre os currículos dos concorrentes. Quatro deles são estreantes, enquanto sete buscam o apoio do eleitorado nas urnas mais uma vez.
A Lei Orgânica do DF não detalha as funções do vice-governador, que recebe, ao mês, R$ 20,7 mil, além de benefícios. Dessa forma, a atuação varia conforme o perfil do número dois do Palácio do Buriti. Antes de romper com Rodrigo Rollemberg (PSB), Renato Santana (PSD) participou da gestão de administrações regionais. No governo anterior, encabeçado por Agnelo Queiroz (PT), Tadeu Filippelli (MDB) comandou o setor de obras do Executivo local.
Os candidatos responderam às seguintes perguntas:
1. Por que pretende ser vice-governador do DF?
2. De que forma seu histórico profissional/político pode agregar valores à eventual gestão? Qual será sua atuação dentro do governo?
3. Há vários casos recentes de vices que romperam com os cabeças de chapa depois de eleitos. Por que a população pode acreditar que isso não acontecerá no seu caso?
4. Considera necessária uma reforma administrativa? Caso assuma a vice-governadoria, quais pastas incentivará o chefe do Buriti a criar ou a extinguir?
5. Um vice-governador dispõe de diversos benefícios, como residência e carro oficiais e staff. Pode, ainda, repassar ao Estado contas com alimentação e despesas telefônicas, por exemplo. Caso chegue ao cargo, pretende abrir mão de algum destes privilégios?
Alexandre Bispo (PR)
Produtor rural e economista, o vice de Alberto Fraga (DEM) tem 44 anos. Foi diretor da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) e administrador regional de Água Quente e Engenho das Lajes. É filho de Salvador Bispo, presidente licenciado do PR.
1. Não é um projeto pessoal, a indicação partiu do PR, em especial de Jofran Frejat. Brasília merece mais do que teve nos últimos nove anos. Podemos trazer melhores condições de vida para o povo. Sou daqui, conheço o DF, estou preparado para ajudar o Fraga a servir o povo.
2. Economista, fui executivo de multinacionais, atuei no serviço público como diretor da Novacap, administrador de Água Quente e de Engenho das Lajes. Hoje, sou presidente do PR. Serei um facilitador no governo para trazer qualidade aos serviços públicos.
3. Faço uma campanha diferente, nas ruas. Falo com as pessoas e elas têm o direito de me cobrar. Rompimento ocorre quando a população não é prioridade. O vice representa aqueles que nele acreditaram. Acredito na combinação entre experiência e juventude.
4. O GDF precisa ser enxuto e efetivo, delegar e fortalecer as unidades administrativas para estar próximo e atender melhor o cidadão, atrair investimentos e gerar empregos. É necessário reconstruir nossos sistemas de saúde, de segurança e de educação.
5. Prego efetividade e eficácia sem demagogia. Serei um exemplo de austeridade. Continuarei na minha residência própria. Da oficial, abrirei para a população com o Projeto: ;Fale com o Vice-Governador; ; um canal de articulação do povo com o governo.
Alírio Neto (PTB)
Delegado aposentado da Polícia Civil, o vice de Eliana Pedrosa (Pros) tem 59 anos. Foi administrador do Guará entre 1995 e 1997 e eleito deputado distrital em três mandatos. Preside o PTB-DF.
1. Foi uma decisão tomada com a minha família pela situação que Brasília se encontra, pelo péssimo atendimento na saúde pública, especificamente para pessoas com deficiência. Queremos um serviço público de qualidade, com meritocracia, como eu fiz na minha gestão do Na Hora, que obteve 98% de aprovação.
2. Em políticas públicas, eu e Eliana temos um acordo de uma cogestão. Atuarei no projeto que prevê 6 mil presos trabalhando e estudando até o fim do nosso governo, na implementação da meritocracia em todo o DF, no enfrentamento às drogas e na reativação do Pró-Vítima.
3. Eu e Eliana somos dois políticos maduros, que convivemos como deputados distritais e como secretários. Nossa unidade é sólida e trabalhamos um projeto político definido com o conceito de um novo governo que tem como objetivo a prestação de serviço de qualidade.
4. Existe um excesso de pastas. Sem dúvida nenhuma, faremos uma reforma administrativa. Mas seria uma presunção falar sobre isso agora. Durante o governo de transição, apresentaremos nossa proposta de reforma administrativa para a governadora.
Cláudia Farinha (PT)
Agricultora familiar e formada em direito, Cláudia é vice de Júlio Miragaya (PT) e tem 43 anos. Foi dirigente sindical, gerente de área na Secretaria de Agricultura do DF e assessorou o distrital Chico Vigilante. Nunca disputou cargo eletivo.
1. Para combater a grande desigualdade que existe no DF. Os governantes precisam cuidar mais da população que, historicamente, mais sofre no DF. E o PT sabe fazer isso.
2. Aos 43 anos de idade, carrego uma história marcada por muitas experiências. Sou agricultora familiar, graduada em direito, fui dirigente sindical rural por vários anos, atuei no Legislativo e no Executivo. Atuarei na construção de políticas para as mulheres e para os agricultores, principalmente.
3. Primeiro, porque eu e Miragaya somos do mesmo partido, defendemos o mesmo programa e representamos os mesmos setores da sociedade. Segundo, eu não sou golpista e política se faz com diplomacia e respeito. Para nós, do PT, os interesses do povo estão acima dos interesses individuais.
4. Defendo uma reforma administrativa que esteja a serviço das prioridades da população. Precisamos recriar a Secretaria da Mulher. Precisamos também implantar o programa de combate ao extermínio da juventude negra, criando a Secretaria de Igualdade Racial.
5. Abrirei mão de todo e qualquer privilégio. Utilizarei apenas os meios indispensáveis ao bom exercício do cargo. Pretendo continuar na minha morada, no Projeto de Assentamento Santarém, em Ceilândia. Tomarei apenas as precauções necessárias à minha segurança.
Eduardo Brandão (PV)
Engenheiro civil formado pela Universidade de Brasília (UnB), o vice de Rodrigo Rollemberg (PSB) é vice-presidente nacional do PV. Tem 58 anos e foi secretário do meio ambiente do Distrito Federal.
1. Meu pai veio para Brasília para a construção da Barragem do Paranoá. Aqui cresci, estudei, tenho meus filhos e netos. JK provou que somos um povo capaz e trabalhador. Hoje, Rollemberg provou que é possível governar sem corrupção. Quero fazer a minha parte.
2. As pessoas têm dito que eu cheguei na melhor hora. Com as finanças arrumadas, teremos um novo tempo de investimentos e crescimento. Penso que poderei ajudar, com meu perfil conciliador e de articulação política. Como engenheiro civil, gosto do fazer.
3. Eu e Rodrigo somos amigos desde a juventude. Ele foi deputado distrital, federal, senador e governador; sempre honrou cada mandato. Nossa aliança não é eleitoreira, teremos uma parceria complementar para continuar a servir as pessoas de Brasília.
4. Estou convicto de que, no próximo governo, deveremos fortalecer as administrações regionais. É necessário trabalhar próximo das pessoas, dar condições para que rapidamente o administrador consiga resolver os problemas do dia a dia do cidadão.
5. Tenho uma vida simples, assim como Rodrigo. Meu prazer é estar com minha família. Não me envaideço com cargos ou mordomias. Sendo vice-governador, usarei estritamente o necessário para o bom desempenho das minhas funções. Quero servir, não ser servido.
Eduardo Zanata (PSTU)
Eduardo Zanata, 33 anos, é professor da rede pública do Distrito Federal, assim como o cabeça da chapa, Antônio Guillen. É formado em letras pela Universidade de Brasília e assessora movimentos sociais de esquerda. Nunca disputou um cargo eletivo.
1. Porque é preciso oferecer uma alternativa socialista à classe trabalhadora do DF, que lute para acabar com esse regime político podre, que só serve aos grandes empresários. O PSTU convoca os trabalhadores e trabalhadoras a se rebelarem.
2. Nosso partido, há muitos anos, se dedica a organizar a classe trabalhadora para lutar pelos seus direitos. A experiência das lutas sociais quero colocar a serviço da construção de uma rebelião nesse país, que possa derrubar o sistema capitalista.
3. O PSTU é muito diferente dos outros partidos. Nossa proposta é garantir que a classe trabalhadora governe por meio de conselhos populares. Não nos importa os cargos. Queremos que os trabalhadores decidam diretamente todos as ações do GDF.
4. Defendo uma revolução administrativa. As secretarias, direções das estatais e chefias devem ser eleitas pelos servidores públicos. Os sindicatos e movimentos sociais fiscalizarão a atuação dos eleitos. A população vai definir democraticamente quais devem existir.
5. Vou abrir mão de todos os privilégios e lutar para acabar com todos os dos políticos do DF. Abrirei mão de receber o salário de vice e continuarei vivendo com minha renda atual de quatro salários mínimos. Viverei na mesma casa e meus filhos vão continuar na escola pública.
Erickson Blun (Novo)
Candidato a vice de Alexandre Guerra (Novo), Blun, 52 anos, é cirurgião e especialista em gestão da saúde. Foi professor universitário e tem pós-graduação em gestão nas universidades americanas de Harvard e Columbia e na francesa Insead. Nunca disputou um cargo eletivo.
1. Com a experiência que temos na área de gestão, nós vamos implantar, junto ao nosso governador Alexandre Guerra, o melhor plano de governo que essa cidade já viu. Um plano de governo completo, que conta com o envolvimento dos melhores especialistas.
2. Eu não sou político, sou um gestor e executor e tento implantar as coisas da melhor forma possível. Estudei gestão avançada e de liderança nas melhores escolas do mundo, além da área da saúde.
3. Isso acontece porque o vice é convidado para compor a chapa sem existir nenhuma semelhança de ideias ou de valores pessoais. O Novo não tem esse tipo de negociação. Minha relação com o Alexandre Guerra é de extremo respeito e profissionalismo.
4. A reforma administrativa é fundamental e consta no nosso plano de governo. Queremos reduzir de 21 para 11 pastas de governo, ou seja, 11 secretarias. Acreditamos que o sistema do jeito que está não traz benefícios, só serve para onerar o contribuinte.
5. Com absoluta certeza, nós vamos abrir mão de alguns privilégios, como residências oficiais e carros. Somos totalmente a favor da redução de alguns privilégios. Colocamos isso nos 30 compromissos que protocolamos em cartório e no plano de governo.
Gilson Dobbin (PCO)
Funcionário público há mais de 32 anos, Dobbin é vice de Renan Rosa (PCO). Tem 54 anos, foi bancário e atualmente atua como assessor legislativo na Câmara dos Deputados. É militante do PCO desde o fim dos anos 1980.
1. Para denunciar a fraude eleitoral, lutar pela liberdade de Lula e ajudar a população a batalhar contra o golpe de Estado. A judicialização da política e militarização do STF são claros sintomas de que estamos em um estado de exceção.
2. Sou militante do partido há mais de 30 anos e, neste período, estive em diversas atividades políticas, eleitorais ou não. Entendo as teses do partido no que diz respeito às intervenções que fazemos desde então.
3. A estrutura de cogestão do Estado foi criada para dividir e controlar o poder e autoridade do Executivo, ou seja, conspirar é da natureza do cargo de vice. Por isso, o principal critério de escolha de candidaturas no PCO é a relação de confiança e capacidade militante.
4. O poder do Estado deve estar nas mãos da população trabalhadora e de suas principais representações. Todo o aparato estatal estará a serviço desta premissa. Nenhum recurso público será dado à área privada. Escolas, hospitais e transporte serão do Estado.
5. Privilégios que o Estado burguês dá aos donos de escola, hospitais particulares e à máfia dos transportes são maiores do que qualquer salário indireto que o agente público possa receber. O PCO, caso eleito, colocará à disposição da luta os recursos que tiver acesso.
Keka Bagno (PSol)
A vice de Fátima Sousa (PSol) é formada em Serviço Social pela UnB. Keka tem 30 anos, é ativista negra, feminista e milita em movimentos de proteção da criança e do adolescente. Entrou na política pelo movimento estudantil e é conselheira tutelar. Nunca disputou cargo eletivo.
1. Nós chamamos de cogovernadoria, compreendendo a importância de implementarmos uma gestão compartilhada e acabar com a ideia de que ;vice; é decorativo. Acreditamos que a minha trajetória profissional e política casam para exercer um mandato de diálogo entre as esferas de poder.
2. Faço parte de movimentos sociais como de mulheres, negritude e infância e adolescência. Além de acompanhar importantes movimentos como LGBTI, direito à moradia e outros que lutam por justiça social no DF.
3. Fátima e eu temos perfis complementares. Temos orgulho de estarmos juntas e confiamos em nós. Desde o início, construímos de forma horizontal cada momento da campanha. Faremos o nosso governo da mesma forma.
4. O primeiro e mais importante passo é dotar as áreas sociais de recursos humanos e financeiros para retomar um conjunto de ações necessárias para enfrentar a desigualdade social e a ausência de políticas públicas efetivas.
5. Tanto eu quanto Fátima não temos apego a muitas destas coisas. Moro numa kit, tenho um carro popular, mesmo com um salário bom. Nosso programa de governo prevê que as residências oficiais serão destinadas a atividades de assistência social.
Paco Britto (Avante)
Formado em gestão pública, o vice de Ibaneis Rocha (MDB), Paco Britto, 54 anos, é empresário do setor de construção e de assessoria tributária. Foi assessor especial do governo de Agnelo Queiroz (PT) e é presidente regional do Avante.
1. Eu tive um infarto e coloquei quatro pontes de safena; chegaram a me dizer que eu não sairia vivo da mesa de operações. Isso me faz acreditar que eu tenho muito o que fazer pela minha cidade e pela comunidade.
2. Eu acredito que sou um bom articulador político e posso ajudar na relação com os outros poderes. Vou assessorar o governador Ibaneis no que ele precisar.
3. No meu dicionário não existem as palavras traição e ingratidão. Eu acredito no projeto do governador Ibaneis e vou ajudar no que for possível.
4. Isso está sendo discutido. Mas a decisão é do governador Ibaneis. O importante é ter uma administração ágil, que sirva à população.
5. Não vou morar na residência oficial, continuarei na minha casa. Também não vou usar carro oficial. Teremos um governo sem mordomias, honesto e austero.
Egmar Tavares (PRB)
Pastor, o vice de Rogério Rosso (PSD), de 50 anos, entrou na política para auxiliar o trabalho das bancadas evangélicas. Foi candidato a federal e a distrital. É o atual vice-presidente da Convenção Nacional das Assembleias de Deus Madureira DF e Entorno.
1. A política está desacreditada e eu me coloquei à disposição. Não sou um político, sou pastor, cuido das pessoas. Quero cuidar das pessoas do DF, ajudar o meu próximo e somar.
2. Sou administrador de empresas e sempre fui bem-sucedido na minha vida profissional. Por isso, posso agregar na geração de emprego. Nós temos o sonho de criar a zona franca do Entorno, como a de Manaus, pois vejo que o mais difícil é emprego.
3. Nossa aliança é acima da política. Acredito muito na palavra do Rosso. O Rollemberg tinha um diamante na mão e não soube utilizar. O Renato Santana (atual vice-governador do DF) é um grande homem, foi vice e desprezado. Não tenho dúvidas de que o Rosso tem um diamante na mão e vai saber usar.
4. Existem cinco coisas importantes: geração de emprego, segurança, saúde, ação social e, acima de tudo, os jovens, olhar pela nossa juventude. A principal pasta que vou incentivar como vice-governador é a de geração de emprego.
5. A coisa mais terrível na vida do homem é a hipocrisia. Promete abrir mão de tudo, como o Ibaneis. Ele enricou às custas do GDF, com os processos do GDF. Então, é fácil abrir mão de salário quando você ganhou tanto do governo. Essa estrutura (os benefícios) será usada para cuidar das pessoas. Esse espaço não é para mim, é um espaço que será usado para a comunidade.