Jornal Correio Braziliense

Cidades

Praça na Vila Planalto reforça laços de amizade entre frequentadores

Amigos de longa data se reúnem em espaço comunitário para colocar a conversa em dia e também se exercitar

Quando o sol vai dando o adeus por volta das 17h... Quando o dia começa a se acalmar.... O movimento no Ponto de Encontro Comunitário (PEC), na entrada da Vila Planalto, aumenta. O espaço é uma das opções de atividade para os idosos da região. Ieda Coelho Bezerra, 77 anos, aposentada da Secretaria de Saúde, e Marco Antônio Leal da Silva, 51 anos, militar da reserva, gostam de colocar o papo em dia sentados em um dos bancos da praça. A senhora simpática e comunicativa contou que a praça virou um point onde amigos e vizinhos se encontram quase todos os dias. No local, eles fazem exercícios físicos e compartilham um pouco do cotidiano de suas vidas. Ouvem e são ouvidos.

Alguns dos vizinhos se conhecem há mais de 40 anos. ;A gente se reúne, faz uns exercícios, e também rola uma fofoca daqui e outra dali, ri. É sempre muito divertido. Venho aqui de três a quatro vezes na semana. Às vezes, eu tenho preguiça e não venho, mas aqui é ótimo para me movimentar e encontrar os amigos. Faço exercício nos aparelhos;, conta Ieda. Ela chegou, na Vila Planalto, na época da construção de Brasília. Morou primeiro na casa da irmã em Sobradinho. Em 1962, se mudou para a cidade para viver na casa de uma amiga, e não saiu mais da região.

Depois de tantos anos, caracteriza o local como uma cidade de idosos e aposentados. ;Antes, a gente se encontrava em uma praça que fica dentro da Vila, mas lá começou a ser frequentado por moradores de rua. Depois que a PEC foi construída, passamos a nos reunir aqui. A Vila virou uma cidade de idosos. Temos até uma casa para esse perfil de pessoas, a Associação Renascer dos Pioneiros Vila Planalto. Eu já fui até a presidente;, conta a moradora que é popular entre os habitantes da cidade.



No grupo de amigos de Ieda, muitos deles fizeram parte da construção e estruturação da Vila Planalto e da própria capital. Alguns deles foram líderes comunitários e lutaram pela construção de locais, como o PEC e outros pontos de encontro da região.

Frequentador ativo do PEC, o aposentado Geraldo Alves Torres, de 69 anos, nascido em Mariana (MG), distante 116km de Belo Horizonte, veio para Brasília em 1969. Ele morou primeiro na quadra 315 Sul e em 1976 mudou-se para a Vila Planalto. A prática de exercícios físicos e os momentos de descontração com os vizinhos de longa data são rotina na vida do mineiro.

Além de se exercitar, ele também ajuda na manutenção dos aparelhos. ;Fui um dos que lutou por essa praça. É muito bom aqui, não precisa mais que isso não. Eu até ajudo a preservar os equipamentos, mesmo sendo usuário eu aperto os parafusos sempre;, destaca.

A aposentada Maria de Lourdes Carvalho, 68 anos, costuma ir ao ponto de encontro pela manhã e à tarde. Às vezes, vai acompanhada das duas filhas. ;Depois do meu problema no joelho, não consigo ir muito longe, mas, como a praça é aqui do lado de casa, é um ótimo lugar pra eu sair. Daí, eu chego aqui e encontro o pessoal e é essa festa que você está vendo. Acho apenas que tinha que criar pelo menos um parquinho ou uma quadra de esportes aqui para as crianças,; destaca.


O que diz a especialista

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) são considerados idosos pessoas acima dos 60 anos de idade. Segundo a geriatra Priscilla Mussi, as atividades em grupo são fundamentais para a qualidade de vida deles. ;Eles têm dificuldade em fazer novos amigos e quando há a socialização é muito bom para eles poderem conversar sobre os mesmos assuntos, por terem a mesma cultura;, explica. Os benefícios da conveniência englobam pontos positivos tanto para a saúde física quanto para a mental. ;Quando eles conversam com outros idosos, conseguem desfocar dos problemas e diminui o risco de demência. Os encontros em praças também são bons para aumentar a vitamina D do corpo;, destaca.

Como colaborar

A Associação Renascer dos Pioneiros da Vila Planalto recebe doações para o bazar, que é a única fonte de renda para o local. Para a biblioteca, livros podem ser entregues nos supermercados Armazém do Geraldo e no MM, todos na Vila Planalto.

Cantinho dos idosos

Na Associação Renascer dos Pioneiros da Vila Planalto, que tem mais de 30 anos, os idosos se beneficiam de atividades coletivas e gratuitas oferecidas por voluntários, como aulas de canto, artesanato, costura, atendimento psicológico e biblioteca. O local de encontro da terceira idade proporciona ocupação e momentos de distração.

A produtora cultural Taiana Martins, 30 anos, colabora no coral da Associação desde março de 2016. Ela explica que, no começo, a aula era um único encontro por semana. ;A adesão da comunidade foi tamanha, que a gente teve de passar para duas vezes. Toda terça e quinta-feira, das 17h30 às 18h30;, explica.

;Eu sinto emoção, porque eu aprendo muito, em todas as aulas, sobre tudo a maioria das participantes do coral são mulheres idosas pioneiras da construção de Brasília. Então, elas têm muitas histórias para contar;, destaca a voluntária.

O conjunto é formado por 16 pessoas e se apresentou em igrejas, escolas e praças do Distrito Federal. O projeto conta com patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) até junho de 2019. De acordo com as participantes, nas quartas-feiras pela manhã ocorrem atendimentos relacionados à saúde oferecidos por uma homeopata e psicóloga.

Voluntária na associação, a administradora Rosangela Queiroz, 64 anos, destaca o companheirismo das frequentadoras do local. ;Dar e receber é o que me motiva, porque as pessoas se alegram em estar juntas, na convivência. E essa convivência é importante para fortalecer umas as outras. Isso é saúde;, observa.

Francisca Ferreira Araújo, 74 anos, dona de casa, foi presidente durante quatro anos da associação. Ela e Maria de Lourdes Ferreira são algumas das participantes do coral. Maria começou a participar dos projetos por conta do bazar, uma das formas de arrecadação da iniciativa. ;Vim pra cá pra comprar no bazar, daí, fiquei sabendo das atividades e comecei a participar,; conta a senhora de 64 anos.
*Estagiárias sob supervisão de José Carlos Vieira