Cidades

Toninho do Pó usava parentes como laranjas na compra de imóveis no DF

Apontado como chefe de organização criminosa que atuava em cinco estados e no DF, Toninho do Pó foi preso em operação na quarta-feira (10/10)

Marcus Lacerda - Especial para o Correio
postado em 11/10/2018 19:46
Apontado como chefe de organização criminosa que atuava em cinco estados e no DF, Toninho do Pó foi preso em operação na quarta-feira (10/10)O esquema criminoso desarticulado pela polícia na quarta-feira (10/10) tinha atividade diversificada e, para dificultar o rastreamento, não usava dinheiro. Os criminosos apenas trocavam mercadorias. A organização criminosa era chefiada por Antônio Cesar Campanaro, conhecido como Toninho do Pó, , em ação das polícias civis de cinco estados, com apoio da Força Aérea, da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária.
Preso em 2008 por tráfico de entorpecentes, com 20kg de cocaína, Toninho do Pó foi condenado e ficou pouco mais de um ano e seis meses atrás das grades. Quase 10 anos depois de sair da prisão, o chefe do bando constituiu um patrimônio vultoso em imóveis e carros adquiridos na base de troca por produtos do crime. A própria atividade do bando era também na base do escambo. ;Eles não pegavam em dinheiro. E isso era feito de modo a dificultar a investigação;, afirma Fernando César, delegado à frente da Coordenação Especial de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e aos Crimes Contra a Administração Pública (Cecor), da Polícia Civil do DF.
Trocando mercadorias roubadas por drogas e repassando outras a redes de receptadores, Toninho do Pó montou um esquema criminoso nacional com abrangência em três regiões e quatro núcleos de integrantes. ;São pessoas com extenso histórico criminal e com diversas atuações;, explica Ricardo Uchôa, delegado responsável pela ação. Os núcleos atuavam nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste.

No Sul, o grupo agia na região de Foz do Iguaçu e de lá estabelecia contatos no Paraguai, dentre eles um receptador chamado Mohamed, que teve seus seis depósitos investigados na ação. ;Ele levava a mercadoria roubada para o Paraguai e vendia no mercado de lá;, explica Uchôa. Apesar da conexão com o país vizinho, a investigação não confirmou se eles também tinham uma rota própria de entorpecentes vinda de lá. ;É possível, mas não tivemos essa confirmação;, ressalta Adriano Valente, delegado na Divisão de Repressão ao Crime Organizado (Deco).

Em São Paulo, o grupo realizava os roubos sem maiores predileções por alvos. ;Eles agiam de acordo com a facilidade e o alto valor das mercadorias;, explica delegado Fernando. Os roubos eram feitos a partir do aliciamento de caminhoneiros, que forjavam ocorrências em delegacias do estado. Com as mercadorias em mãos, os criminosos adulteravam os chassis dos caminhões e rodavam com notas fiscais frias para burlarem fiscalizações.

Ainda de acordo com o delegado Fernando, muitos dos comparsas da quadrilha montavam comércios em regiões mais afastadas de cidades para dar vazão às cargas roubadas. ;Eles pegavam uma carga de roupas, por exemplo, abriam uma loja de roupa e colocavam a mercadoria lá. Depois, pegavam uma carga de tubos e conexões. Abriam uma outra loja de tubos e conexões e faziam a mesma coisa;, afirma o delegado Fernando. Dois desses estabelecimentos, lojas de roupa em Joinville, foram alvos de mandado de busca.

Na região Nordeste, o grupo de Campanaro se ocupava predominantemente do tráfico de drogas. Em Pernambuco, na região do Polígono da Maconha, eles trocavam as mercadorias roubadas e carros por droga. Em Morro de São Paulo, balneário baiano onde Toninho do Pó foi preso e tinha uma pousada, a quadrilha lavava dinheiro e vendia entorpecentes.

DF no mapa da quadrilha


No Distrito Federal e no Entorno, os criminosos traficavam drogas e agiam na distribuição das mercadorias roubadas entre receptadores em diversos pontos. Numa fazenda em Cristalina, que foi alvo da Operação Torre de Babel, a polícia achou uma grande quantidade de droga para distribuição e R$ 76 mil escondidos em um fundo falso de uma caminhonete.

A família de Antônio César participava do esquema ativamente. O filho de Toninho, Victor Campanaro, atuava no tráfico de drogas da região do Areal, Taguatinga e Águas Claras. ;A esposa Ana Lúcia tinha até poder de comando;, aponta Fernando. Ambos foram presos na operação, bem como uma filha e uma enteada de Antônio Campanaro, que também traficavam drogas.

Além disso, Campanaro comprou propriedades na região para transformar os ganhos do crime em patrimônio. ;Ele comprava esses imóveis em nomes de terceiros, a maioria parentes. Já estamos fazendo uma investigação junto a cartórios e ofícios;, complementa o delegado Adriano Valente.


Integração entre polícias e com MP e Justiça


A Operação Torre de Babel envolveu ação integrada entre as polícias civis de Pernambuco, Bahia, Goiás, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul, que deu conta de 48 mandados de prisão e 72 mandados de busca nesses estados, bem como no DF e Entorno. No Distrito Federal, foram 18 pessoas presas. No Entorno, houve prisões em Luzíânia (2 pessoas), Novo Gama (1) e Cristalina (1), sendo três delas em flagrantes com armas e munição.

Nas demais unidade da Federação, a Polícia Civil fizeram apreensões em Santa Catarina (17), Mato Grosso do Sul (4), Bahia (3), Pernambuco (3) e São Paulo (2). Outras duas pessoas ainda devem ser presas nos próximos dias. De acordo com Uchôa, a operação que durou nove meses começou com uma denúncia anônima, que apontava Antônio Cesar Campanaro como responsável por roubos e furtos a banco na Bahia. ;Essa tese não foi confirmada em nossa investigação;, o delegado ressalta.

;Foram cerca de 50 delegados, 210 agentes e 58 viaturas da Polícia Civil envolvidos nessa operação. Praticamente toda a Polícia Civil do DF colaborou de alguma forma nesse resultado;, destaca Adriano Valente. A investigação e a Operação Torre de Babel foram realizadas sob a responsabilidade da Coordenação Especial de Repressão à Corrupção, ao Crime Organizado e aos Crimes contra a Administração Pública e contra a Ordem Tributária da Polícia Civil do Distrito Federal (Cecor), com o apoio do Ministério da Segurança Pública e do Judiciário do DF.

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