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Favela próximo à Feira do Guará vira ponto de venda de drogas

Local próximo à tradicional feira da cidade e também perto do fórum é dominado por traficantes. Moradores da região reclamam do aumento da criminalidade

Isa Stacciarini
postado em 18/10/2018 06:00
Comerciantes pedem mais policiamento na Feira do Guará devido a ação de marginais na favela próxima

Uma invasão no Guará que se tornou ponto de tráfico, consumo de crack e outras drogas é vizinha a prédios do poder Executivo e Judiciário instalados na cidade. A área, conhecida popularmente como Favela Biqueira, fica a aproximadamente 300 metros do Fórum do Guará, a quase 500 metros da administração regional e atrás do Ginásio do Cave. Antes, servia como moradia de carroceiros. Mas, há cinco anos, um traficante identificado pela Polícia Civil tomou conta do espaço. Como chefe do bando, levou consigo seus ;soldados;. Na boca de fumo, sabe-se que circulam até armas de fogo.

O chefe do esquema não mora no endereço. Ele vai até o local, cobra as dívidas, ordena as funções e exige favores. ;Os usuários vêm aqui, pedem alimentos, roupas, dinheiro. Mas tudo isso funciona como uma moeda de troca para sustento do vício;, conta um homem de 52 anos .

Por medo, ninguém revela o nome. Mas todos que frequentam o espaço relatam insegurança. Contam que pessoas maltrapilhas descem a pé para a favela em busca do vício, assim como pessoas de classe média. ;Semana passada parou uma Mercedes-Benz aqui. Desceram dois rapazes e caminharam até lá. Após um tempo, voltaram e foram embora;, conta uma comerciante de 43 anos.

O marido dela diz que quase diariamente usuários de droga tentam trocar dinheiro no quiosque. ;Eles vêm com moeda e pedem a nota. Até que um dia ficamos sabendo o motivo. O traficante não aceita pagamento em moedas;, explica ele, de 46 anos.

Para evitar confrontos, moradores e trabalhadores adotam a política da boa convivência. ;Eles passam, pedem comida, dinheiro. A gente até cumprimenta e acena, para não criarem caso. Foi a forma que encontramos para não passar sufoco nem virar alvo;, conta um homem de 39 anos. Ele relata furtos em veículos. ;Mesmo com a gente aqui, eles abrem os carros, pegam o que têm e, depois, passam com os objetos na mão para vender aqui mesmo. Oferecem de tudo. De abridor de garrafa a maços de cigarro e som;, explica.

Investigadores confirmam o movimento e garantem que monitoram a área. Segundo agentes, durante o dia, os moradores da invasão circulam na região em busca de dinheiro e praticam pequenos furtos e roubos. ;É grande a movimentação de gente chegando, comprando droga e indo embora. Muitos dos usuários pernoitam ali mesmo;, explica uma policial da 11;Delegacia de Polícia (Núcleo Bandeirante) que há cinco meses investiga um homicídio em que o autor do assassinato seria frequentador da favela.Em parceria com equipes da 4; DP (Guará), ela entrou na invasão durante os meses de investigação. Também disse que recentemente houve um homicídio na porta do Cave, além de um traficante preso na região. ;O que prevalece naquela área é o tráfico;, explica.

Furto na feira

Administrador da Feira do Guará há seis anos, Cristiano Jales disse que notificou a existência da invasão na região próxima e o efeito dela no comércio para a Administração Regional e a Secretaria de Estado do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos. ;O problema ficou maior há um ano, quando começaram os pequenos furtos. Os feirantes suspeitam que as pessoas sejam moradoras da invasão, porque são cidadãos que todos os dias estão no local pedindo dinheiro. A gente tenta coibir com a equipe de apoio, mas a feira é um espaço público;, ressaltou.

Autônoma há 20 anos no centro comercial, uma mulher teve o box de alimentação furtado há um mês e meio. Ela estava fora e a irmã tinha assumido o dia de trabalho no local. Por volta das 19h, um jovem pediu água e comida. ;Logo depois, anunciou um assalto. Levou a bolsa com o celular de R$ 1,3 mil que tinha comprado à prestação, além dos documentos. Na delegacia, os policiais disseram que era morador da invasão;, conta.

A mulher reforça que os usuários de droga transitam entre as casas e o estacionamento de um supermercado próximo. ;Às vezes, quando estou na rua de casa até me escondo quando vejo um deles, porque são as mesmas pessoas da invasão. No dia do assalto, o ladrão disse que estava armado, mas não mostrou nada;, lamenta.

A vizinha de box, que trabalha na feira desde 2002, diz que a sensação de insegurança aumentou após os usuários de droga apareceram no local. Ela lembra que, para minimizar os riscos, os autônomos podaram as árvores e melhoraram a iluminação. ;Aqui é um avisando o outro quando passa alguém suspeito;, reforça.

Moradora da região, Shirley Charão, 61, diz que ao menos duas vezes por semana as mesmas pessoas batem no portão dela para pedir alimento, roupas e cobertores. ;É sempre o mesmo horário, quando escurece, por volta das 19h. Quando estou sozinha, olho de longe, mas não abro por medo;, conta. Ela também diz ser comum briga e discussão entre eles.

Operações

A Agefis confirmou que a invasão no local é de moradores de rua. Esse ano, eles foram retirados duas vezes, segundo a agência. Hoje vai enviar uma equipe ao local para realizar vistoria e, caso seja verificado que a área foi ocupada novamente, fará uma operação de apreensão dos materiais. A Polícia Militar informou que o Grupo Tático Operacional do 4; Batalhão realiza sistematicamente abordagens no lugar conhecido como Favela Biqueira. ;A PMDF vem trabalhando para coibir os crimes na região e aumentar a sensação de segurança dos moradores e comerciantes locais;, garante, em nota.

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