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Na reta final para o 2º turno, candidatos investem no ataque como campanha

Os candidatos ao Buriti Ibaneis Rocha e Rodrigo Rollemberg usam debates e programas eleitorais para explorar supostas falhas do adversário

Ana Viriato
postado em 19/10/2018 06:00
O advogado Ibaneis Rocha e o governador Rodrigo Rollemberg: frente a frente no último debate promovido pelo Correio e pela TV Brasília
Na reta final da corrida pelo Palácio do Buriti, debates e programas eleitorais, espaços democráticos destinados à apresentação de projetos, acirraram o duelo entre Ibaneis Rocha (MDB) e Rodrigo Rollemberg (PSB). A pouco mais de uma semana para a votação, os dois candidatos precisam reafirmar uma identidade para seduzir o eleitor. Dada a polarização, quem perder o duelo de 28 de outubro deve liderar o movimento de oposição ao adversário nos próximos quatro anos.

Enquanto o governador Rollemberg ressalta a ligação de Ibaneis com caciques políticos com problemas na Justiça, a exemplo de Tadeu Filippelli (MDB), e no suposto abuso de poder econômico, o advogado embasa o discurso em críticas à atual gestão e na ligação do governador com o PT, partido com o qual o socialista caminhou até meados de 2012, à época em que ocupava uma cadeira no Senado e se preparava para embarcar na disputa de 2014 pelo GDF.

Os temas abordados pelos concorrentes também repetem-se debate a debate. O confronto direto promovido pelo Correio e pela TV Brasília no início da campanha do segundo turno, no último dia 11, deu o tom da reta final. Naquele dia, Ibaneis criticou o novo formato de gestão do Hospital de Base, alegou que, como senador, Rollemberg precisaria ter fiscalizado o superfaturamento do Estádio Nacional Mané Garrincha e afirmou que o oponente praticou socialismo invertido ao desobstruir a Orla do Lago Paranoá e ;deixá-la sem manutenção;.

O socialista abordou o episódio em que o adversário prometeu reconstruir, com dinheiro do próprio bolso, casas derrubadas pela Agência de Fiscalização (Agefis), além do fato de Ibaneis ter advogado a favor de um dos maiores grileiros do Brasil. Nas propagandas eleitorais, Rollemberg reitera que o adversário é da ;nova cara da velha política;, com fotos de aliados de Ibaneis condenados na Caixa de Pandora, como Júnior Brunelli (MDB) e Rôney Nemer (PP). Investigados, a exemplo de Celina Leão (PP), também aparecem nas inserções. O emedebista retribuiu a alfinetada. Num dos blocos, a equipe do advogado mostra imagens do governador ao lado de Dilma Rousseff (PT) e de Aécio Neves (PSDB), sob a alegação de que o socialista fez uma carreira na política.

Trechos de entrevistas também são explorados. Rollemberg apostou em uma das falas de Ibaneis sobre a doação do valor que tem a receber com precatórios para reforma e construção de escolas ; a contribuição está condicionada à eleição do emedebista. Em redes sociais e programas eleitorais, o governador teceu críticas à postura. Integrantes da equipe classificam a medida como ;um toma lá dá cá;.

Para o mestre em ciência política pela Universidade de Brasília (UnB) Leandro Gabiati, o clima da disputa distrital ;faz parte da estratégia política;. ;Muitas vezes, torna-se difícil explicar para a população as propostas em tão pouco tempo. O eleitor prefere ouvir um discurso mais simples, centrado em melhorias em educação, saúde e segurança. Eles o fazem de forma superficial e acabam parecidos. Então, resta partir para o ataque, desconstruindo a imagem dos adversários;, explicou.

O especialista observa que o cenário foge do ideal. ;O correto seria usar os espaços que contam com grande audiência para apresentar propostas. Porém, isso não é possível na maioria das vezes, principalmente no segundo turno, quando a disputa fica mais acirrada;, pontuou.

O embate entre Ibaneis e Rollemberg tem rendido uma vantagem ao emedebista. As três pesquisas divulgadas nesta semana, do Instituto Opinião Política, Ibope e Datafolha, indicam que Ibaneis tem 75% dos votos válidos. Apesar de Rollemberg ter subido o tom, essa diferença não tem se reduzido.

Suspensão

Por vezes, as trocas de farpas acabam no Judiciário. Em decisão liminar, ontem, o desembargador eleitoral Jackson Domenico determinou a retirada do ar de propaganda na rádio em que o candidato à reeleição mencionou episódios controversos que envolvem Ibaneis, sob pena de multa diárias de R$ 50 mil em caso de descumprimento. No bloco de cinco minutos, Rollemberg alegou que o emedebista ;tem vários prédios construídos em áreas irregulares;. ;Quando falo grileiro vertical, é porque ele está descumprindo gabaritos daquela região e construindo para cima sem autorização do governo;, disse.

O governador acrescenta que, como advogado, o adversário defendeu um dos assassinos do índio Galdino. Pontua, ainda, que Ibaneis recebeu ;R$ 3 milhões de recursos da educação de um dos municípios mais pobres da Bahia;. O valor se refere a honorários advocatícios do escritório de Ibaneis.

Ao recorrer à Justiça, a defesa de Ibaneis também pediu direito de resposta. O desembargador responsável, no entanto, ainda não avaliou o mérito. Na petição, os advogados do emedebista alegam que Rollemberg extrapolou ;a crítica política que vem fazendo desde o início da campanha para alcançar acusações de corrupção graves e sem substância;. Na decisão, o magistrado Jackson Domenico afirmou que as acusações fogem ;do limite da liberdade de expressão;. ;Tem-se que a crítica genérica é fácil e nociva, tendo em vista que pode induzir a erro o eleitor sem criar maiores responsabilidades ao autor da propaganda;, frisou.

Entre alianças, ataques e críticas

>> Alexandre de Paula
Os candidatos ao GDF tiveram agendas opostas ontem. Enquanto Ibaneis Rocha (MDB) preferiu se concentrar em encontros com partidos e lideranças, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) deu entrevistas e participou de um evento em que fez promessas para a área de ciência e tecnologia. As críticas ao adversário, porém, foram ponto em comum nos compromissos de ambos. O advogado acusou Rollemberg de produzir fake news, e o socialista criticou aliados do rival político.

Ibaneis dedicou o dia para consolidar acordos. O advogado reuniu-se com representantes do PR, PTB e PRB para oficializar alianças. No encontro com o PR, estava presente o ex-secretário de Saúde Jofran Frejat. O acordo com o médico era um desejo do ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no DF desde o início da campanha. Frejat liderava pesquisas para o GDF, mas desistiu da candidatura. Na semana passada, uma reunião para anunciar o apoio chegou a ser divulgada para a imprensa, mas o médico declinou e afirmou que só fecharia qualquer suporte ao lado do partido.

Ontem, Frejat disse ao Correio que não quer assumir qualquer posição em um eventual governo. Ele garantiu que está ;tranquilo; em casa e prefere permanecer assim. Em breve discurso na reunião, Frejat criticou a gestão atual e disse ter boas expectativas para um governo de Ibaneis.

No encontro, o advogado também aproveitou para criticar Rollemberg. Ibaneis alega ser vítima de fake news por parte do adversário e reclama dos ataques a clientes que defendeu. ;Estivemos antes com a Sandra Faraj, que está aqui, e com o Fadi Faraj orando para que esse mal que o Rodrigo está fazendo se afaste da gente;, afirmou Ibaneis. Sandra e Fadi foram candidatos, respectivamente, à Câmara Legislativa e ao Senado, mas perderam as eleições. Os dois são líderes da Igreja Ministério da Fé.

Foco no ensino técnico

O governador Rodrigo Rollemberg visitou o evento promovido na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, no Parque da Cidade. Na ocasião, o chefe do Executivo local focou as promessas em mais investimentos para a área. O ensino técnico, garantiu o socialista, será uma das prioridades de um eventual segundo governo. Ele prometeu abrir 16 mil vagas e inaugurar centros. ;Vamos construir mais cinco escolas técnicas no nosso próximo governo, garantindo formação técnica e tecnológica que garanta aos nossos jovens empregos qualificados e bem remunerados;, assegurou.

Rollemberg criticou as alianças feitas pelo adversário político com nomes envolvidos em escândalos de corrupção. ;O maior defeito dele é esconder os aliados. É não ter coragem de mostrar que está com Tadeu Filippelli, preso na Lava-Jato; com Júnior Brunelli, da Oração da Propina; com o Benício Tavares, acusado de pedofilia. São com essas pessoas que ele vai governar, porque ninguém governa sozinho;, ressaltou.

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