Pedro Grigori - Especial para o Correio
postado em 20/10/2018 07:00
O eleitor brasiliense está mais interessado na disputa pela Presidência da República do que por quem será o futuro governador do Distrito Federal. No primeiro turno, 180 mil pessoas votaram em branco ou anularam a escolha para o chefe do Palácio do Buriti, enquanto apenas 91 mil seguiram o mesmo caminho na escolha de um presidenciável. Por meio do Google Trends, o Correio comparou buscas na internet pelos nomes de Jair Bolsonaro (PSL), Fernando Haddad (PT), Ibaneis Rocha (MDB) e Rodrigo Rollemberg (PSB) em Brasília no último mês. De cada 100 pessoas que procuram informações sobre um dos quatro candidatos, apenas 13 davam preferência aos concorrentes ao GDF.
O foco na campanha presidencial, segundo especialistas ouvidos pela reportagem, aumenta a cobrança a Ibaneis e Rollemberg por um posicionamento em apoio a Bolsonaro ou Haddad na disputa do 2; turno. ;Nenhum dos dois têm uma afinidade muito grande com os partidos e as propostas apresentadas por Haddad e Bolsonaro, mas, de forma sutil, vêm apresentando maior inclinação para um dos lados;, explica Alessandro Costa, mestre em ciência política e professor de direito eleitoral da Universidade Católica de Brasília (UCB).
No DF, Bolsonaro recebeu 58,37% dos votos válidos e teria sido eleito no 1; turno. Ele teve mais votos do que Ibaneis e Rollemberg juntos. Haddad, ficou em terceiro, com 11,87% dos votos. Para conquistar o eleitorado do militar da reserva, Ibaneis chegou a dizer durante carreata no Núcleo Bandeirante que ;quem quer Bolsonaro vota 15 e vira ;bolsoneis;;. O Avante, partido do candidato a vice-governador pela chapa de Ibaneis, Paco Britto, está ao lado do presidenciável do PSL.
Ibaneis também conta com o apoio do deputado federal Rogério Rosso (PSD), que, no 1; turno, declarou voto em Jair Bolsonaro. Na última semana, o capitão gravou um vídeo em agradecimento a Rosso e ainda pediu para ele ;mergulhar no 2; turno para que possamos ter alguém perfeitamente afinado com os interesses do nosso Distrito Federal;.
Para o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer, a tendência é de que Ibaneis se coloque ao lado de Bolsonaro até o dia do pleito, mas Rollemberg deve ter dificuldades de fechar com um lado. ;O governador tem maior inclinação para o campo progressista, mas não pode assumir voto para o Haddad, porque mais de 900 mil brasilienses votaram no Bolsonaro. Além disso, ele corre risco de trocar de lado, porque temos casos como o de Cristovam Buarque, que cresceu com o PT, mas renegou o partido e não conseguiu se reeleger;, alerta.
Até 2010, Rollemberg recebeu apoio do PT nos pleitos que disputou. Mas isso mudou em 2014, quando o socialista enfrentou o petista Agnelo Queiroz pela chefia do Buriti. No debate do Correio Braziliense, em 11 de outubro, Rollemberg garantiu que não tomará um lado, mas destacou que tem, como princípio, a defesa da democracia e dos direitos humanos e a luta contra a corrupção.
Em espera
Com as atenções voltadas à corrida pelo Palácio do Planalto, são muitos os candidatos que surfaram no nome dos presidenciáveis. No DF, o concorrente ao Buriti Paulo Chagas (PRP), apoiado por Bolsonaro, recebeu R$ 72 mil para a campanha. Apesar de ser o nono no quesito arrecadação e ter apenas 7s de propaganda gratuita na tevê e no rádio, recebeu 110 mil votos, alcançando o quarto lugar. A terceira colocada na corrida à Câmara dos Deputados, Bia Kicis (PRP), também teve a candidatura alavancada pelo presidenciável do PSL.
Mesmo assim, escolher um candidato ao GDF apenas pelo posicionamento dele no cenário nacional não é visto como positivo pelo cientista político Alessandro Costa, da UCB. ;As ações do governador têm efeito imediato no eleitorado local. Então, se o cidadão faz um voto sem busca apurada pelas propostas, ele não poderá cobrar depois;, explica.
Para David Fleischer, a proximidade com a Praça dos Três Poderes também faz o brasiliense ter mais interesse pela disputa presidencial. ;É perigoso, porque uma má gestão do governador afetará diretamente o dia a dia da população, mas, no momento, o eleitor, realmente, está mais interessado em saber quem será o novo presidente;, avalia. A análise de Fleischer ganha suporte na quantidade de servidores públicos federais ; e de suas famílias ; no DF. A eleição de um presidente, por exemplo, pode ter impacto no futuro de pelo menos 106.335 pessoas (70.335 funcionários do Executivo federal, 25 mil do Judiciário e 11 mil do Legislativo), segundo dados da Escola Nacional de Administração Pública (Enap) e de sindicatos.
Além daqueles posicionados ao lado de Bolsonaro e Haddad, Brasília terá um grande número de pessoas que devem votar em branco ou nulo para presidente no 2; turno ; segundo pesquisa encomendada pelo Correio e divulgada nessa semana, 18,1% decidiram não votar em nenhum dos presidenciáveis. Para governador, a expectativa é de 10,5%. Para especialistas, o motivo da divergência dos resultados pode ser o eleitorado de Ciro Gomes (PDT), o segundo mais votado no DF, de fora do 2; turno.
Busca
Trata-se de uma ferramenta que identifica os termos mais populares buscados na plataforma do Google. O dispositivo permite o usuário escolher o período de busca, a cidade, o estado ou o país e também comparar quais palavras ou nomes foram mais procurados em determinada data. É usado mundialmente por empresas para identificar tendências na internet.
Fator Brasília
Nas últimas três eleições, o candidato mais votado para Presidência da República no Distrito Federal não foi o eleito para assumir o cargo. A última vez em que os eleitores de Brasília votaram parecido ao resto do país foi em 2002, quando Lula (PT) recebeu 49,2% dos apoios nas urnas. Em 2006, o petista perdeu no DF para Geraldo Alckimin (PSDB), que recebeu 44,1%. Em 2010, Dilma Rousseff (PT) ficou atrás de Marina Silva (Rede). Em 2014, a petista ficou em terceiro, atrás de Aécio Neves (PSDB), em primeiro, e de Marina Silva, mas se reelegeu.
O que diz a lei
O artigo 84 da Constituição Federal atribuiu como competências do presidente da República nomear e exonerar ministros; sancionar, promulgar e fazer publicar as leis; vetar projetos de lei federais; extinguir funções ou cargos públicos; manter relações com Estados estrangeiros; decretar e executar a intervenção federal; comandar as Forças Armadas; entre outros. O governador de uma unidade da Federação dispõe da organização da administração estadual; sanciona, promulga e faz publicar leis estaduais ou distritais; nomeia o procurador-geral da Justiça; pode criar ou extinguir cargos públicos estaduais; e no caso do DF, ainda age como prefeito.