Cidades

Caso Timponi: Defesa alega insanidade do condutor que matou 3 na ponte JK

Justiça suspendeu o processo até que laudo do IML fique pronto. Defesa do ex-professor de educação física Paulo Cesar Timponi, acusado de provocar acidente após racha na Ponte JK, há 11 anos, entrou com pedido de insanidade mental

Luiz Calcagno
postado em 22/10/2018 18:51

Depoimento de Paulo Cesar Timponi no Tribunal do Júri de Brasília em 30 de maio de 2008

A defesa do ex-professor de educação física Paulo Cesar Timponi, acusado de provocar o acidente que matou três mulheres na Ponte JK em 6 de outubro de 2007, entrou com pedido de insanidade mental. Como consequência, o processo que corre contra Timponi no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) há 11 anos está suspenso até que ele seja examinado no Instituto de Medicina Legal (IML). Ele responde por homicídio doloso, qualificado por provocar perigo comum.

Consta no processo que, na data do acidente, por volta das 17h30, na Ponte JK, sentido Plano Piloto-Lago Sul, Timponi, "de forma livre e consciente, utilizando-se de seu veículo Golf-VW, agindo de forma a assumir o risco de matar", provocou o acidente que tirou a vida de Antônia Maria de Vasconcelos, a irmã dela, Altair Barreto de Paiva, e a amiga, Cyntia dos Santos Settimi Cysneiros de Assis.

[SAIBAMAIS]O pedido da defesa e dos familiares do réu veio após a decisão do Superior Tribunal de Justiça de levar o acusado a júri popular. De acordo com o documento entregue pela defesa, Timponi sofreria de Alzheimer precoce. O réu estaria nas fases iniciais da doença, com prejuízos à "comunicação semântica sem, necessariamente, afetar a compreensão", conforme consta em uma decisão da Justiça de 30 de agosto.

Na data, o juiz de direito substituto Paulo Afonso Correia Lima Siqueira indeferiu o pedido da defesa. "Como destacado acima, a fase inicial da demência, apesar de afetar a comunicação verbal e gráfica da pessoa, não afeta necessariamente a compreensão dos seus arredores. Além disso, a simples dificuldade de comunicação da pessoa não é suficiente para suprimir o direito de autodefesa do indivíduo", proferiu.

A defesa de Timponi, porém, entrou com um habeas corpus contra o indeferimento e conseguiu a suspensão temporária do processo junto aos desembargadores da 1; Turma Criminal do TJDFT. Agora, o andamento do processo dependerá da celeridade da fila de exames do IML.

A suspensão do processo também beneficia o músico Marcello Costa Sales, acusado de apostar racha com Timponi na hora do acidente e responde como partícipe no crime. A reportagem procurou, por telefone, o advogado de defesa dos dois, Eduardo de Vilhena Toledo. Mas não conseguiu contato com o defensor até o fechamento da matéria.

Responsável pela acusação, o promotor da promotoria do júri do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) Leonardo Jubé de Moura acredita que há risco de impunidade. "A defesa entra com recurso, é indeferido e ele entra com recurso contra o indeferimento e assim, sucessivamente. Agora, conseguiram mais essa delonga no processo. Ele será examinado por profissionais e não temos que prever o prazo. Há um risco concreto de impunidade."

Luiz Cláudio Vasconcelos, 61 anos, marido de Antônia, que estava ao volante quando acabou atingido pelo carro de Timponi

Espera

A reportagem do Correio também conversou com Luiz Cláudio Vasconcelos, 61 anos, marido de Antônia, que estava ao volante quando acabou atingido pelo carro de Timponi. Quando o acidente aconteceu, ele tinha 50 anos. ;Eu que estava dirigindo. Eu vivenciei cenas de guerra. Vi três pessoas que amávamos, mortas ao meu lado. Não é fácil. Não é fácil para os meus três filhos e nem pros filhos da Altair ou da Cynthia;, comentou.

Luiz Cláudio já tinha conhecimento da suspensão do processo. ;O que me causa estranheza é que, nesses 11 anos que ele postergava o julgamento através de medidas protelatórias, estava bem. Agora que ficou determinado que ele vá a julgamento, ele aparece com um Alzheimer precoce. Eu não sou médico, mas acho estranho. Me parece mais uma medida da defesa. Estando ou não, com Alzheimer, ele tem que ir a julgamento. Tem responder pelos atos dele;, exigiu.

Ele também comentou sobre a indignação sentida pelas três famílias. ;São 11 anos aguardando para ver esse homem no banco dos réus. Isso é ruim pra própria sociedade. Os únicos condenados somos nós, as famílias. A minha mulher perdeu a vida e ele está aí, usufruindo da vida. Queremos fechar esse livro. É um livro com páginas muito dolorosas. São 11 anos que estou lutando contra a impunidade. Qual o recado que tem sido passado à sociedade? Da impunidade. Quantos outros desastres poderiam ter sido evitados se a Justiça tomasse medidas sérias?;, questionou.

;Ele matou três mães, destruiu três famílias, e nada aconteceu. Chega de impunidade. É um absurdo. Precisamos dar um basta a essa impunidade. Até hoje, eu passo nas ruas e as pessoas me perguntam o sobre o que aconteceu. Se ele foi condenado. E eu digo que não aconteceu nada. A perda é irreparável. Os advogados estão protelando a ação para que isso um dia prescreva. Se ele está com Alzheimer, que vá a julgamento e, se for condenado, que vá para um manicômio judicial. É o que ele merece. Ele matou três pessoas. Três mães. Deixou filhos órfãos, e tem que pagar por isso;, desabafou.

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