Thiago Melo*
postado em 23/10/2018 08:00
O Distrito Federal possui mais de 200 mil motocicletas, o equivalente a 11,5% do total da frota de veículos na capital e Entorno. Das 229 vítimas mortas em acidentes de trânsito registradas até setembro deste ano, 45 eram motociclistas, o que corresponde a 19% do total de mortes conforme estatísticas do Departamento de Trânsito do DF (Detran/DF).Com a chegada do período de chuva, o risco de acidentes envolvendo motociclistas aumenta, isso porque, com as pistas molhadas, os condutores ficam mais frágeis e enfrentam outros problemas, como a falta de visibilidade e vias escorregadias. As estatísticas do Detran mostram que houve redução do número de acidentes com motos se comparado ao mesmo período do ano passado.
Apesar da redução, alguns fatores de risco ainda contribuem para o aumento do número de acidentes, entre eles, a falta de manutenção das motos, a falta de sinalização por parte dos condutores e o uso de álcool e drogas no trânsito. De acordo com o diretor geral do Detran/DF, Silvain Fonseca, com as pistas molhadas é preciso redobrar a atenção e os motociclistas devem adotar medidas que assegurem a segurança deles e de todos os envolvidos no trânsito.
;Nesse período chuvoso é preciso estar mais atento, especialmente porque o condutor fica mais frágil e as motos são veículos mais vulneráveis. Alguns cuidados devem ser tomados como utilizar equipamentos de segurança como capacete, botas, jaquetas e luvas, evitar trafegar acima de 60 km/h, evitar andar nos corredores entre os carros, sempre sinalizar e antecipar qualquer situação de risco, além de deixar o farol ligado.;
O diretor explicou ainda que o uso de álcool e de drogas no trânsito foi uma das principais causas de acidentes em 2017. Segundo estatísticas do Detran, dos 85 acidentes com motocicletas registrados no ano passado, 44 envolviam as substâncias. Para o primeiro semestre deste ano, não foi muito diferente. Dos 47 acidentes fatais envolvendo motos, a presença de bebida alcoólica ou entorpecentes foi verificada em 27 deles.
Para motociclistas, outro agravante: segundo Silvain, como pneus e outros equipamentos para motocicletas costumam ser mais caros, os condutores acabam utilizando equipamentos e peças mais baratas, o que fragiliza o veículo e aumenta o risco de acidentes.
Semana de conscientização
Com o objetivo de conscientizar a comunidade acerca da redução do número de mortes no trânsito envolvendo motos, o Detran/DF promove, esta semana, uma série de atividades sobre o tema, entre elas, o seminário internacional ;Acidentes com moto em Brasília: soluções possíveis;. Um dos convidados para o evento é o secretário geral da Associação de Motociclistas da Suécia, Jesper Christensen.
Jasper é um dos responsáveis pela criação do sistema de autoescolas para motociclistas na Suécia, uma iniciativa que propõe a redução a zero de acidentes de trânsito com motos no país, onde a capacitação continuada dos motoristas é usada como política permanente do governo para promover a conscientização e a responsabilidade no trânsito.
A Suécia conta com uma frota de 260 mil motos, com mais de 15 mil alunos e com pelo menos 300 autoescolas que utilizam esse sistema. No ano passado, o número total de acidentes envolvendo motociclistas no país foi de menos de 30. A meta da Suécia é zerar o número de ocorrências.
Na manhã desta segunda-feira (22/10), motociclistas do Detran percorreram algumas vias do DF junto ao representante da associação sueca. O objetivo do passeio foi apresentar ao secretário a realidade de quem transita de moto todos os dias pela cidade e mostrar elementos do comportamento dos condutores brasilienses além de características da engenharia do trânsito utilizados na capital.
Jesper acompanhou os agentes do Detran em uma motocicleta tradicional. Eles transitaram pela W3 Sul e W3 Norte, depois seguiram para o Eixo Monumental. No trajeto, pararam num centro de formação para motociclistas próximo ao Shopping Popular e, de lá, percorreram a via Estrutural, a Avenida Hélio Prates e depois voltaram pela EPTG.
O secretário explicou que o sistema implantado na Suécia também pode ser aplicado em Brasília, porém, alguns desafios precisam ser enfrentados. Ele destacou a importância da reeducação dos condutores, que deve começar nas autoescolas e continuar com o apoio dos órgãos responsáveis pelo tráfego na cidade.
;O mesmo sistema pode funcionar aqui sim, apesar das diferenças no trânsito. Mas acredito que haja alguns desafios, entre eles o número de motociclistas que dirigem sem carteira e o fato de a maioria dos motoristas serem muito jovens.", disse Jesper.
Ele ressaltou que a redução do número de acidentes no trânsito deve ser uma preocupação de todos, inclusive das famílias dos condutores. ;Talvez seja necessário falar com os pais dos jovens motoristas e dizer a eles que, se amam os filhos, eles precisam cuidar deles.;
O sistema de autoescolas utilizado na Suécia, como explicou o secretário, é um sistema que garante a educação continuada de motociclistas, além de pedestres e de familiares. Após serem aprovados como condutores, os motociclistas passam por um período de ;reeducação no trânsito;.
Como parte da promoção da segurança, o país investiu ainda na adaptação das vias, na diminuição dos limites de velocidade em meios urbanos, na criação de zonas exclusivas para pedestres e na adaptação de barreiras de separação entre vias e ciclovias, além de reforço na fiscalização.
Thiago Moreira dos Santos, gerente de campanhas educativas de trânsito do Detran/DF, destacou a participação do representante sueco na semana de atividades e afirmou que o objetivo é construir relação com entidades que têm sistemas eficientes e que são bons exemplos no que diz respeito à redução de acidentes no trânsito.
;Nossa pretensão maior é construir parcerias com entidades como a que o Jesper representa e consiga trazer para Brasília, estruturar em Brasília um processo de formação de motociclistas que amplie a segurança;, disse.
O seminário ;Acidentes com moto em Brasília: soluções possíveis; acontece hoje (23/10), às 8h, no auditório do Centro de Desenvolvimento Tecnológico da UnB. Pela manhã, o evento vai contar com a participação do Superintendente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Luiz Carlos Mantovani Néspoli, que irá abordar o tema: ;Moto: uma forma de abordagem do problema;.
Participarão ainda o consultor da Associação Brasileira de Motocicletas, Ciclomotores, motonetas, bicicletas e similares (Abraciclo), Wilson Yasuda e a diretora de engenharia de trânsito do Detran/DF, Daniele Valentini.
Já no período da tarde, Jesper Christensen apresenta spbre o tema ;Como a Suécia pretende zerar os acidentes com motos; e participam ainda do debate grupos de motociclistas de Brasília, o diretor de policiamento e fiscalização de trânsito do Detran/DF, Glauber Peixoto, o comandante do CPtran/PMDF, coronel Souza Oliveira e o ex-diretor do BHTrans e consultor de Trânsito, Osias Batista Neto. O evento é gratuito e as inscrições podem ser feitas na hora.
* Estagiário sob supervisão de Mariana Niederauer