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'Ficha limpa é essencial', diz Ibaneis em entrevista ao Correio

Em conversa exclusiva, advogado eleito com 70% dos votos válidos no DF destaca ainda que a saúde será prioridade a partir do primeiro dia de mandato

José Carlos Vieira, Ana Maria Campos, Helena Mader
postado em 29/10/2018 06:00
Ibaneis Rocha (MDB), governador eleito do DF
Há dois meses, o advogado Ibaneis Rocha era um desconhecido da grande maioria da população do Distrito Federal. Nesse período, o ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/DF) saiu de um patamar de 0,2% apontado em pesquisas para um cacife de mais de um milhão de eleitores, quase 70% dos votos válidos na eleição. Para começar, garante que, por mais difíceis que sejam, ele vai fazer o possível para honrar os compromissos de campanha. ;Vou cumprir todas as minhas promessas;, assegura.

Ibaneis Rocha se define como um cidadão trabalhador, que batalhou para se tornar um profissional com um considerável patrimônio financeiro e uma referência na advocacia. ;Pode esperar um camarada decente, como sempre fui na vida. Não estou dizendo que vou acertar em tudo, mas vou procurar acertar em tudo;, disse. Com origem humilde, esforçou-se em todas as conquistas. Nesta entrevista exclusiva ao Correio, Ibaneis conta que chorou muito antes de sair o resultado das urnas. Pensou em sua responsabilidade e no pai, Ibaneis Rocha, que morreu há menos de um ano.

O governador eleito vai administrar o DF num momento de expressiva mudança também no comando do país. Ibaneis revela que votou em Jair Bolsonaro (PSL) e aposta numa boa relação com o novo presidente da República. ;Ele é casado com uma mulher daqui de Brasília. Ele está há muitos mandatos aqui no Distrito Federal. Acho que tem um apreço pela cidade;, afirma. O novo secretário de Segurança Pública do DF, por exemplo, deve ter uma conversa com Bolsonaro.

Com encontro marcado para hoje com o presidente Michel Temer, Ibaneis pretende buscar já recursos para Brasília. Vai precisar ajustar o orçamento federal e acredita ser possível até ampliar o Fundo Constitucional do DF para honrar promessas com servidores públicos.

Na fase de transição, a saúde será prioridade. Ele quer começar o mandato, em janeiro, com mudanças realizadas para melhorar o atendimento. Nos próximos dois meses, na transição, pretende manter uma boa relação com o adversário do segundo turno, o governador Rodrigo Rollemberg. ;A cidade elegeu um governador para unir a cidade. Ela não quer guerra;, disse. ;Se tem algo que não carrego no meu coração é mágoa;.
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O senhor foi eleito com praticamente 70% dos votos válidos. O que esse alto percentual representa?

O resultado do primeiro turno já me deixou bastante impressionado. Mostrou que a população do Distrito Federal queria algo de novo. Mas, a cada dia vai aumentando a responsabilidade. E eu sou um camarada muito responsável, eu sei do que eu trato, entendeu? Então, quando chegou esse percentual de 70%, eu vi um pouco mais. Eu vi a prova de que o Distrito Federal não queria mais aquela desunião que existia. E, aí, todo mundo me questionou: ;mas você, como outsider, poderia muito bem não querer apoio de ninguém;. Não. Eu quero unir a cidade. Hoje, conversei com o governador Rollemberg. Quero unir, quero as experiências de todos. Acho que está na hora de consertar tudo o que deu errado aqui. Muito do que deu errado se deu exatamente por essa divisão. Como não tenho esse passado na política, quero fazer com que o futuro melhor.

Na sua primeira entrevista, o senhor falou, em tom amigável e pacificador, que não queria guerra, mas isso destoou das últimas semanas da campanha. Por que o senhor resolveu mudar o tom?

A cidade elegeu um governador para unir a cidade. Ela não quer guerra. Não tem mais aquela coisa do azul e do vermelho. Acho que a cidade escolheu um candidato que mostrava exatamente isso, que não tinha passado na política e que quer cuidar do futuro. Chega daquela história de ;vamos ficar na guerra;, ;vamos fazer aquilo;. Acho que está na hora de fazer pela cidade.

O senhor deixou de ir aos debates na reta final da campanha. Foi por conta do acirramento do clima?

Sim. Foi muito difícil. Sou um cara extremamente família, tenho dois filhos, um de 20 e um de 13, tenho uma ex-mulher que me respeita muito e eu também respeito ela. Estou casado, tenho um filho prestes a nascer, e as pessoas vêm me acusar de pedofilia? Isso dói muito.

Esses episódios deixaram mágoa?

Eu não carrego mágoa. Se tem algo que não carrego no meu coração é mágoa.

A cidade conhece Ibaneis Rocha como advogado, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no DF (OAB/DF), uma pessoa do direito. Agora, o senhor é governador da capital do Brasil. O que podemos esperar?

Um homem muito honesto, que quer trabalhar muito pela cidade, que quer honrar o patrimônio moral que fez, que vai honrar o abraço que os filhos me deram hoje. Vai honrar a cidade, os votos. Pode esperar um camarada decente, como sempre fui na vida. Não estou dizendo que vou acertar em tudo, mas vou procurar acertar em tudo.

Existe uma cobrança muito grande agora? Uma coisa é campanha, muitas promessas são feitas no calor da eleição;

Vou cumprir todas as minhas promessas. Amanhã (hoje) mesmo, vou me encontrar com o presidente Michel Temer. Ele vai me ajudar. O MDB vai conseguir colocar para a gente muitos recursos no orçamento dos ministérios e da União. Existe uma possibilidade muito grande até de aumentar o Fundo Constitucional para que a gente possa cumprir de imediato todas as promessas relacionadas à segurança. Vou trabalhar muito nestes meses agora para poder honrar tudo isso que prometi na campanha.

Como será sua relação com o presidente eleito Jair Bolsonaro?

Acho que será excelente. Ele é casado com uma mulher daqui de Brasília. Ele está há muitos mandatos aqui no Distrito Federal. Acho que tem um apreço pela cidade. Eu me incomodava porque acho que o DF merece muito mais que isso. É uma cidade que acolhe os corruptos e fica corrupta. Já bastam os nossos corruptos. Acho que Brasília não merece. Ela é a capital da República e não tem sido tratada assim há muito tempo. Juscelino fez o Distrito Federal capital da República e, de lá para cá, ninguém olhou a capital da República. Acho que está na hora de a população do país saber que a capital é aqui. Não é no Rio, não é em São Paulo, não é em outro lugar. É aqui.

O senhor votou em Bolsonaro? No fim da campanha, o senhor sinalizou que tinha preferência por ele.

Votei no Bolsonaro. Votei porque acho que o PT estava representando, nestes últimos momentos, a desunião do país. Eles pregaram a campanha da desunião. Não gosto de campanha da desunião, gosto de campanha da união. E o Bolsonaro, por incrível que pareça, mesmo ele tendo aquele jeitão de coronel e tudo, militar, conseguiu unir a maior quantidade de pessoas. Gosto muito dessa união. Acho que o país está precisando de união. Tem de ter oposição. O PT vai fazer uma bela oposição, elegeu uma bela Câmara dos Deputados, mas acho que estamos precisando viver um período de pacificação do país. Vivemos um período de muita dificuldade nesses últimos mandatos, por conta dessa desunião. O que for necessário, o que depender de mim, vou trabalhar para que a gente viva um período de paz.

Como o senhor acha que será a oposição aqui?

Acho que o governador (Rollemberg) vai fazer um bom trabalho (como oposição). Ele tem lá um ou dois deputados eleitos. Tem o pessoal ali do PT. Sempre tive um bom relacionamento com o grupo do PT, com a esquerda. Sempre estive junto, sou advogado de sindicatos. Acho que teremos uma convivência como está na Constituição: harmônica e independente, com cada um cuidando do que interessa à cidade. Essa quantidade de votos que tive me dá essa possibilidade de tratar, de fazer uma relação mais democrática, sem troca-troca. E não quero isso de maneira nenhuma. Acho que venho exatamente para fazer uma forma diferente de política. Para deixar essa política do passado, essa coisa do toma-lá-dá-cá fora. Vou fazer exatamente isso.

O senhor falou na campanha que não pretende disputar reeleição. É isso?

Não gosto de reeleição. Não me candidatei à reeleição na Ordem. E eu tinha mais de 90% de aprovação. Vou trabalhar para que a gente acabe com a reeleição no país desde o primeiro dia do meu mandato. Acho que o mandato tem de ser de cinco anos. Por exemplo, o Orçamento feito agora não foi meu. Vou ter de mexer do jeito que posso. Acho que o correto é você ter um mandato e, durante esse tempo, você desenvolver tudo o que quer e acha que é realização e não concorrer à reeleição. Vou trabalhar todos os minutos do meu mandato para que ela não exista. Estou pegando uma cidade que está, há muito tempo, passando por dificuldades. Tivemos a prisão do governador Arruda, depois veio o governo do Agnelo, veio o do Rollemberg, com todas as dificuldades. A cidade está ruim. Ela não está bem. Está mal, nós sabemos o que está acontecendo. Então, se no fim, eu não tiver conseguido acabar com a reeleição e estiver bem posicionado, bem avaliado, fazendo um trabalho que valha a pena ir para a reeleição, vou avaliar. Mas tem de valer a pena mesmo, não quero poder por poder. Não gosto disso. Gosto de poder, de ser autoridade sem ser autoritário. Não estou dizendo que não irei à reeleição. Estou dizendo que, se puder acabar com ela, para mim, é melhor.

Encerrando esta etapa, o senhor pensa em algo maior, disputar outros cargos?

Gostei da política. Pode ter certeza que sim. Acho que vale a pena fazer. A política resolve muitas coisas. Ao contrário dos outros que acreditam que ela é uma coisa porca e suja, a política bem-feita pode trazer muitos benefícios. É um meio de você realizar muito. Como já sou realizado do ponto de vista pessoal, é uma maneira de eu realizar para os outros.

Qual será a primeira coisa que o senhor fará em seu mandato?

Priorizar a saúde. Imediatamente. Agora, durante a transição, vou cuidar de forma muito especial da saúde, porque ela não espera. Educação pode esperar uma licitação de 15 dias, 30 dias. As delegacias já estão fechadas e podem aguentar um pouquinho. Agora, na saúde, ninguém pode esperar. Se você chega no hospital, tem de ser atendido. Se não é, você morre.

O que dá para fazer durante a transição?

Quero me reunir com todos os profissionais de saúde. Quero ver onde está faltando medicamento. Vou para a rede privada, vou fazer convênios, nem que eu tenha de alongar os prazos de pagamento. Vou zerar todas as filas da saúde. Já estive conversando com o Canrobert (Oliveira, oftalmologista). Ele disse que, com pouquíssimo, consegue fazer todas as cirurgias de catarata de que o Distrito Federal precisa. Conversei com o pessoal da rede hospitalar. Eles disseram que, com muito pouco, no contraturno, conseguem tirar todas as cirurgias que precisam ser feitas. Inclusive de stent, de coração, que é uma coisa que tem muita gente esperando. Quero zerar as filas de hospital.

O senhor já pensou em um nome para a Secretaria de Saúde?

Não. Vou conversar agora durante o período. Até agora, só tenho o secretário de Fazenda, o André Clemente, um cara que conhece muito a cidade, vai me ajudar a melhorar muito a arrecadação. Fora isso, não tenho nome para área nenhuma.

E a articulação política?

Essa vai ser comigo. Vou ser articulador político. Eu gosto disso. Com a Câmara (Legislativa), a Câmara Federal, com ministérios, vou ter pessoas muito ligadas. Há uma pessoa que conheci esses dias e de quem gostei muito, o Vítor Paulo (deputado federal do DF pelo PRB). Ele tem um excelente relacionamento, está hoje como relator do Orçamento e está nos ajudando nas emendas. Vou ter pessoas muito próximas ligadas, como o Izalci Lucas (deputado federal e senador eleito pelo PSDB), gente que venha trazer recursos para o Distrito Federal. Mas quem vai fazer a articulação sou eu. Gosto de fazer isso.

Como será a escolha do secretariado?

Quero montar salas de transição. Vou convidar todos os que participaram da campanha. Cada um na sua especialidade, na sua área. Quero que cada um venha dar sua contribuição. Acredito que, em dois meses, você descobre as lideranças. Eu sempre fiz assim. Gosto de descobrir lideranças. As pessoas mais interessadas, que se mostrarem mais honestas, mais trabalhadoras e que consigam liderar vão ser essas pessoas.

O senhor seria capaz de manter um secretário do governo Rollemberg?

Acho que há alguns que até poderiam merecer. Gosto muito do Jaime Recena. É meu amigo, mas sei que é muito mais amigo do governador. Há algumas pessoas que acho que valeriam a pena. Não tenho nada contra ninguém.

Será um governo de advogados?

Acho que não. Advogados de algumas áreas servem. Ajudam muito. Justiça, acho que vale a pena ter pessoas (da advocacia). Só que os de que mais gosto não querem. Querem ficar na advocacia porque dá mais dinheiro (risos).

O senhor já fez uma sondagem?

Já. Por exemplo, gostaria de ver a Estefânia (Viveiros) como a secretária de Justiça. Gosto dela. É uma pessoa honesta. Mas ela está agora na campanha da Ordem. Quer ser conselheira federal, talvez diretora da Ordem.

E o perfil do secretário de segurança?

Quero conversar com o Bolsonaro. Ele vem muito a esta área de segurança, e acho que a capital da República é um local que ele tem de dar como exemplo. Se ele estiver a fim de ajudar na indicação, vou aceitar com muito carinho. O exemplo tem de ser dado a partir do Distrito Federal, então vamos começar com o presidente eleito.

E a lista da Polícia Civil, o senhor vai respeitar também?

Falei para eles que deveriam fazer uma lista única, sem divisão entre delegado e policial civil. O que pedi ao pessoal do Sinpol foi que fizessem uma lista com os mesmos nomes que estariam concorrendo na lista do Sindepo. Mas pretendo seguir. Porque, se sai um nome que esteja nas duas listas, fica mais fácil nomear. Mas o que quero de verdade é que a polícia seja um pouco menos politizada. Isso aí é horrível, o que sofri nesta eleição foi triste.

O senhor acha que a Polícia Civil é política? Em que situação?

Ela é politizada, infelizmente. O diretor da Polícia Civil (Eric Seba), por exemplo, foi totalmente inerte em relação a tudo que aconteceu no que diz respeito a fakes, perseguição. Isso não tem de acontecer. A polícia é para ser independente. Não quero polícia do meu lado para me proteger em nada. Quero fazer a minha vida correta de modo que eu não fique refém deles. A polícia que eu quero é aquela que cuida da vida, de prender bandido, de resolver os problemas da cidade.

Como o senhor imagina Brasília daqui a quatro anos?

Melhor. Bem melhor. Sofri muito nestas eleições. Chorei muito.

Em qual momento o senhor começou a chorar?

Quinze minutos depois que acabou a votação. Antes de sair o resultado. Eu sabia que estaria eleito. Mas é uma responsabilidade muito grande. Você, com 47 anos de idade, nascido na cidade, com toda a responsabilidade que você tem nas costas. Sou o primeiro presidente da OAB/DF nascido aqui e primeiro governador nascido aqui. Para mim, é uma história.

Onde o senhor estava?

Estava aqui (em casa). Comecei a chorar aqui e fui chorando até chegar ao Centro de Convenções.

Pensando em quê?

Na responsabilidade que está nas minhas costas e no compromisso que tenho com a cidade daqui para a frente. Sempre tive, mas agora é muito maior. É uma obrigação que tenho de fazer um bom trabalho.

Como seria para o senhor se ver em uma situação de rejeição crescente?

Não tenho preocupação. Não vou ser rejeitado. Vou conversar muito com a população do Distrito Federal. Vou mostrar as dificuldades, vou mostrar as coisas com clareza. Quem quer interlocução sou eu. Acho que, se você abrir as portas, sair do gabinete, viver nas ruas, conversar com as pessoas, mostrar o que está sendo feito, você consegue realizar muito.

Muita gente do meio político subestimou a sua candidatura?

Eles não conheciam. É aquela história do político tradicional. Ele acha que você tem de ter experiência na política, tem de ter sido votado. Eu tenho uma visão diferente. Eu sou o povo. Eu sabia o que eu queria e como eu queria votar. Eu queria votar em quem? Em nenhum desses outros que estavam aí. Imaginei que, eu, como povo, a grande maioria, seria dessa maneira. No início, quando surgiu a oportunidade, contratei pesquisa. Eu trabalho muito com pesquisa, e eles mostraram que existia um ambiente aberto. Peguei essas pesquisas, joguei na mesa e eles falaram que não daria, não ia ser certo e ninguém apostaria nisso. Eles não quiseram apostar, eu apostei e fui para a rua.

O senhor deve algo para alguém? Não. Só para a minha própria consciência e para a minha família, que me ajudou muito. Não devo nada a ninguém. Qual será o espaço que o Tadeu Filippelli terá no seu governo?

Ele é presidente do partido, mas ele compreendeu muito bem o local dele. Ele é um cara que tem experiência política, conhece a cidade como ninguém, é uma pessoa que quero ouvir. Conhece a cidade principalmente na área de obras. Na área política acho que nem tanto. Até porque o MDB não foi muito bem nas eleições, só teve o Rafael (Prudente) eleito. Ele terá essa função de me aconselhar. E há uma menina de quem gosto muito, a nora dele, a Ericka Filippelli. Ela tem um bom trabalho. Já trabalha no âmbito federal, na área da mulher, tem esse lado. Não tenho problema de dar cargo para que ela siga e crie um ramo na política. Para ele, acho que não. Não é nem por não resolver os problemas políticos dele, não. A população do Distrito Federal soube tratar a eleição com renovação. Isso foi feito em várias áreas. A gente tem de respeitar a vontade do povo.

Esse novo estará no seu secretariado?

Não quero nenhum secretário do passado, não. De preferência, que não tenha ninguém do passado. Acho que está na hora de a gente renovar no todo. Mas quero pessoas de referência.

Ficha limpa também?

Isso é essencial.

O senhor vai exigir que não tenha nenhuma denúncia ou condenação?

Corrupção. Não quero nenhuma denúncia de corrupção. Outros crimes, tudo bem. Eu, por exemplo, tenho vários processos. São coisas do dia a dia da advocacia. Agora, corrupção, não. Ninguém pode me acusar de corrupção. Nunca corrompi ninguém, nem vou corromper ou ser corrompido. Isso eu não admito. Quando houver denúncia de corrupção, fica fora do governo.

Como será a sua relação para eleger o novo presidente da Câmara Legislativa?

Eu gostaria muito de não interferir. Mas, como há muitos deputados novos, acho que vão acabar buscando uma espécie de conselho. Quero que eles tenham harmonia, independência, cuidem da vida deles. Quem vai ser da oposição? Roosevelt (Vilela)? Não vai ter chance. Acho que dá para construir uma base. Quero uma base para aprovar projetos importantes.

O Joe Valle seria um nome para o seu secretariado?

Eu gosto. Um cara que conhece a área da agricultura como ninguém, tem serviços prestados na cidade, faz política bem-feita, foi traído pelo seu partido, infelizmente. Poderia estar eleito na política muito bem. Não tenho isso, não tenho retrovisor.

Onde o senhor vai morar?

Já estou olhando uma casa maior, porque preciso botar segurança. Quero dar tranquilidade para a minha família também. Estou vendo se consigo. Estou com algumas coisas selecionadas. Quero ver se compro uma chácara aqui na QI 5, na QI 15, alguma coisa que dê mais tranquilidade.

Que mensagem o senhor gostaria de passar para o seu eleitor e para quem não votou?

Sou governador do Distrito Federal como um todo. Esses 30% do Rollemberg, eles podem ter certeza que vou trabalhar pelo DF como um todo. Quero dizer ao governador que tenho um carinho enorme por ele, pela família toda. O debate eleitoral traz algumas rusgas, algumas coisas que não deveriam acontecer, mas acontecem. (Quero) deixar uma mensagem de que Brasília precisa voltar a crescer. Achar seu futuro, seu rumo. Temos muito o que fazer pela cidade. Todos aqueles que quiserem vir no projeto estão incluídos, independentemente de em quem tenham votado.

Há algum político que te inspire?

Acho que temos alguns políticos, sim. Por incrível que pareça, sou apaixonado por Getúlio Vargas. Ele foi um grande estadista e, em seu tempo, um grande político. Getúlio é muito uma figura de uma pessoa que sabia ser autoridade sem ser autoritário.

Tancredo Neves também?

Sou apaixonado por Tancredo pela arte do diálogo. O Brasil perdeu muito de ele não ter assumido a Presidência da República. O país teria enfrentado menos turbulências se ele tivesse assumido. Gosto muito de ouvir. Sou um camarada que, por mais que fale muito, gosto muito de ouvir.

Com a eleição do Bolsonaro, o senhor acha que o país viverá momentos de turbulência por essa divisão?

Acho que o PT, como os partidos de esquerda como um todo, saiu fracionado, muito dividido. A eleição do Congresso Nacional inovou muito e, Bolsonaro, por conhecer muito bem o Congresso Nacional, vai saber administrar bem e fazer uma boa política. Ele pode ser tudo, menos burro.

O que o senhor pensa sobre o discurso de que ele é truculento e de que vai pregar a violência?

Sinceramente, acho que ele vai mostrar totalmente o contrário. Acho que ele sabe a responsabilidade que recai sobre os ombros dele, assim como sei a minha. Ele vai fazer uma política de união. Ele sabe que o país precisa disso.

Quando as urnas confirmaram sua eleição para governador do Distrito Federal nos próximos quatro anos, o que lhe veio à mente?

Veio a imagem do meu pai. Ele foi a pessoa mais importante na minha vida, morreu em dezembro do ano passado, mas sei que está acompanhando tudo isso. Quando voltei a Brasília para estudar, foi com muita dificuldade. Vim morar com as minhas tias e, de vez em quando, ele e minha mãe mandavam sacos de mantimentos para ajudar. Agora, eu olho para trás e vejo que nunca parei de estudar e de trabalhar, não teve um dia na vida em que eu não trabalhei e estudei. E isso eu devo ao meu pai.

Além dos eleitores que lhe deram vitória, quem é a pessoa que o senhor agradece por esse momento?

Tem muita gente. Minhas tias, que me acolheram como filho quando morei em Sobradinho, que eu amo muito, minha mãe. E muitos amigos que participaram dessa história que começou como uma possibilidade e veio se consolidando com o tempo.

A rotina de um governador é estressante, sem tempo para a família, para pedalar como o senhor gosta, por exemplo. Manterá encontros semanais com os amigos? Você será pai em poucos meses, como lidar com a paternidade e o governo?

Vou tentar levar a vida mais normal possível. Sei que há muito trabalho para ser feito e eu não vou decepcionar ninguém, mas sei delegar e cobrar, e este será o princípio da administração. Vamos ver como será, mas quero continuar pedalando, encontrando os amigos, cozinhando, fazendo as coisas que eu gosto. Claro que muita coisa vai mudar, incluindo a chegada do Mateus, mas acho que há espaço para tudo. Eu sempre trabalhei muito, mas sempre reservei tempo para mim, para a família e para os amigos.

Governantes têm o costume de se distanciar dos eleitores depois que chegam ao poder. Como será sua interlocução com o brasiliense?

Não é fácil lidar com as responsabilidades do poder, mas acho que estou preparado para isso. Eu quero governar ouvindo as pessoas e vou abrir canais para facilitar esse contato. Além disso, não vou deixar de ir à feira, me reunir com o povo; não quero deixar de fazer nada que eu gosto.

Por falar em poder, qual sua relação com ele?

Eu sou muito tranquilo em relação a isso. Não me deslumbro. O poder é bom quando você quer fazer o bem, te dá oportunidade de ajudar mais pessoas. E é só por isso que eu entrei nessa. Estava com a vida estabilizada, sem necessidade de nada, mas acho que posso dar uma contribuição, porque o ambiente estava ruim demais, não é? Eu não tinha em quem votar, me dava uma angústia olhar para o quadro e não ver ninguém. Eu nasci em Brasília, sou filho de um sonho, porque meus pais vieram para cá em busca de uma vida melhor. Eu quero resgatar esse sonho.

A residência oficial de Águas Claras será um espaço destinado a quê?

Eu recebi uma sugestão do Alírio (Neto), que foi candidato a vice na chapa da Eliana (Pedrosa), de transformar aquilo num centro de cuidados às pessoas deficientes. Temos 600 mil deficientes no Distrito Federal. Ainda vou me debruçar melhor sobre o projeto, ver o que podemos fazer ali, mas é uma destinação muito melhor do que a de uma residência oficial que não é mais necessária, como foi nos primeiros anos de Brasília.

Como será sua relação com os secretários?

De trabalho com metas. Vou traçar as metas das políticas públicas e cobrar a realização, quem não der conta terá de dar lugar a outro. É assim que sempre trabalhei.

Em qual momento sentiu que poderia vencer as eleições?

Pode parecer incrível, mas sempre achei que poderia vencer. A minha insatisfação era igual à da maioria da população; como eu, todo mundo estava cansado dos mesmos políticos de sempre e eu sentia isso. Havia espaço para alguém novo, mas que mostrasse alguma experiência, o que é o meu perfil. Acabou que o Distrito Federal acreditou que eu poderia fazer diferente, e vou mostrar que realmente posso, porque acredito que é possível fazer política boa, com pessoas boas, interessadas no bem público.

Como o senhor quer ser lembrado depois de deixar o governo?

Como um cara que trabalhou muito e devolveu a esperança para as pessoas.

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