Ana Viriato
postado em 07/11/2018 06:00
Em busca de soluções para o Centro Administrativo de Brasília (Centrad), um dos maiores elefantes brancos da capital, o governador eleito do DF, Ibaneis Rocha (MDB), conversou, ontem, com o presidente da Caixa Econômica Federal, Nelson Antônio de Souza, e diretores da instituição, principal financiadora do imóvel. O emedebista aproveitou o encontro para discutir também a captação de subsídios que viabilizariam o cumprimento de promessas de campanha, como a construção de um túnel no centro de Taguatinga. Para emplacar outras propostas, o advogado ainda buscou, no mesmo dia, recursos no Banco do Brasil e na Inframerica, responsável pela administração do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek.
A reunião com os representantes da Caixa começou por volta das 18h. A Ibaneis, eles apresentaram quatro propostas para possibilitar o uso do Centrad. Entre as discussões, o emedebista indicou preferência pela compra do espaço, onde estuda abrigar, a partir de março de 2019, parte dos órgãos do Executivo local, além da Universidade Pública Distrital. Ao todo, a instituição e o banco Santander financiaram o imóvel, que custou R$ 1,140 bilhão, por meio de empréstimo ao consórcio executor, formado por Via Engenharia e Odebrecht. O local, no entanto, está abandonado devido à cassação do Habite-se pela Justiça (leia Memória).
A perspectiva do governador eleito é negociar a redução do valor da compra. ;Vamos pleitear a baixa dos juros para que a dívida diminua, além de um financiamento que não comprometa tanto o orçamento do DF. Quero igualar as parcelas ao que pagamos de aluguel de espaços, o equivalente a cerca de R$ 60 milhões ao ano, e ainda pretendo conquistar uma carência;, adiantou Ibaneis. Porém, ele reconheceu que o plano teria de ser discutido com o consórcio executor da obra e a Justiça. ;A partir de agora, a nossa área técnica vai desenvolver, com a área técnica da Caixa Econômica, uma proposta para apresentarmos aos órgãos de controle, ao Judiciário e ao Ministério Público, tendo em vista que a questão está judicializada;, explicou.
Na Caixa, além pleitear recursos para o túnel de Taguatinga, Ibaneis conversou sobre projetos de saneamento. ;Pretendemos apresentar propostas para Vicente Pires, Sol Nascente, Pôr do Sol, Fercal e outras regiões;, pontuou. E emendou: ;Além disso, a instituição está preparada para assinar o repasse de 12 mil moradias, que acabou prejudicado pelo impasse do Centrad. E quero mais 20 mil residências conveniadas;, detalhou.
Mobilidade
Antes de encontrar representantes da Caixa, Ibaneis Rocha conversou com o vice-presidente de Governo do Banco do Brasil, José Eduardo Pereira. O emedebista buscou se inteirar do investimento de R$ 100 milhões da instituição no Anel Viário Norte (ligação entre a BR-040 e a BR-020) e tratou da captação de novos recursos. Conversou também a respeito do valor de R$ 1 bilhão que o BB pretende alocar no setor local de Tecnologia da Informação.
Ibaneis abordou, ainda, aspectos que impedem o setor produtivo do DF de utilizar 100% dos recursos destinados à capital pelo Fundo de Financiamento do Centro-Oeste (FCO). Um dos problemas enfrentados pelo empresariado para conquistar os créditos desse caixa decorre da falta de titularidade de terras onde funcionam os negócios ou da possibilidade de entregar terrenos de moradia como garantia. ;Pretendemos trazer servidores da Procuradoria do DF e da Terracap para discutir saídas jurídicas viáveis e rápidas. Hoje, Brasília devolve de 25% a 30% do que capta;, observou.
À tarde, Ibaneis reuniu-se com o presidente da Inframerica, que embarcou ontem para a Argentina para tratar do orçamento da operadora aeroportuária para 2019. O objetivo é captar recursos para a construção de um aeroporto de cargas no DF.
Fiscalização
O governador eleito também deu enfoque, ontem, às áreas de fiscalização e transparência da futura gestão. Para obter informações sobre licitações paralisadas devido à identificação de irregularidades, visitou o Tribunal de Contas do DF (TCDF). Presidente da Corte, a conselheira Anilcéia Machado comprometeu-se a disponibilizar uma lista dos processos questionados ; a relação inclui concorrências destinadas à concessão do ArenaPlex e à compra de itens para os setores de educação, saúde e segurança.
O emedebista adiantou que pedirá ao Buriti a indicação de um procurador do Distrito Federal para auxiliar na preparação de ;todas as informações necessárias para destravar os contratos;. ;Vamos analisar aqueles que são prioritários para dar uma resposta imediata à população. Sei que muitas coisas são relacionadas a parcerias público-privadas e outras vinculadas a transporte público;, afirmou.
No Tribunal de Contas da União (TCU), o emedebista pediu ao presidente da Corte, Raimundo Carreiro, a indicação de um nome para comandar a pasta de Transparência, que estuda criar. ;Quero que seja um servidor ativo ou inativo do TCU. O ministro se comprometeu a entregar uma lista com algumas sugestões de pessoas com experiência na área;, revelou.
Memória
Inauguração e abandono
A ideia de construir um prédio para abrigar todos os órgãos do GDF começou a ser colocada em prática em um contrato de parceria público-privada firmado em 2009 pelo então governador José Roberto Arruda (PR). O projeto previa que a concessionária do Centro Administrativo do DF (Centrad) (foto), formada pelas empreiteiras Odebrecht e Via Engenharia, construiria o prédio, com uma área de 182 mil metros quadrados, e poderia explorá-lo comercialmente pelo prazo de 22 anos. O GDF pagaria parcelas mensais para ocupar o local. O Centrad foi inaugurado em Taguatinga sem nenhuma estrutura de escritório no último dia de mandato do governador Agnelo Queiroz (PT) em 31 de dezembro de 2014. Na ocasião, Agnelo liberou o Habite-se do prédio. Em delação na Operação Lava-Jato, o executivo João Antônio Pacífico disse que a Odebrecht negociou o repasse de R$ 15 milhões a Agnelo e o ex-vice-governador Tadeu Filippelli (MDB) em troca de agilidade na ocupação do Centrad. Quando assumiu o GDF, o governador Rodrigo Rollemberg deixou de lado a estrutura, alegando que os custos para colocá-la em funcionamento seriam maiores do que alugueis pagos.