Cidades

Candidatos consideram difíceis provas do segundo dia do Enem

Assim como no domingo anterior, não ocorreram incidentes no segundo dia de provas do exame nacional em Brasília. Houve questões sobre rastreamento de bagagem nos aviões e até o jogo Minecraft, que exigia conhecimentos para calcular a dimensão de um cubo

Renata Rios, Otávio Augusto
postado em 12/11/2018 07:00
Lucas, 16 anos, fez a prova para treinar: perguntas sobre tecnologia e geometria espacial estavam difíceis

Corrente elétrica em peixes, rastreamento de gato por radiofrequência e cruzamento de orquídeas foram alguns dos temas abordados pelas questões aplicadas neste domingo (12/8), no segundo dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). As temidas exatas deixaram muito candidato em dúvida sobre o desempenho nas provas. Apesar da expectativa, o resultado oficial será divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) em janeiro. Em Brasília, as provas foram aplicadas sem transtornos.

Cálculos e fórmulas dominaram as seis horas de avaliação ontem, nas provas com 45 questões de matemática e 45, de ciências da natureza, com física, química e biologia. Uma das questões que mais chamaram a atenção dos candidatos se inspirou no popular jogo virtual Minecraft. Ela exigiu conhecimentos para calcular a dimensão de um cubo. Houve ainda questões inspiradas na fruta atemoia, no Salão do Automóvel de São Paulo, nos pedágios das estradas e nos carros ;flex;, que funcionam com etanol e gasolina.

Pelo segundo ano consecutivo, Marcela Moreira, 18 anos, tenta ingressar no curso de medicina da Escola Superior de Ciências da Saúde (Escs) por meio do Enem. Ela focou os esforços no estudo nos cursinhos preparatórios. Marcela sabe da importância das exatas para a contagem da nota. ;O importante é tirar uma nota alta que as portas se abrem. Tem muito curso de medicina bom pelo país. Se for o caso, eu me mudo para outra cidade;, contou, confiante.

A psicóloga Yasmin Oliveira, 23 anos, fez a prova para tentar ingressar no curso de libras na Universidade de Brasília (UnB). Ela conta que algumas questões chamaram a atenção pelo grau de dificuldade. ;Tinha uma questão sobre um jogo (Minecraft), outra sobre mutação genética. Lembro -me de uma pergunta também sobre o touch do celular, que falava sobre força. Enfim, tinha muita questão ligada a tecnologia, como já era esperado;, comentou.

Os primeiros alunos e professores que fizeram as provas relataram que questões de ciências da natureza tiveram maior incidência no caderno de química. Dessa disciplina, houve 19 questões, enquanto biologia e física tiveram 13 questões, cada. Apesar do grau de dificuldade, Rebeca Cristine, 17 anos, está esperançosa. Ela foi a segunda participante a deixar o CEF 120, em Samambaia. ;A prova de biologia está bem complicada, a prova foi bem mais tranquila do que a primeira. Minha nota será muito maior nas exatas;, aposta.

Lucas Pereira, 16 anos, foi um dos primeiros a terminar a prova do Enem na Upis. Ele fez a prova apenas para treinar porque ainda está no 2; ano do ensino médio. ;O que mais me chamou a atenção foi a quantidade de questões sobre tecnologia e geometria espacial;, relatou. Ele também contou que, mesmo tendo feito o exame no ano passado, quando ainda estava no 1; ano, a prova deste ano pareceu mais difícil. ;Estava bem balanceado, muito conteúdo dos três anos do ensino médio. Mas este ano as questões estavam mais difíceis.;

Segunda graduação


Umas das estudantes mais seguras era Eliane Pereira Nunes, 18 anos. Ela quer cursar nutrição e tentou a prova pela segunda vez. Na avaliação dela, o nível dessa edição foi mediano. ;Acredito que chutei apenas 20% das questões;, brincou, desconfiada. As questões de física foram as mais desafiadoras e todos os itens estavam complicados, mas ela saiu otimista. ;Me senti segura ao longo da prova, os conteúdos que estudei caíram todos;, detalhou.

Sarah Guerreiro, 22 anos, cursou geologia, mas decidiu tentar o Enem como uma chance de cursar uma segunda graduação. Acompanhada do namorado, Everton Silva, 28 anos, a jovem se mostrava otimista. ;Me enrolei um pouco no primeiro dia, mas acredito que, sem a redação, consiga me organizar mais;, explicou. Apesar de fazer a prova, a menina ainda não tem certeza de qual carreira seguir. ;Acredito que vou optar por algo na área da biologia.;

;Nível médio;


Docente de química do Sistema SAS, Michel Henri classificou a prova com grau de dificuldade intermediário. ;Foi mais fácil do que no ano passado, quando as questões foram muito criticadas pela dificuldade. Química, em 2017, foi muito inacessível;, comparou. Para ele, apenas três questões de sua disciplina envolveram cálculos mais complexos: ;Elas envolviam termoquímica e química orgânica.;

As questões de física também foram mais fáceis, segundo Léo Gomes, professor de física do Descomplica. ;Foi uma prova de nível médio, com duas ou três questões que podiam trazer mais dificuldade;, ponderou. Entre elas, havia uma que envolvia prisma e outra que citava ondas, exigindo interpretação de tabelas e compreensão das cores de uma pessoa daltônica. ;Outra, também um pouco mais difícil, abordava o sistema elétrico de um alto-falante, em uma situação na qual se invertia as polaridades;, explicou.

A estudante Suzana Rodrigues, 21 anos, discorda. Ela fez o Enem pela terceira vez e achou a prova mais difícil do que no ano passado. ;O conteúdo dificultou, principalmente em geometria espacial. Física foi a mais complicada. Não estou confiante. Chutei muitas questões. Só passo por milagre;, comentou a menina, que sonha com uma vaga no curso de direito.

30,8%
Percentual da abstenção no DF, ontem, maior que o primeiro dia, quando foi de 25,7%

Com o pé quebrado, Thaísa de Melo entrou no local das provas, em cima da hora, nas costas do namorado, Marcos Vinícius Oliveira, que também fez a avaliação

Estudante chega carregada

Nas costas do namorado, segurando muletas e com o pé esquerdo imobilizado, Thaísa de Melo, 24 anos, chegou carregada ao local de provas, o UniCeub, na 907 Norte. Thaísa mora na 310 Norte, mas o trânsito complicado atrasou o deslocamento. Aí começaram os minutos de agonia.

Ainda no carro, o casal começou a pensar em alternativas. Concluíram que era melhor terminar o percurso caminhando. Com o pé quebrado, Thaísa não conseguiria correr. Marcos Vinícius Oliveira, 24 anos, a segurou nas costas e arrancou. ;Foram uns cinco minutos;, contou a jovem.

Thaísa e Marcos conseguiram chegar a tempo. Após a recuperação, Thaísa pretende fazer a graduação em dança na UnB. Marcos Vinícius ainda não se decidiu. Está dividido entre acompanhar a namorada ou tentar a psicologia.

O casal foi um dos últimos a passar pelo portão do UniCeub. ;Pedimos um carro por aplicativo e ele atrasou. Faltando cinco minutos para os portões fecharem , a gente desceu, ele me colocou nas costas e correu. Pensei que não daria tempo;, relatou. A estudante quebrou o pé há duas semanas, descendo do ônibus.

Assim como a maioria dos estudantes, teve mais dificuldades com as questões exatas e comenta que a parte mais difícil foram as questões de biologia. ;É uma dificuldade pessoal, sempre tive, mas estou otimista;, concluiu.

Após a prova, a estudante ainda brincou com a situação dramática que enfrentou e minimizou as dificuldades. ;O pé quebrado não atrapalhou nem um pouco a logística. Na verdade, facilitou. Entrei carregada e saí de cadeira de rodas;, disse, aos risos. (OA e MA)

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