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Fim da seca muda a paisagem e dá novas cores ao cerrado

Em 2018, o Distrito Federal viveu 82 dias de seca, com gramados marrons, poeira nas ruas e árvores sem folhas. Agora, o verde se destaca em parques, praças e nas regiões arborizadas da capital

Mariana Machado
postado em 16/11/2018 06:00

Vista da Esplanada na seca e no período de chuva

É de pés descalços e cabelos soltos que o pequeno Morari Joaquim Lucena, de apenas 2 anos, corre pela grama verde do Parque Olhos D;Água, na Asa Norte. O menino aproveita a manhã de sol para jogar bola com o pai, o professor Daniel Lucena, 31, e o tio, o artista visual Thiago Lucena, 33. Depois da volta da chuva, a grama está macia e colorida, confortável para os pezinhos miúdos do menino.

Em 2018, o Distrito Federal viveu 82 dias de seca, com gramados marrons, poeira nas ruas e árvores sem folhas. Agora, o verde se destaca em parques, praças e nas regiões arborizadas da capital. Thiago Lucena comemora e conta que prefere o clima atual do que a estiagem que assola Brasília anualmente entre os meses de maio e setembro. ;No auge da seca, qualquer atividade física a partir das 10h é impraticável. Uma corrida de 2km já te mata;, afirma.

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O primo dele, Daniel, acredita que a chuva causa alguns transtornos. ;Eu faço muitos esportes ao ar livre. Jogo tênis, pedalo, e nessa época em que estamos, a chuva atrapalha. Mas pelo menos em Brasília sempre tem uma janela de sol. Se a gente ficar esperto, consegue aproveitar;, ressalta. Para ele, o ideal mesmo seria o equilíbrio. Daniel conta que na transição das estações, acaba sofrendo com a saúde. ;Nosso sistema imunológico sempre sente a mudança; eu mesmo sempre tenho dor de cabeça;.

Enquanto o trio joga futebol, o professor e fotógrafo Silvio Martins, 52, descansa e escuta música sob a sombra de um pequizeiro carregado. O paulista que está em Brasília há um ano e meio sente a diferença entre o clima de São Paulo e do cerrado. ;A maior diferença é a seca. O clima parece com o de deserto;, pondera.

Silvio ri ao dizer que, até poucos meses, não acreditava quando lhe diziam que em Brasília chove bastante. ;É uma cidade maravilhosa e única. No Brasil, faltou investir em mais lugares assim;, elogia. Ele conta que gosta principalmente das últimas semanas da seca, quando os ipês florescem. No Distrito Federal existem mais de 700 mil pés plantados. Somente no Plano Piloto são aproximadamente 200 mil exemplares da espécie. A floração começa em junho, com os buquês roxos, mas só termina em março, quando acaba a época do ipê-verde, menos percebido do que os de demais cores.

Magáli, João Cesar e Lucas aproveitam o período para colher frutas

Frutos

Este ano, o fim do período de estiagem foi declarado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) em 18 de setembro. A expectativa é a de que ainda chova muito até janeiro e, com a mudança, vêm as frutas da época. Segundo a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), existem cerca de 5,5 milhões de árvores frutíferas plantadas em todo o DF. Em novembro, mangas, pitangas, uvas-do-pará, pequis e jenipapos são algumas das frutas que colorem a cidade.

Bônus para quem sabe aproveitar. O casal de dentistas Magáli de Faria, 57, e João César de Faria, 61, sai para fazer caminhada todos os dias, sempre com uma sacolinha para colher os frutos que encontrarem pelo caminho. A favorita é o pequi. ;A gente tem um quintal orgânico. Moramos em Brasília há mais de 20 anos e gostamos mais da época de chuva, não apenas porque fica tudo verdinho, mas pela água de que tanto precisamos;, comenta Magáli.

O esposo dela destaca as vantagens de se viver em uma cidade com parques. ;A Asa Norte, onde moramos, é uma verdadeira chácara. Podemos pegar mangas, pitangas, acerolas e é tudo orgânico. Vamos vivendo em meio à natureza;, elogia. O neto, Lucas, de 1 ano, vai com os avós no carrinho para ajudar a coletar os frutos.

Daniel, Thiago e Morari curtem um momento de sol no Olhos D'Água

Vida selvagem

Não são apenas os humanos que sentem a diferença das estações. No Zoológico de Brasília, muita coisa muda para a vida selvagem, como explica o biólogo Thiago Marques. Segundo ele, enquanto a seca exige cuidados, especialmente para aqueles animais vindos da Floresta Amazônica e Mata Atlântica. ;Enriquecemos a alimentação com comidas ricas em água e aumentamos a umidade dos recintos;.

Na chuva, a bicharada faz a festa. Elefantes, primatas e tamanduás adoram água e se divertem principalmente com a lama formada. ;Nossos animais, principalmente os que são do cerrado estão acostumados com essa variação no clima, mas com certeza é mais tranquilo na chuva;, explica o biólogo.

Enquanto nas áreas urbanas o mato alto precisa ser podado, dentro dos ambientes do zoológico, esse crescimento é visto com bons olhos. ;Temos árvores frutíferas que fornecem alimento e a vegetação maior serve de esconderijo e favorece o acasalamento das espécies;, destaca Thiago, que completa: ;Tudo isso ajuda a estimular o comportamento natural deles;.

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