Jornal Correio Braziliense

Cidades

Bancada da segurança na Câmara Legislativa planeja atuar em bloco

Um quarto dos deputados distritais eleitos veio das corporações civil e militares. Se conseguirem superar desavenças históricas entre as instituições, eles podem ter força para emplacar projetos e influenciar o futuro governador

Com um quarto dos representantes da futura Câmara Legislativa, os distritais da segurança pública terão força no próximo mandato. Os seis nomes eleitos, vindos das polícias Civis e Militar, do Corpo de Bombeiros e da Aeronáutica pretendem dialogar e avaliam a criação de uma Frente Parlamentar para defender os interesses das categorias e lutar contra a criminalidade no Distrito Federal. Caso o grupo se forme de fato, ele pode ser a bancada mais numerosa da Casa, emplacar projetos e influenciar decisões importantes do futuro governador Ibaneis Rocha (MDB) para as corporações.

Para conseguir consolidar o projeto, no entanto, o grupo de distritais precisa superar barreiras históricas e desavenças entre as corporações. Nos últimos dias, a nomeação do deputado federal Laerte Bessa (PR), delegado da Polícia Civil, para o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), reacendeu a polêmica entre os grupos. O GSI, criado pelo governador eleito, substituirá a Casa Militar. PMs reagiram mal à proposta e reclamaram de falta de diálogo. O também deputado federal e coronel da reserva da PM Alberto Fraga (DEM) usou a tribuna da Câmara dos Deputados para criticar a ideia e se desentendeu com Bessa. Os dois parlamentares trocaram empurrões e ofensas.

Consultor em segurança pública e doutor em políticas públicas pela George Washington University (GWU), George Felipe Dantas observa que o maior número de distritais da Polícia Civil e os primeiros atos do governador, como a criação do GSI, mostram, ao menos por enquanto, uma tendência de mais força política para a PCDF. ;Isso revela que existe um embate político entre essas forças e a decisão do GSI indica já algum predomínio da Polícia Civil;, pondera Dantas. Entre os parlamentares eleitos, há três da Polícia Civil, um da PM, um do Corpo de Bombeiros e outro da Aeronáutica.

Inimigo em comum

Com 29 anos de corporação, o subtenente da PM Hermeto (PHS) destaca que todos os distritais que passaram por forças de seguranças precisam compreender que têm o mesmo objetivo. ;Independentemente de qual a corporação fazemos parte, seja PM, PCDF e Bombeiros, não podemos trabalhar com divisão. Estamos do mesmo lado. Quem ganha, se não nos unirmos, é o bandido, o nosso inimigo, que está nas ruas.;

Apesar do discurso de união, recentemente Hermeto reagiu à nomeação da tenente-coronel Sheyla Sampaio para o comando da Polícia Militar. Ele reclamou que os integrantes da PM não tiveram oportunidade de apresentar lista tríplice para a escolha, enquanto, no caso da Polícia Civil, o processo, considerado mais democrático, foi seguido. Ele se encontrou com o governador Ibaneis Rocha para pedir mais atenção para a PM.

Mesmo com a ressalva de que não deixará de lado outras áreas, Hermeto tem, entre as prioridades, ações voltadas para a Polícia Militar. ;Sou o primeiro policial militar ainda na ativa eleito como distrital. Precisamos pensar em como suprir a nossa falta de efetivo. Temos de ser realistas e entender que não teremos mais a quantidade de oficiais dos anos 1990;, diz. Para driblar a falta de efetivo, o distrital eleito planeja apresentar projetos e ideias que estimulem o uso da tecnologia e da inteligência. ;O uso de tecnologias avançadas em viaturas e de identificador facial, por exemplo, podem ser uma alternativa;, completa.

Disputa por comissão

Mesmo com as desavenças, os distritais garantem que é possível se entender. A Presidência da Comissão de Segurança ; que cuida de temas ligados ao setor e ações preventivas ; é um dos postos visados por alguns dos membros do grupo de distritais. ;Defendo que o presidente seja alguém da área. Não é que um deputado de outro setor não possa tocar o trabalho com competência, mas acredito ser positivo ser um desses seis que passaram pela segurança;, diz o distrital reeleito Cláudio Abrantes (PDT), policial civil há 25 anos.

Para Abrantes, com a formação da bancada será possível articular com o GDF com mais efetividade. ;Isso facilita para que o governo seja convencido das nossas demandas.; Ele acrescenta que os parlamentares podem, de maneira mais direta, usar emendas para a melhoria de equipamentos públicos de segurança.

A paridade do salário da Polícia Civil com a Federal, a reestruturação dos planos de carreira da PM e do Corpo de Bombeiros são algumas das bandeiras que Abrantes defenderá no próximo mandato. ;Também vamos trabalhar para o aumento do efetivo. Não é possível se fazer segurança pública sem material humano e isso também passa pela abertura das delegacias que estão fechadas;, avalia.

Outras bandeiras

Integrantes da Polícia Civil há 19 anos, Reginaldo Sardinha (Avante) ainda não conversou com os demais distritais da área da segurança sobre a frente parlamentar, mas diz ser contrário à formação de uma ;bancada da bala como a do Congresso Nacional;. ;Não quero exercer meu mandato apenas em cima da bandeira da segurança. Pretendo lutar também pela educação e saúde, por exemplo. Mas se reunir com outros parlamentares para dialogar sobre melhorias na segurança e nas corporações não é nada mais que a obrigação de um distrital;, garante.

O futuro parlamentar, que tem como eleitores integrantes da Polícia Civil e do sistema prisional, quer aproveitar que é da base governo de Ibaneis para cobrar o cumprimento de promessas do governador eleito, como dar a paridade salarial da Polícia civil em relação à Federal. ;Além disso, quero levantar na CLDF a necessidade de se criar um fundo de saúde na polícia civil. Venho argumentando que os policiais não têm plano de saúde, diferente de outras categorias do poder judiciário e legislativo;, explica.

O delegado Fernando Fernandes também se reuniu com todos os distritais vindos da segurança pública. A criação de uma bancada veio a debate, mas não há nada acertado ou definido. Por meio da assessoria de imprensa, o futuro parlamentar informou, porém, que vê como positiva a possibilidade de formar grupo para debater projetos de interesse da comunidade.

Estrutura

Subtenente da reserva do Corpo de Bombeiros há 25 anos, o distrital eleito Roosevelt Vilela (PSB) vê como fundamental a união de parlamentares da área em um grupo que possa dialogar e apresentar projetos para o DF. ;A gente pode avançar muito assim. A partir de janeiro, acredito que isso acontecerá naturalmente;, ressalta.

Eleito pelo partido do atual governador Rodrigo Rollemberg, PSB, Vilela diz que será um fiscal das promessas feitas pelo futuro chefe do Palácio do Buriti, Ibaneis Rocha (MDB). ;Estarei bastante atento para que os compromissos, muitos deles muito importantes para as corporações, sejam efetivados;, comentou.

Além da valorização das três categorias, Vilela acrescenta que defenderá pautas específicas do Corpo de Bombeiros. ;Precisamos trabalhar para a construção de um Centro de Formação de Praças e de uma casa para os nossos oficiais inativos, além de um plano de carreira com promoções, independentemente de vagas;, afirmou.

O militar reformado da Aeronáutica Iolando (PSC) conversou com alguns distritais da área da segurança, como Cláudio Abrantes, Sardinha e Roosevelt, mas afirma que o grupo ainda não debateu especificamente a criação de uma bancada. ;Somos da área da segurança; então, pode ser automática essa junção. Vamos conversar e saber se é viável;. Iolando entrou para a Aeronáutica aos 18 anos, serviu por cinco anos até sofrer um acidente de moto na corporação.

O distrital eleito passou as últimas semanas visitando batalhões da PM para saber das condições e queixas da corporação. ;A atual gestão deu uma boa recuperada na questão estrutural da polícia militar, com compra de novas viaturas e coletes, mas é necessário garantir mais;, explica. A proposta principal de Iolando é valorizar o policial, e não só por meio de aumento salarial.