Jéssica Eufrásio
postado em 16/11/2018 06:00
Em choque. É assim que Paula*, 35 anos, resume seu estado emocional e físico 24h após o marido, Rogério*, 48, e a filha mais nova, Ana*, 2, serem sequestrados durante um assalto em Samambaia, na noite de quarta-feira. Em casa, a criança passou boa parte do dia olhando apenas para baixo e com episódios de choro repentino. Somente no início da noite de ontem, a bebê conseguiu abraçar o pai. Lentamente, a menina se aproxima dos primos e a família tenta voltar à rotina.
A ligação desesperada do sargento do Corpo de Bombeiros avisando Paula de que ele e a filha haviam sido levados por bandidos deixou a dona de casa em pânico. A neném ainda estava em poder dos criminosos. ;De início, foi um choque. Chorei, fiquei desesperada. Minha filha maior ouviu um pouco da conversa e, vendo minha reação, também entrou em pânico;, diz a mãe. A menina gritou , tentou correr para encontrar o pai e teve de ser contida .
Entre a abordagem dos bandidos até o pais segurarem de novo Ana no colo, passaram-se cerca de 20 minutos. Quando a menina foi retirada do carro pelos policiais, ela se recusou a ir para os braços de Rogério. ;Acharam que estava morta, porque ela estava caída na cadeirinha, mas, quando a pegaram, ela começou a chorar. Eu estava bastante ensanguentado e ela chorava me chamando, mas não vinha para mim. Era como se não me reconhecesse;, detalha Rogério.
Antes de seguirem para uma unidade de saúde, pai e filha foram levados para a casa onde Paula e os demais familiares estavam. ;Na hora, precisei arranjar forças porque a polícia chegou com a neném e tive de levá-la ao hospital;, relembra Paula. ;(Agora) estou mais anestesiada;, resume. Rogério levou pontos nas mãos, na cabeça e no supercílio. Ana não se feriu.
Era 19h10 de quarta-feira, quando Rogério estacionou a caminhonete na frente da casa de parentes, em Samambaia. Chovia forte e ele teve de ficar alguns minutos dentro do veículo. Enquanto isso, começou a tirar a menina da cadeirinha. Antes que pudesse descer, no entanto, foi abordado por um homem armado. Sob a mira de um revólver, foi obrigado a passar para o banco do passageiro enquanto o criminoso assumiu a direção do veículo até uma quadra próxima, onde dois outros homens entraram no carro.
Rogério tentou se desvencilhar do grupo e começou a ser espancado com coronhadas e socos. ;Enquanto eles me batiam, espirrava sangue na blusa da minha filha. O corte no supercílio foi profundo, e o sangue também esguichou nela;, relembra. Após um ;mata-leão;, Rogério diz que foi jogado no banco de trás e ficou inconsciente por alguns minutos. ;Minha filha gritava . Quando abri um pouco os olhos, vi que ela estava no colo de um deles. Ele apontava a arma para ela e dizia que, se eu reagisse, atiraria.;
Quando Rogério avistou um carro da polícia, pulou da caminhonete. Os policiais deram início a uma perseguição. Um dos carros da PM capotou, mas outras equipes conseguiram cercar o carro do bombeiro em Samambaia Norte e resgatar a criança. Os criminosos, no entanto, fugiram a pé mata adentro e só foram presos por volta das 6h de ontem, no Recanto das Emas, após troca de tiros.
De acordo com o comandante da Rotam, major Cláudio Peres, os integrantes do grupo têm 15, 21 e 21 anos. O mais novo foi encaminhado à Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) 2; os demais, à 27; Delegacia de Polícia (Recanto das Emas). O rapaz de 21 anos, foi baleado e passará por cirurgia. A polícia suspeita que uma quarta pessoa tenha dado apoio à ação do grupo.
*Nomes fictícios a pedido da família e em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)