Cidades

Prata da Casa: conheça a história da cantora Rose Galvão, a voz dos bailes

A artista precisou enfrentar o rigor de um pai militar dentro de casa para seguir a carreira nos anos 1980 e 1990 e agora quer voltar aos palcos

Jéssica Andrade*
postado em 16/11/2018 17:00
Hoje, Rose dá aulas de história e aproveitou uma apresentação na escola para retomar a carreira
As bandas de baile do Distrito Federal brilharam entre as décadas de 1970 e 1990. Se o leitor nasceu depois disso, talvez não saiba nem o que é uma banda de baile, mas, provavelmente, já ouviu algum desses grupos no palco de uma formatura, em um evento corporativo ou em um casamento, tocando um pouco de tudo: do pop ao forró, do jazz ao axé e do sertanejo ao rock. Por trás dessas animadas apresentações está a história de Rose Galvão, 50 anos, uma das principais vozes da época, que, agora, promete voltar aos palcos.
Filha de militar, Rose Galvão nasceu no Rio de Janeiro, em 1968. Mudou-se para Brasília, em 1974, quando o pai foi transferido para a capital. Uma época de repressão política e social, mas sem marcas profundas para ela. ;Eu vivi a parte ;feliz; da ditadura. Tive uma boa infância;, lembra. Mas se as notícias de desaparecidos e torturas não frequentavam a casa de Rose, a disciplina militar, ditada pelo pai, então tenente da Aeronáutica, a acompanhou durante toda a vida.
Quando criança, Rose sonhava em ser artista. ;Eu me olhava no espelho e ficava cantando para me sentir cantora;, recorda. Aos 16 anos, fazia, semanalmente, um percurso de casa, no Guará, até Taguatinga, onde tinha aulas de inglês. ;Certo dia, ouvi uma música ali perto do cursinho. Descobri que uma banda ensaiava e tocava por ali;, conta. A moça, então, passou a acompanhar os ensaios e, ousadamente, se disponibilizava para cantar. ;Olhem, eu sou cantora, se precisarem;;. Rose, no entanto, nunca havia cantado, a não ser em frente ao espelho.
;Aconteceu que o grupo se dividiu. Um dos líderes criou outra banda, a Tropical, e me chamou para ser vocalista;. O maior desafio, no entanto, não era a falta de preparo e experiência, mas convencer o pai, Bartolomeu Souza, a deixá-la cantar. ;Meu pai achava que cantoras eram prostitutas drogadas. Ele disse que, de forma alguma, me deixaria cantar;, relata. Após muita insistência, o pai prometeu que ela poderia subir aos palcos, mas só depois que passasse no vestibular. Ela estudou e entrou na faculdade, porém, a promessa não foi cumprida.
Rose não desistiu. ;Disse para ele que ia sair de casa, viver minha vida e realizar meus sonhos. Nesse momento, ele me agrediu;, lembra, com tristeza. Hoje, Rose enxerga que aquele foi uma atitude pontual. No fim, o carinho do pai pela filha se mostrou maior que o conservadorismo. O tenente Souza deu permissão para que ela entrasse na banda, desde que a mãe, dona Nádia, a acompanhasse nos bailes. As bandas de baile estavam em alta. Os palcos eram os clubes, tanto os particulares ; Minas Brasília e Iate Clube, no Plano Piloto; Primavera e City, em Taguatinga ; quanto os de associações de funcionários públicos.
A banda Tropical se tornou um dos maiores sucessos das décadas de 1980 e 1990. Rose guarda com carinho as inúmeras matérias jornalísticas que comprovam o triunfo do grupo na época. ;Uma vez, em 1987, fizemos um show enorme no ParkShopping. Minha mãe conta que meu pai, orgulhoso, apontava para mim e dizia para todos que aquela no palco era a filha dele;, diz. Foi a única apresentação presenciada por seu Bartolomeu. Ele morreu três anos depois, de aneurisma abdominal, feliz da vida com o sucesso da filha.

Professora

Após a segunda gravidez, a artista precisou fazer uma pausa na carreira. Atualmente, é professora de história no Centro de Ensino Fundamental 18, em Ceilândia. Na escola, Rose é a responsável pelo projeto Africanidades: consciência de quê?, com o objetivo de desmistificar paradigmas e mostrar que a responsabilidade em combater o racismo é de todos.
A última edição do trabalho, em 10 de novembro, foi marcada por uma apresentação da discente, que chamou a atenção de alunos e colegas. ;No dia seguinte, todos me perguntavam por que eu estava escondendo esse talento deles;, sorri. A chama artística reacendeu em seu interior. Rose, agora, promete voltar aos poucos e mostrar a que veio. ;O verdadeiro sentido da minha vida é a música. Quero, com isso, atingir positivamente também a vida dos meus alunos. A arte, aliada à educação, transforma vidas;, finaliza.

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* Estagiária sob a supervisão de Leonardo Meireles

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