Cidades

Peladeiros de São Sebastião temem perder campo de terra

Moradores da região e jogadores do Campo São Francisco protestam contra a construção de um condomínio residencial do programa Habita Brasília

Renata Nagashima*, Aline Brito*
postado em 20/11/2018 16:46

Usuários do Campo São Francisco protestam contra a construção de um condomínio residencial em São Sebastião na área usada pelos jogadoresAtletas amadores que viram suas vidas serem transformadas por causa do esporte no Campo São Francisco, em São Sebastião, temem ter de suspender os jogos em decorrência da construção de um condomínio residencial. A obra avança para a área de um dos campos de futebol mais tradicional da cidade.

O Residencial Crixá, de casas populares, é resultado do programa Habita Brasília, que prevê a entrega de moradias com infraestrutura e equipamentos públicos à população de baixa renda. A previsão é de que atenda cerca de 2,5 mil cidadãos convocados para montagem de dossiê. Entretanto, esse empreendimento coloca em risco as partidas das 107 equipes da Liga Amadora Desportiva de São Sebastião (LADSS).

O presidente da LADSS, Hermes Ferreira, afirma que o campo tem extrema importância para a população de São Sebastião. "Nós não somos contra a construção do condomínio, mas aqui na cidade não temos muitas opções de lazer e esporte; então, o campo acaba tornando-se fundamental para a comunidade", ressalta. Hermes diz que, quando chegou à cidade, em 2005, o campo existia. "Ele é muito tradicional aqui. Não dá para tirar isso de uma hora para outra, sem ao menos consultar os moradores", lamenta.

As equipes em atividade contam com a participação de crianças de 10 anos até os veteranos, de 36 anos. São três divisões que pertencem à liga, mas somente a terceira utiliza efetivamente o campo. "São 19 equipes na terceira divisão, cada uma com 30 jogadores; então, são, aproximadamente, 570 pessoas que utilizam aquele espaço todo fim de semana. Se construírem o condomínio em cima, não teremos como remanejar essas pessoas", explica o presidente da LADSS. Segundo ele, caso a construção continue avançando, terão de reduzir de 19 para nove o número de times.

Jogadores como Vítor Mariano, do Brasiliense, e Wemerson Silva, do Santarém, de Portugal, foram revelados no Campo São Francisco. Carlos Gabriel, conhecido como Hulk, joga no Atlético Mineiro. Ele conta que o espaço foi importante na carreira dele. "Foi lá que eu comecei, com 7 anos, descobri o meu amor pelo futebol e dei os meus primeiros passos como jogador", comenta o atleta.

"São Sebastião é uma cidade carente, e a população precisa desse campo para ter uma diversão", reforça Carlos Gabriel. "Existe toda uma estrutura em volta da liga e das equipes de futebol. Os campeonatos reúnem pessoas de toda a redondeza. É um ponto forte da cidade;, completa o atleta, no terceiro ano de Atlético Mineiro.

Movimento

Flávia Pereira, 36 anos, mora praticamente em frente ao campo. Ela afirma que, todo fim de semana, o local era usado pela liga de futebol. "Antes da obra, aquele espaço era muito utilizado. Sábado e domingo, o movimento de carros e de pessoas ali era enorme. Havia muitos jogos, campeonatos; então, ficavam ali os times, os familiares dos jogadores, todos acompanhando os jogos", relata a comerciante.

"Desde que as obras começaram, pararam de utilizar o campo. A pista do condomínio está passando bem em cima, e os caminhões da obra ficam transitando ali também. Depois disso, não vi mais movimento no campo", completa Flávia.

Destino

Ao Correio, a Companhia Habitacional do Distrito Federal (Codhab) informou que a "área constava no projeto público e é destinada à habitação, que vai contar com infraestrutura e equipamentos públicos."

A Administração Regional de São Sebastião garantiu que há um processo em andamento que prevê a construção de um campo de grama sintética em outro local.

* Estagiárias sob supervisão de Guilherme Goulart

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