Cidades

Corais começam a se preparar para as apresentações natalinas

Corais começam a se preparar para as apresentações natalinas. Músicos e voluntários querem levar afeto e carinho ao público numa data tão especial

Augusto Fernandes
postado em 24/11/2018 07:00 / atualizado em 14/10/2020 12:44
Ensaio do Coral da UnB: música e conforto para os mais necessitados
A professora Natalia Carvalho, 33 anos, repete a tradição desde 2003. Naquele ano participou da primeira apresentação, quando ainda era caloura na universidade, desde então não contém a alegria ao cantar canções de Natal para crianças, jovens e idosos carentes. O que ela mais quer é aquecer um pouco os corações daqueles que muitas vezes não têm a oportunidade de aproveitar o melhor da data festiva. Assim como Natalia, outras pessoas espalhadas por Brasília dedicam um pouco dos seus tempos nesta época do ano para, por meio da música, fazer jus ao verdadeiro espírito natalino: o da fraternidade e o do amor pelo próximo.

“A voz humana tem a capacidade de fazer as pessoas se conectarem, de alguma forma, com o seu íntimo. A música, por si própria, é poderosa e, quando se junta à emoção do Natal, fica ainda mais forte. Não tem preço levar canções a um público que quase nunca tem condições de assistir a um coral e ver os olhos daquelas pessoas brilhando e suas emoções aflorando”, afirma Natalia.

A professora faz parte do Serenata de Natal, coral que existe há 38 anos. Formado em sua grande maioria por voluntários, conta com cerca de 150 integrantes. Nas próximas semanas, o grupo cantará em asilos, creches, casas de assistência e hospitais. A música, no entanto, não é o único presente que os coralistas querem oferecer nesta época do ano. “Também levamos alimentos, roupas, agasalhos, brinquedos, artigos de higiene e limpeza. Esta é a real mensagem que o Natal carrega: a solidariedade. Quando nos doamos para cuidar do outro, a felicidade é indescritível”, destaca Natalia.

Natalia Carvalho:


Transformação


Daqui até o fim do ano, o Serenata de Natal terá pelo menos 14 compromissos em diferentes cidades do Distrito Federal. Dessa forma, sob a regência de Natalia, cada um dos participantes ajusta os mínimos detalhes para entregar ao público canções carregadas de compaixão e ternura. “Fico arrepiada e os olhos se enchem de lágrimas só de pensar nas apresentações. Saber que as pessoas respondem às suas expressões e movimentos é algo mágico”, aponta a estudante Paula Almeida, 22.
 
 

Quando a jovem trocou Goiânia por Brasília, em 2014, para cursar química tecnológica, nunca havia se imaginado cantando em um coral. Hoje, participa de cada ensaio com muita dedicação: fecha os olhos para entoar os versos, balança o corpo para acompanhar o ritmo da música e abre um largo sorriso ao fim de cada canção. “Encontrei dentro do coral uma família. Eu me apaixonei desde o primeiro momento. Além de fazer algo de que gosto, estou ajudando alguém que precisa de apoio e daquela dose de solidariedade. Saio de cada apresentação renovada”, destaca.

Nesses cinco anos como coralista, Paula aprendeu a cultivar o espírito de Natal não apenas durante a época do feriado. “Gostaria que mais pessoas pensassem dessa maneira e passassem a ajudar os outros espontaneamente, sem pedir nada em troca. Acredito que precisamos de mais empatia. É como diz uma das músicas que apresentamos, do Roupa Nova: ‘Se a gente é capaz de espalhar alegria / Se a gente é capaz de toda essa magia / Eu tenho certeza que a gente podia / Fazer com que fosse Natal todo dia’”, lembra.

Paula Almeida:


Autoestima


Fazer a alegria dos outros é o principal objetivo de um coral, entretanto, as canções também contagiam quem está se apresentando. A aposentada Maria Cecília Pereira, 68, sempre gostou de cantar, mas, durante a adolescência e a vida adulta, nunca teve a oportunidade de participar de um grupo. Quando soube de uma iniciativa da Associação Renascer dos Pioneiros da Vila Planalto de criar um coral, há dois anos, não hesitou. “Agora, ensaio toda semana. É um momento único para mim. Eu me sinto a pessoa mais feliz do mundo. Aqui, posso cantar e dançar, como sempre quis. Além de ser uma forma de entretenimento, é uma maneira de deixar a alma mais leve”, afirma.

Ela e os outros 20 participantes do grupo já se preparam para a reta final do ano. No roteiro, estão apresentações em igrejas e escolas. “Cantar durante o Natal é maravilhoso. Eu vivi o bastante para saber que nesta época existem pessoas que só querem um pouco de atenção. Portanto, temos que dar essa alegria a elas, mesmo que de maneira momentânea. Esse é o maior bem que podemos fazer. Com o mínimo de gratidão, conseguimos atingir grandes coisas”, ressalta.

O coral espera que as músicas natalinas sirvam para acalentar a vida de todos que as escutarão. Terapeuta e musicista, Jaira Leite, 59, não esconde a ansiedade desste momento. “A música engrandece e amadurece. Faz com que todos se sintam mais vivos. Particularmente, ela significa muito para mim. Durante toda a minha vida pude usá-la para este objetivo: fortalecer o amor-próprio de cada um”, diz.


Refúgio


É em um coral formado por pessoas de mais de 60 anos que o aposentado Eloy Barbosa, 72, encontra a dose de paz suficiente para alegrar os seus dias. Antes de ingressar, em 2012, ele convivia com pressão e colesterol altos, gastrite e problemas na musculatura. Ao conhecer o Grupo Mais Vivido, tudo mudou. “Eu estava pronto para morrer. Não queria fazer mais nada. Mas em apenas seis meses de coral, eu era outra pessoa. A música me sarou, me empoderou de certa maneira que nunca imaginei que pudesse acontecer. Caminho no sentido contrário: ao invés de envelhecer, estou rejuvenescendo”, comemora.

Transformado pela melodia natalina, Eloy quer retribuir a dádiva levando mais harmonia aos locais em que se apresenta com o coral. “Seja em um hospital ou em um shopping, em uma escola ou no meio da rua, é hora de plantar alegria. Se a música me fez vencer uma batalha difícil, ela pode ajudar mais pessoas. Enquanto eu tiver voz, quero ser um dos responsáveis por isso”, conclui.
 
 
 
Programação
Confira a agenda de alguns dos corais que se apresentarão até o fim do ano em Brasília

JK Shopping
1/12 – Coral Canto Vivo (16h)
8/12 – Coral Escola Classe 42 de Taguatinga (16h) e Coral In'Canto (17h30)
15/12 – Coral Progressus Kids (16h) e Coral Manancial de Louvor (17h30)
22/12 – Coro Vozes Ebenézer (16h) e Coral Melodias do Reino (17h30)

Brasília Shopping
4/12 – Coral da ONG Casa Azul Felipe Augusto (19h)

Serenata de Natal
25/11 – Hospital Sarah Centro
1/12 – Hemocentro, na Asa Norte, e Lar dos Velhinhos Bezerra de Menezes, em Sobradinho
2/12 – Hospital de Base
9/12 – Café-da-manhã para moradores de rua, Guará
7/12 e 13/12 – Apresentações abertas ao público no Shopping Pier 21 (19h30)
14 a 20/12 – Apresentações noturnas nas quadras do Plano Piloto

Coral do Grupo Mais Vivido
25/11 – Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (10h)
1/12 – JK Shopping (17h30)
6/12 – Sesc Guará (13h30)

Coral da Associação Renascer dos Pioneiros da Vila Planalto
8/12 – Espaço Paroquial da Vila Planalto (12h)
18/12 – Teatro da Unip (18h) 
24/12 – Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Pompéia (20h) 

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