Cidades

Sem iluminação, pista do Noroeste causa medo e sequela em moradores

Em três meses, dois acidentes graves foram causados à noite no mesmo local, onde a via tem desnível, está coberta por areia e não é iluminada

Cézar Feitoza - Especial para o Correio
postado em 06/12/2018 22:15
Gustavo Barbosa aponta onde o carro parou após o acidente. Destroços permanecem no localFoco de batalhas judiciais e imbróglios entre o Governo do Distrito Federal (GDF) e povos indígenas, a via W9, que dá acesso ao Noroeste, não tem iluminação adequada e faltam reparos na pista. De setembro a dezembro, dois acidentes graves ocorridos à noite deixaram duas pessoas feridas e com sequelas.

A pista tem 1,5 km de extensão e três faixas para cada sentido. Próxima as quadras 300, ela vai da altura da quadra 303 e acaba na sete. A via não chega até o final do Noroeste porque é barrada por uma área demarcada para os povos indígenas, chamada Santuário dos Pajés.

Por toda a sua dimensão, a via conta com um ponto de iluminação, entre as quadras 309 e 311. Por causa do breu que toma a via à noite, parte dos moradores do Noroeste prefere transitar por outras pistas para não ter de passar pela W9. "Tem muitos relatos de assaltos e de acidentes. Por isso, a gente prefere ir por outros lugares, mesmo que tenha de dar voltas maiores, e instrui os amigos e os motoristas de aplicativo que pegamos para não passarem por aqui", conta o analista de sistemas Armindo Riedel, 36 anos.

Acidentes

No dia primeiro de setembro deste ano, o servidor público Gustavo Barbosa, 42 anos, voltava da casa de uma amiga, trafegando pela via, quando perdeu o controle sobre o carro em uma parte da pista desnivelada e coberta com areia, por volta das 19h. "Eu lembro que não conseguia mais controlar o carro e ele invadiu o meio fio rumo a umas pedras que ficam aqui perto. Depois do acidente, só fui acordar no hospital, no dia seguinte", relata.

Em documento do Corpo de Bombeiros que se detalha a ocorrência, a avaliação inicial indicava que Gustavo sofreu escoriações na face, contusão na pelve, no dorso e no tórax e fraturou a perna direita. Ele teve de ser submetido a duas cirurgias: uma para colocar uma placa sobre o fêmur quebrado; e outra, para tirar a placa e colocar uma alça no local contundido.

Até esta quinta-feira (6/12), Gustavo fez 30 sessões de fisioterapia e usa muletas para conseguir andar. "Tive de recorre ao INSS, vou ficar seis meses parado e tive um redução de 60% do meu salário. Esses são os problemas imediatos, além das sequelas que vão ficar no corpo", relata.
Morador do Noroeste, Gustavo Barbosa evita trafegar pela via em que se acidentou
Em 17 de novembro, outro acidente deixou uma vítima ferida. Jheef Afonso Delfim, 21, perdeu o controle no mesmo local que Gustavo, mas, ao invés de ir à direita, onde as pedras pararam o carro do servidor público, o veículo foi à esquerda e bateu em um poste.

Afonso ficou preso nas ferragens e foi atendido pelos bombeiros no local até ser encaminhado para o Hospital de Base para avaliação médica.

A via

Neste ano, após mais de nove anos em batalha judicial, os nativos conseguiram um acordo que estabelecia a área do Santuário dos Pajés como sendo de, no mínimo, 32 hectares, dos quais dois hectares ocupariam parte do Setor Noroeste. Dessa forma, não será possível estender a via W9 até o final do Noroeste. Assinaram o termo a Fundação Nacional do Índio (Funai), o Ministério Público Federal (MPF), a Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (Terracap) e o Instituto Brasília Ambiental (Ibram).

Para melhorar as condições da via, a Terracap, em nota, anunciou o resultado da licitação para a implantação de um novo ponto de iluminação, entre as quadras 302 e 307. O edital se encerrou nesta quarta-feira (5/12). "A data prevista para o início dessas obras é de janeiro de 2019", anuncia a agência.

Os motoristas também reclamam da manutenção da pista. Pouco mais de três meses após o acidente de Gustavo Barbosa, pedaços do carro estão espalhados pela via próximo ao local do acidente. Além disso, não há placas que anunciam os quatro cruzamentos ao longo da W9.

A responsável pela manutenção da via é a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap). Até a última atualização desta reportagem, a empresa não respondeu aos questionamentos do Correio.

A Administração Regional do Plano Piloto informou que acionará o corpo técnico da unidade para avaliar o que precisa ser feito na via e deve encaminhar no início de 2019 o relatório para a Novacap.

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