Camila de Magalhães
postado em 09/12/2018 16:00
Morador de Samambaia, Nicolas Pessoa dos Santos, 14 anos, era um garoto tímido, que não conversava muito com as pessoas, ficava em casa no contraturno escolar e não curtia esse tédio. Estuda em uma escola e mora numa região em que o consumo de drogas é comum a muitos jovens. Com o apoio da família, Nicolas encontrou no esporte uma oportunidade de interagir com mais pessoas, desenvolver novas habilidades e se sentir mais à vontade para se expressar. Além das atividades de atletismo, tênis e jiu-jitsu que pratica regulamente no Centro Olímpico e Paralímpico, ele foi um dos 500 jovens participantes do Vamos Nessa em Brasília no ano de 2018. Desde o ano passado, o projeto vem sendo desenvolvido na capital federal pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC), com apoio da Secretaria de Esporte, Turismo e Lazer do Distrito Federal e Fundação Assis Chateaubriand.
Neste semestre, 25 professores de educação física foram treinados para disseminar a metodologia nos Centros Olímpicos e Paralímpicos de Ceilândia (Parque da Vaquejada e Setor O), Estrutural, São Sebastião, Planaltina, Recanto das Emas, Sobradinho e Samambaia. A iniciativa, que chegou ao DF como piloto no mundo, hoje ganha espaço em países como Palestina, Quiguistão, África do Sul, Colômbia e República Dominicana.
Na tarde de ontem, a equipe de Nicolas levou para casa medalhas de ouro pela participação na gincana do Festival Vamos Nessa. Houve ainda competições de futebol, futsal, e polo aquático. O evento celebrou o encerramento de mais um ciclo de atividades que usam o esporte para prevenir e afastar jovens das drogas, violência e crime no Distrito Federal, estimulando de forma lúdica habilidades para a vida, como resistir às pressões sociais para enfrentar a delinquência, lidar com a ansiedade e se comunicar efetivamente com colegas. Além das medalhas, foram entregues certificados aos professores e participantes.
Segundo Rafael Franzini, representante do UNODC no Brasil, o impacto social do projeto será medido em breve com pesquisas aprofundadas, mas já é possível observar resultados positivos. ;Temos que investir nos jovens se nós procuramos sociedades resilientes, com menos violência e mais produtivas. Esses meninos e meninas merecem um futuro melhor. E essas atividades de prevenção procuram criar condições para que isso seja uma realidade;, destacou. Para Ken Araújo, da Fundação Assis Chateaubriand, o trabalho fez a diferença na vida dos alunos e profissionais envolvidos: ;O esporte transforma e traz uma possibilidade de resgate de valores. Outro fator que me chamou a atenção foi que os familiares entenderam a importância desse projeto, apoiaram e prestigiaram os filhos.;
Primeira multiplicadora do DF no Vamos Nessa, a professora Juliana Lucena, do Centro Olímpico e Paralímpico do Setor O, contou que a troca de experiências foi valiosa. ;Mais do que atletas, formamos cidadãos. Nesses dois anos, me deparei com várias situações de alunos em momentos de crise e em zonas de risco. Se não fosse esse trabalho, poderíamos não ter identificado esses alunos;, observou.