Otávio Augusto - Enviado especial
postado em 16/12/2018 08:00
Abadiânia (GO) ; Diante do escândalo envolvendo João de Deus, uma pergunta começa a ganhar fôlego: quem substituirá o médium? Em mais de quatro décadas de atendimento, em raros momentos ele não esteve conduzindo os rituais espíritas. Um das ocasiões foi quando tratou de problemas no sistema digestivo e ficou internado duas semanas no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, há dois anos. A depender do desdobramento judicial, outro religioso deve assumir a liderança da Casa Dom Inácio de Loyola, mas ainda não existe um nome.
Médiuns e frequentadores relutam em admitir a possibilidade de substituição nos trabalhos. O administrador do local, Chico Lobo, alega que há outros religiosos capazes de prosseguirem com as curas e as cirurgias espirituais. ;Temos uma corrente mediúnica. O todo forma um só. É inegável a importância do João, mas os trabalhos continuarão. Não acredito que ele ficará impossibilitado de atender. Ele já esteve aqui até com acesso de soro e medicamento nas veias;, sustenta.
Apesar da segurança de Chico Lobo, integrantes da corrente mediúnica de João de Deus temem pela ;firmeza dos trabalhos;. ;Ele é nosso pilar máximo. Toda a nossa diretriz vem dele, por meio das entidades. Algumas só incorporam nele, por exemplo. Não acredito que ele seja substituível. Não nascem médiuns como ele a cada esquina. É tolice pensar que tudo continuará igual sem ele. Ninguém ocupa o espaço dele;, constata a massoterapeuta Elisangela Paranhos, 33 anos, médium da corrente espírita de João de Deus há 10. Na última quarta, quando a reportagem acompanhou o tratamento espiritual, a habitual cadeira do líder permaneceu vazia.
Riscos
A comerciante Andrea Lucia Dias Pennacchia, 52 anos, garante que sua fé não está abalada, mas acredita que ;algum efeito; terá uma possível ausência de João de Deus. ;Neste momento, tenho recebido a mesma vibração boa que sempre tive desde quando cheguei aqui pela primeira vez, há dois anos. Ele é muito importante, mas a nossa fé e o trabalho ininterrupto das entidades também são;, rechaça.
Mesmo que o funcionamento da Casa Dom Inácio de Loyola continue com a ausência de João de Deus, o local perde o apelo e a credibilidade que ele tinha. ;A figura dele é muito forte e centraliza as atenções. Muita gente vem com o objetivo de ser recebida por ele, ouvir o que tem a dizer. O fechamento do espaço, ou o afastamento dele dos rituais, compromete isso;, aponta o prefeito de Abadiânia, José Aparecido Diniz.
"Ele é nosso pilar máximo. Toda a nossa diretriz vem dele, por meio das entidades. Algumas só incorporam nele, por exemplo. Não acredito que seja substituível;
Elisangela Paranhos, médium da corrente espírita de João de Deus