Ana Maria Campos
postado em 01/01/2019 06:00
Acabou a fase de planos e de promessas. Agora é a hora de governar. Aos 47 anos, Ibaneis Rocha Barros Júnior assume hoje o poder com a legitimidade de quem conquistou, no segundo turno, o apoio de 1.042.574 eleitores, o correspondente a 69,79% dos votos válidos na capital do país. O advogado, ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Distrito Federal (OAB/DF) e ex-conselheiro federal da entidade, subiu na preferência popular como um foguete, numa campanha de apenas 45 dias.
Na primeira pesquisa, encomendada pelo Correio e divulgada em 15 de agosto, Ibaneis aparecia ainda como um candidato bem distante da vitória, com 1,7% das intenções de votos. Muitos, acostumados a enxergar o cenário com os olhos da tradição política, não acreditaram que dali surgiria um governador. Mas Ibaneis saiu na frente na corrida do primeiro turno e derrotou o projeto de reeleição de Rodrigo Rollemberg (PSB), deixando para trás também adversários que chegaram a apostar na vitória, como Rogério Rosso (PSD), Eliana Pedrosa (Pros) e Alberto Fraga (DEM).
Primeiro governador eleito no DF nascido em Brasília, Ibaneis também ostenta a marca de recorde de votos. Nenhum outro candidato alcançou esse patamar, de quase 70%. O tamanho do mérito eleitoral se reflete na intensidade da expectativa dos moradores do Distrito Federal. A população espera melhorias na saúde, mais empregos, desenvolvimento, segurança pública, infraestrutura, transporte de qualidade, honestidade. Soluções criativas em meio a uma escassez de recursos. Gestão eficiente. Os servidores públicos aguardam os reajustes salariais prometidos na campanha. Ibaneis garantiu redução de impostos, mesmo com tantas entregas a fazer. São muitos os desafios e as incertezas em meio a mudanças imensas também no comando do país, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (PSL).
Embate
Para dar certo, Ibaneis espera governar sempre buscando o apoio popular para tomar medidas difíceis. É isso que ele deve dizer hoje aos 24 deputados distritais, sendo 16 novatos, na posse na Câmara Legislativa. O governador recebeu versões de discursos de quatro assessores. Mas, como sempre costuma fazer, vai escolher o tom e as próprias palavras para seu pronunciamento.
A mensagem é de mudanças. Ibaneis deve deixar claro que as urnas revelaram desejo de renovação, de uma interrupção da velha forma de fazer política. Não funciona mais a fórmula da troca de cargos por votos na Câmara, porque a ineficiência administrativa representa um abraço de afogados. Todos perdem. Por outro lado, o mérito de um governo pode ser compartilhado por todos os aliados.
Só o tempo dirá se Ibaneis vai seguir essa receita de uma gestão sem toma lá dá cá. Mas, na escolha do secretariado, em parte, até agora, funcionou assim. Com a vitória arrasadora nas eleições, Ibaneis não precisou fazer muitas concessões a aliados de campanha.
Além disso, o governador montou uma equipe de expressão nacional. Trouxe políticos como Gustavo Rocha, o advogado conselheiro do até então presidente da República Michel Temer, para o contato com os tribunais e com o Ministério Público. E Sarney Filho, experiente nas articulações para o meio ambiente. Do governo Temer, arrebatou vários representantes.
Na construção da equipe, Ibaneis também contemplou políticos do DF. Especialmente os que lhe foram leais na campanha, como os agora ex-deputados Wellington Luiz, Raimundo Ribeiro e Bispo Renato, que terão cargos no governo. Passou por cima da promessa de que não nomearia políticos que respondem a ações, mas, no primeiro embate com o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), não quis abrir uma guerra. Acatou recomendação de não nomear Wellington para a Presidência do Metrô por descumprir regra legal de quarentena para dirigentes partidários. Transferiu o aliado para o principal cargo da Companhia de Desenvolvimento Habitacional (Codhab).
Mas, até o momento, Ibaneis montou o governo como quis. Muitos acreditaram que, ao concorrer pelo MDB, Ibaneis ficaria devedor do líder do partido no DF, Tadeu Filippelli. Não foi o que aconteceu. O homem das obras dos governos de Joaquim Roriz e do petista Agnelo Queiroz, que também teve seu quinhão na administração de José Roberto Arruda, não indicou o secretário da área. O escolhido, o engenheiro Izidio Santos, tem uma relação direta com o próprio governador. Filippelli foi contemplado com uma subsecretaria para a nora, Ericka Filippelli (MDB), voltada a políticas para a mulher.
Perfil
Quem conhece bem Ibaneis conta que o novo governador tem personalidade e é determinado. Acorda cedo e tem muita disposição para resolver problemas. Delega muito e cobra mais ainda. É indisciplinado nas orientações dos assessores. Ouve muito, mas sempre toma as decisões baseadas em sua própria intuição. Foi assim que ele se projetou e se tornou um advogado de sucesso, um homem milionário que cresceu na carreira com o próprio esforço.
Filho de uma família de classe média, estudou e se firmou na profissão, em parte pelo sucesso de ações em benefício de servidores públicos, advogando para sindicatos. É sobre isso que Ibaneis deve tratar no segundo discurso de hoje, na transmissão de cargos no Palácio do Buriti. Depois de receber a faixa de governador de Rodrigo Rollemberg (PSB), o novo chefe do Executivo fará um pronunciamento em tom mais emocional.
Desde a vitória em outubro, Ibaneis chorou algumas vezes relembrando a trajetória. Não será surpresa se ele tiver de conter as lágrimas nesta manhã. Há um ano, Ibaneis perdeu o pai, Ibaneis Rocha, de quem herdou o nome. A mãe também tem saúde frágil. Ibaneis tem demonstrado um grande apego à família. Em vários eventos institucionais, carrega João Pedro, 13 anos, que há 15 dias deixou de ser o caçula, com o nascimento de Mateus Rocha, filho da nova primeira-dama, a advogada Mayara Noronha. O primogênito é Caio Rocha, 20 anos.
Recursos e boa vontade
Depois da solenidade no Palácio do Buriti, Ibaneis vai cruzar a avenida para dar posse ao secretariado na Praça do Buriti, ao lado do novo vice-governador, Paco Britto (Avante). À tarde, participa das solenidades presidenciais, na festa de Jair Bolsonaro.
Com o presidente, espera construir uma boa relação. Sabe que qualquer governador do Distrito Federal precisa da boa vontade do Palácio do Planalto para obter recursos públicos federais. Na transição, os dois se encontraram duas vezes e, na escolha do delegado da Polícia Federal Anderson Torres para a Secretaria de Segurança Pública, pesou o contato, pelo Congresso, que ele manteve com Bolsonaro, na condição de chefe de gabinete do deputado Fernando Francischini (PSL/PR), aliado do comandante do Palácio do Planalto.
Desde que se elegeu, Ibaneis também construiu pontes. Buscou recursos no governo Temer, articulou-se com governadores eleitos e se aproximou de João Doria (PSDB), de São Paulo, e Wilson Witzel (PSC), do Rio de Janeiro, em busca de alianças para pleitos comuns. Quer se tornar uma expressão nacional do MDB.
SOS
Depois das festas de hoje, Ibaneis começa a trabalhar ainda mais. Muitos políticos dizem que ele tem algumas características de Joaquim Roriz e de José Roberto Arruda. Gosta de andar entre o povo, tem pressa para resolver os problemas e é impaciente com quem traz problemas sem propostas de soluções.
Assim, Ibaneis estreia o governo amanhã com um programa que vai chamar de SOS DF. A ideia é resolver questões nas cidades, com pinturas de meio-fio, limpeza de ruas, corte de gramas e pequenas obras que trazem grande visibilidade. Pretende adotar medidas emergenciais na saúde e avaliar a real situação do caixa que herdou de Rollemberg. Terá muito trabalho pela frente.