Renata Nagashima*
postado em 11/01/2019 06:00
Motivados pela vontade de oferecer melhores condições para jovens e crianças da QNP 14, no Setor P Sul, em Ceilândia, a comunidade local se uniu para revitalizar e transformar a praça da quadra. Aos poucos, reverteram um ponto de usuários de drogas em um ambiente familiar com uma estrutura que conta com parquinho, Ponto de Encontro Comunitário (PEC), barras para exercícios, jardins e palco para apresentações culturais.
A transformação, além de valorizar a quadra residencial, também melhorou a harmonia entre os moradores, a qualidade de vida das pessoas que moram próximo do local. Quem vê a Praça das Marias hoje, que recebeu esse nome em homenagem às mulheres e mães que moram na comunidade, não imagina que o espaço era um campo de terra abandonado.
;Era campo de futebol cheio de lixo, que incomodava os vizinhos, porque muita terra voava para dentro das casas. E com o tempo o pessoal começou a jogar entulho aqui;, conta Francisco Carlos da Silva, 54 anos, que mora na quadra desde 1979 e deu início no projeto comunitário para mudar a situação do espaço. Ele recorda que, com outros moradores, pediu às autoridades para resolver os problemas e, há 8 anos, por meio de uma emenda parlamentar, foi transformada em praça.
Cuidados
Imediatamente, o grupo adotou e passou a cuidar do local. ;Aos poucos, fomos mobilizando mais moradores da comunidade e, além de transformar a praça, transformamos as pessoas também. Elas foram conscientizadas da importância de valorizar, cuidar, manter e preservar;, conta, com orgulho.
O servidor público afirma que todo o investimento foi feito com dinheiro da própria comunidade e todo reforma é bancada por eles e quando não há recursos, eles improvisam. Como foi no caso das lixeiras da praça, que foram feitas com caixotes de plásticos doados por um supermercado. ;Nós aprendemos a fazer de tudo. O PEC, por exemplo, não tinha manutenção, acabou quebrando. Aí, nós fomos consertando. Quando precisamos podar árvores, passamos de casa em casa até arrecadar a quantia, e as pessoas ajudam como podem.;
Carlão, como é conhecido pela comunidade, ressalta que o principal fator da mudança foi a mobilização, a conscientização e a revolução cultural, já que cada morador passou a valorizar as atividades locais e começou a exercer cidadania preservando a praça. ;Eu amo isso aqui e todos têm um carinho muito grande. Nos sacrificamos, às vezes, mas fico satisfeito e gratificado em ver um parquinho assim, cheio de crianças se divertindo, a comunidade unida Idosos sentados ou fazendo exercicios;, ressalta.
Arte
O músico Rondinelli Gonçalves Venâncio, 42, mora em frente à praça há 21 anos e é responsável pelos movimentos culturais que ocorrem no local. Criador do Som na Praça, ele conta que se sente satisfeito ao ver o impacto positivo que o projeto causa na comunidade. ;Fazemos várias festas em datas comemorativas, como Dia das Crianças, dos Pais, festa junina e eu vejo a alegria das pessoas. Elas param a gente na rua e perguntam quando é a próxima. Esse é um diferencial, porque eles sentem falta dessas coisas e nosso objetivo não é só fazer uma festa, mas algo cultural também, trazer apresentações de diversos estilos.;
Com zelo, dedicação e amor, Arioswaldo Gomes da Silva, 69, é responsável por dar vida à praça. Ele não esquece da praça nem quando viaja e sempre busca mudas em outros estados para enriquecer a vegetação do espaço. Além disso, todos os dias ele coloca galões de água dentro do carro e vai regar planta por planta, para garantir que cresçam bonitas e saudáveis.
;Eu sempre gostei de mexer com essas coisas, deve estar no meu sangue. E vendo a praça abandonada, eu vi a oportunidade de transformar com a arborização. No começo algumas pessoas estragavam, mas eu insisti e todos os dias voltava, aí acho que cansaram e hoje está assim: lindo e cheio de verde;, conta Ari, como gosta de ser chamado.
O aposentado diz que se sente realizado ao ver o resultado do trabalho desenvolvido com a ajuda da comunidade, que faz mutirão de limpeza de tempos em tempos. ;Começamos do nada e não imaginávamos que ficaria assim, bonito. Quando os vândalos sujam e quebram, no dia seguinte, a gente está aqui limpando e arrumando de novo. Não desistimos e queremos melhorar ainda mais.;
Celeste Sérgio, 62 anos, costuma levar a netinha Heloísa Santos, 10 anos, para brincar no parquinho. Para ela, ter um espaço com condições adequadas para a criança se divertir é fundamental. ;Nós, que somos mais humildes, não temos condições de sair sempre e aqui é de graça, as condições são ótimas. É muito gratificante ver isso aqui. Eu sou muito grata pela iniciativa do Carlão, que está sempre aqui zelando e vigiando nossa praça;, diz.
* Estagiária sob supervisão de Igor Silveira