Augusto Fernandes
postado em 11/01/2019 06:00
Em muitas localidades de Taguatinga, caminhar não é uma tarefa fácil. Quem sai de casa a pé precisa estar atento em onde pisa, pois qualquer distração pode resultar em acidente. Os espaços para o trânsito de pedestres, principalmente as calçadas, acumulam uma série de falhas, como buracos, desníveis no piso, rachaduras e sujeira. Alguns problemas são antigos na terceira mais populosa cidade do Distrito Federal, com mais de 220 mil moradores ; fica atrás de Ceilândia e Samambaia.
Ruas vizinhas ao Hospital Regional de Taguatinga (HRT), por exemplo, estão com calçadas bastante depredadas. Em alguns pontos, os pedestres têm de pisar sobre pedras, terra ou raízes de árvores. ;Dificulta demais. Quando ando pela rua, tenho que ficar escolhendo o melhor lugar para passar. Além disso, caminho olhando para o chão. Isso não deveria ser assim. A qualquer momento, estamos sujeitos a tropeçar e a cair;, reclamou a professora Camila Cunha, 36 anos, moradora da cidade.
Camila procura ser ainda mais cautelosa quando está com os filhos Lucas, 5, e Júlia, de 7 meses. ;Empurrar o carrinho da Júlia é quase impossível. Preciso desviar dos buracos e de caixas de telefonia ou tampas de esgoto. Nos lugares onde não existem rampas, o Lucas me ajuda a levantar o carrinho. É difícil encontrar uma calçada que não tenha problemas;, comentou a professora.
Além das más condições das calçadas, é comum encontrar locais onde carros invadem o espaço destinado para pedestres. A presença de vendedores ambulantes também dificulta a locomoção. Dessa forma, não há escolha a não ser caminhar nas pistas. ;É uma situação incômoda. Muito motorista não respeita o pedestre;, reclamou o autônomo Raimundo Pereira, 60, também morador de Taguatinga. ;O problema é que eu não percebo nenhuma ação das autoridades no sentido de reparar esses locais. Cuidar de todas as cidades deve ser difícil, mas o que a gente espera é o mínimo de atenção. Todos os dias vejo alguém tropeçando, principalmente idosos;, acrescentou Raimundo.
Ações
Administradora regional de Taguatinga recém-empossada, Karolyne Guimarães disse que o órgão atende demandas pontuais na cidade. ;Com os recursos que temos, fazemos algumas obras nos pontos mais críticos de Taguatinga, como nos arredores de escolas e hospitais e em espaços onde circulam muitos idosos e cadeirantes;, comentou.
De acordo com Guimarães, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) está responsável por um projeto maior de reconstrução de calçadas, que abrigará todo o DF. ;Nos próximos dias, vou buscar saber do órgão se já há um cronograma para Taguatinga. Precisamos intensificar as ações de manutenção;, afirmou.
De acordo com a Novacap, o projeto de execução e reforma de calçadas com acessibilidade está em execução em todo o DF. O serviço vai custar R$ 33,1 milhões. A Secretaria de Obras e Infraestrutura diz terem sido destinados R$ 45,3 milhões desde o ano passado para a construção de mais de 1,1 mil quilômetros de calçadas. De acordo com a pasta, a verba será dividida para obras em Vicente Pires, Sol Nascente e Bernardo Sayão.
Sofrimento maior para os cadeirantes
Quem tem limitações físicas encontra mais percalços para se locomover. O jardineiro Valdenor Soares, 43 anos, por exemplo, sofre todos os dias ao passar pela Rodoviária do Plano Piloto. Cadeirante, ele constantemente precisa de ajuda de outros pedestres. ;Já perdi as contas de quantas vezes a minha cadeira ficou travada no meio das pedras. Em algumas situações, aconteceu de ela virar quando eu subia o meio-fio, e caí de costas. Acho um desrespeito;, reclamou.
Para Valdenor, toda a sociedade precisa cobrar soluções. ;Além de calçadas, rampas são essenciais para um cadeirante. A cidade está péssima. Mesmo quem não está na mesma situação que eu, tem de se solidarizar com a causa;, pediu.
Integrante da Associação Andar a Pé, movimento em defesa da humanização das ruas do Distrito Federal, Wilde Cardoso concorda com o apelo. ;A sociedade tem de pressionar o governo para transformar a cidade mais acessível para as pessoas. Brasília é uma cidade moderna para a década de 1960, quando o automóvel era o modo de transporte preferencial. Temos de quebrar esse paradigma. As pessoas não têm incentivo para caminhar e se submetem a condições horrorosas, como falta de sinalização e acessibilidade para idosos ou pessoas de menor capacidade física;, destacou.
Professor do Centro de Formação em Transportes e Recursos Humanos da Universidade de Brasília (UnB), Flávio Augusto de Oliveira concorda com Wilde. ;A falta de prioridade ao pedestre é um descaso. Todos nós somos pedestres em algum momento, isso precisa ser enfatizado. O que vemos em Brasília, no entanto, é o contrário. Não temos as condições ideais para o deslocamento a pé. Isso precisa mudar;, frisou.