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Mesmo com o fim da crise hídrica, hábitos sustentáveis devem ser mantidos

Seis meses após o fim do racionamento, reservatórios estão com bons índices. Apesar da abundância, é importante a manutenção de hábitos sustentáveis

Danilo Queiroz - Especial para o Correio, Augusto Fernandes
postado em 11/01/2019 06:00
Maria Lúcia criou uma rede de conscientização e manteve as práticas
Em junho, os brasilienses comemoraram o fim do racionamento de água implementado no Distrito Federal. Em dezembro, o reservatório do Descoberto atingiu 100% da capacidade e transbordou. Também apresentando alta constante, a barragem de Santa Maria terminou 2018 com 65,7% de ocupação. Mas a abundância de água não representa o fim da necessidade da adoção de práticas de consumo consciente.

Muitos brasilienses mantêm os hábitos adquiridos em tempos de escassez. Moradora de Samambaia, a dona de casa Elione da Silva, 53 anos, por exemplo, aprendeu a captar a chuva e reaproveitar a água da máquina de lavar roupas em práticas cotidianas, como a lavagem de áreas externas e internas da casa. ;A água da chuva é limpa e consigo usá-la para diversas atividades no dia a dia. São coisas simples que acabaram incorporadas na minha rotina;, comentou Elione.

As medidas adotadas por Elione também trouxeram um alívio financeiro. ;Sempre paguei por volta de R$ 80 nas minhas contas de água. Depois que comecei a ter mais consciência no uso, o valor caiu de forma considerável. Hoje, meu consumo não costuma passar de R$ 60. O custo-benefício vale muito a pena;, ressaltou.

A fotógrafa Maria Lúcia da Silva, 57, nunca havia controlado o uso de água, até o início do racionamento. ;Aqui em casa, faltou água duas vezes por semana. Foi um período difícil. Comecei, então, com pequenas atitudes. Quando tomava banho, usava um balde para recolher a o que sobrava. Também comprei uma caixa d;água de 500 litros para recolher a chuva e usar nas tarefas diárias;, contou.

Na rua onde mora, em Taguatinga, Maria Lúcia criou uma rede de conscientização com os vizinhos. ;Todo mundo fiscaliza todo mundo. Cada morador se engajou no objetivo de não desperdiçar água. O racionamento, apesar de ter sido um período delicado, nos mostrou a importância de cuidar de um recurso tão importante;, garantiu.
Flávio Santos ampliou o sistema de aproveitamento de água da chuva

Futuro

Nos 513 dias de racionamento, a Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb) estima que foram economizados quase 24,2 bilhões de litros de água no DF ; quantidade equivalente a cerca de 9,6 mil piscinas olímpicas cheias. O período também culminou na queda do consumo por habitante. Atualmente, segundo a companhia, cada morador de Brasília gasta, em média, 129 litros de água por dia.

Durante a crise hídrica, o advogado Flávio Santos, 39, desembolsou R$ 6 mil para desenvolver um projeto de aproveitamento de água da chuva em casa, no Lago Norte. Hoje, ele armazena 45 mil litros de água. As contas mensais baixaram de R$ 600 para R$ 80. Mesmo com o fim do racionamento, Flávio adicionou caixas d;água ao sistema: antes eram 10, agora são 18, com capacidade de armazenamento entre 1 mil, 2 mil, 3 mil e 5 mil litros. Na seca, a reserva pode durar até dois meses.

Flávio usa o recurso para lavar cômodos da casa, regar plantas e irrigar uma horta de frutas e legumes que construiu no seu quintal. Segundo ele, o sistema nunca será abandonado. ;Caso aconteça uma nova crise hídrica, quero estar bem preparado para não sofrer tanto. Cuidar da água virou uma responsabilidade para mim. Antes, ia tudo para os bueiros. Hoje, a regra é não desperdiçar nada;, frisou.
A engenheira civil responsável pela obra, Ellen Carvalho, trabalha em uma empresa de construção e saneamento ambiental que oferece soluções de eficiência hídrica. Segundo ela, mesmo com a situação do abastecimento no DF controlada, muitas pessoas ainda buscam adaptar as suas casas para não desperdiçar nada. ;Antes do racionamento tínhamos uma relação muito automática com o uso da água. Hoje, somos colaboradores do sistema hídrico, e não apenas usuários. O racionamento serviu para adequarmos o nosso comportamento;, definiu.

Chuvas acima da média enchem barragens

Além das novas obras de captação, o aumento na quantidade de chuvas no Distrito Federal foi um dos fatores que impulsionou o índice positivo nos reservatórios que abastecem a capital. O acumulado de chuvas registrado em 2018 foi o maior dos últimos 18 anos. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), choveu 1.712 milímetros ao longo do ano. Em 2017, o valor total foi de 1.305 milímetros.

Com o aumento das chuvas desde o ano passado, os reservatórios do DF apresentaram melhora nos índices. Ontem, a Bacia do Descoberto, responsável pelo abastecimento de mais de 70% das regiões administrativas, completou o 15; dia consecutivo com 100% da capacidade total. No mesmo período do ano passado, os medidores da barragem estavam abaixo dos 40%.

O Reservatório de Santa Maria, que atende cerca de 25% das cidades do DF, estava com 66,9% da capacidade total ontem. Em 10 de janeiro de 2018, a bacia estava com 32,3%, menos da metade da medição atual. O índice é menor do que a do Descoberto por conta do tamanho dos dois reservatórios, que impacta na hora da captação da água das chuvas.

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