Cidades

Dupla sertaneja apresenta shows ao lado de convidados em estações do metrô

Projeto Viola em Quatro Cantos leva oito apresentações da dupla Macedo e Mariano a estações do Distrito Federal. A cada espetáculo, um convidado diferente sobe ao palco

Cézar Feitoza - Especial para o Correio, Mariana Machado
postado em 12/01/2019 07:00
Macedo e Mariano (D) são amigos e parceiros na música há 14 anos, mas trazem o gosto pela viola e pelas canções tradicionais do berço

Em meio ao vaivém de passos apressados que caminham pelas estações de metrô espalhadas pelo Distrito Federal, um som diferente se sobressai às conversas e ao barulho do trem. É a viola caipira e as vozes da dupla Macedo e Mariano, ambos de 38 anos, atraindo olhares. Com o projeto Viola em Quatro Cantos, os músicos se apresentam durante o mês de janeiro nas estações Praça do Relógio, Ceilândia Centro, Samambaia e Central (que fecha o ciclo), com o objetivo de mostrar um pouco da música caipira aos moradores de diversas regiões da capital.

A apresentação ontem foi na Praça do Relógio. Em meio ao público rotativo de, em média, 15 pessoas, uma se destacava pelo visual. De chapéu e bota, o autônomo João José de Araújo, 63 anos, fazia o contracanto de Cuitelinho e outros sucessos sertanejos. ;É música boa, né? Me faz lembrar da infância, quando eu morava em Goianésia, no interior de Goiás. Meu pai tocava viola, fez com que todos nós gostássemos da música caipira;, rememora João.

A música também trouxe boas memórias ao morador de Taguatinga Rafael Batista, 40. Ele ouviu a viola caipira e a sanfona assim que saiu do trem e, quando chegou perto do palco, logo pegou o celular e começou a gravar a apresentação. ;Esse tipo de canção me lembra muito o meu falecido pai, que adorava música caipira. Ele era do interior de Minas Gerais. Escutar a música me trouxe alegria para o resto da noite;, conta.

Esta é a segunda vez que a dupla, nascida e criada no DF, faz um trabalho do tipo no metrô. Em setembro de 2018, eles trouxeram o Recorte Histórico da Música de Viola Caipira, em que tocavam canções que marcaram cada década desde os anos 1920, misturadas às produções autorais. Assim como no ano passado, a acessibilidade é parte fundamental: um intérprete traduz simultaneamente as letras cantadas para a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Parte do material de divulgação foi impresso em braille e as divulgações nas redes sociais contam com descrições ;para cego ver;.

João José de Araújo lembrou-se da infância, no interior de Goiás, com o repertório

Acessibilidade


Tanto o projeto de 2018 quanto o de 2019 foram patrocinados pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC), da Secretaria de Cultura, e as primeiras apresentações, na quinta e ontem, tiveram boas respostas do público. Eliseu José Dourado Filho, o Mariano da dupla, explica que o metrô é o local ideal, pela questão da acessibilidade e a grande quantidade de passantes. ;O público é rotativo. A pessoa passa, para um pouquinho para escutar e continua. Mesmo a gente sendo daqui, muita gente nunca ouviu falar e, assim, eles podem nos conhecer.;

Hernando Macedo alegra-se com a oportunidade de quebrar a rotina de um lugar por onde tantos circulam. ;É muito prazeroso cantar e tocar, mas, para mim, é melhor ainda ver que o que eu gosto de fazer agrada ao próximo. Levar alegria é gratificante e a gente ainda consegue divulgar o nosso trabalho;, ressalta.

Macedo e Mariano são amigos e parceiros há 14 anos, mas a viola ganhou espaço no coração deles muito antes. ;É de berço. Não venho de uma família de músicos, mas o gosto veio instigado pelos meus pais. Sempre passávamos férias na roça e isso foi formando raízes musicais;, relata Mariano.

Já no caso de Macedo, neto de violeiro, aprender a tocar viola veio de maneira autodidata. ;Não escolhemos a música; ela que nos escolhe. Com o passar do tempo, a gente vai desenvolvendo. Mas claro que cada pessoa que você vê tocando é uma aula;, explica o músico, que carrega como principais influências as duplas Tião Carreiro e Pardinho e Zé Mulato e Cassiano. ;Maiores ícones em vida;, resume.

Convidados


A cada show, um artista ou grupo local diferente é convidado. No primeiro dia de show, o produtor Volmi Batista animou o público. Já no dia 11, foi a vez de o violeiro Claudinho da Viola assumir o palco.

A ideia do projeto é que músicos de diferentes estilos tragam suas contribuições. Um deles é o violeiro Vitor Mesquita, 28, que tocará na estação Terminal Samambaia no dia 24. Entre os trabalhos já feitos por ele está a regravação de 10 canções dos Beatles. Para a performance no metrô, ele pretende levar o blues. ;A viola nos dá condição de tocar qualquer tipo de música, assim como o violão;, garante.

O interesse dele pelo instrumento veio cedo. Aos 14 anos, começou a tocar e, aos 16, fez um show de abertura de Almir Sater. Apesar de já ter tocado em áreas públicas, como o Parque da Cidade, é a primeira vez que se apresenta no metrô. ;A reação do público é sempre diferente. A viola caipira é um meio que eu uso para transmitir a música, e a cultura por trás dela é muito bonita e rica.;

Programação

As apresentações começam sempre às 18h e têm 1h30 de duração. Quarenta e cinco minutos são de Macedo e Mariano e o restante é do convidado

Estação Ceilândia Centro
; 17 de janeiro ; Convidado especial: Orquestra Roda de Viola
; 18 de janeiro ; Folia de Reis Irmãos Vieira

Estação Terminal Samambaia
; 24 de janeiro ; Vitor Mesquita
; 25 de janeiro ; Carol Carneiro

Estação Central
; 31 de janeiro ; Chico de Assis e João Santana
; 1; de fevereiro ; Karen Parreira

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