Marina Adorno - Especial para o Correio, Caroline Cintra - Especial para o Correio
postado em 20/01/2019 08:00
Depois das declarações sobre a convocação extraordinária da Câmara Legislativa que deixaram deputados distritais incomodados, Ibaneis Rocha (MDB) passou a manhã ontem em compromissos em hospitais públicos e pisou no freio no discurso. O governador disse que não pensa mais em processar parlamentares para responsabilizá-los por eventuais mortes provocadas pela demora no atendimento na rede pública. E garantiu acreditar que tanto os deputados da base quanto os da oposição querem o melhor para os brasilienses.
Ibaneis, no entanto, não vai recuar na disposição de ressaltar a necessidade de aprovação urgente de várias medidas, especialmente as relacionadas à saúde. Na pauta da convocação extraordinária, está a ampliação para outras unidades do modelo de gestão do Instituto Hospital de Base, tema que deve despertar muito debate entre os distritais. ;A Câmara é um ambiente para discussão. E eu não espero que o projeto saia da forma que entrou;, disse. ;Espero que eles, como deputados, façam o debate com a sociedade e indiquem as modificações que acharem necessárias. Em um ambiente democrático é isso que acontece;, acrescentou.
Sobre a relação com os sindicatos, que são críticos à ampliação do Instituto Hospital de Base, o governador deixou claro que não quer confronto. ;É uma proposta do governo, mas estou aberto a todo tipo de discussão. Conheço os dirigentes sindicais, conto com a confiança de todos. Que, em vez de vir para a greve, venham para a negociação. Tragam suas propostas;, sugeriu.
Ibaneis garantiu que vai acatar as sugestões que aperfeiçoem o projeto. Ressaltou ainda que as declarações da véspera não foram uma ameaça aos deputados, mas que diante da situação da saúde no DF, ;é uma irresponsabilidade não tratar o tema como urgência;.
Ibaneis havia dito que entraria com ações contra deputados e não faria mais nenhuma nomeação para cargos, enquanto a Câmara Legislativa não votasse as propostas do Executivo.
O tom do governador repercutiu bastante entre deputados distritais. Até então, havia uma negociação fechada para que a convocação ocorra na próxima quinta-feira, quando 17 dos 24 deputados estarão em Brasília, o que garantirá um quórum para votação das matérias.
Desabafo
A 11 dias para início oficial das atividades na Câmara, Ibaneis tenta convocar sessão extraordinária. Mas enfrenta resistência de deputados da oposição e agora terá de vencer animosidade que surgiu entre os integrantes da base, que se sentiram cobrados.
O presidente da Câmara, Rafael Prudente (MDB), ressalta que o embate entre os poderes não resolverá problemas. ;Se o ambiente não for para construção, vamos reavaliar se manteremos ou não a possibilidade da convocação;, destacou.
Sobre as alegações do colega de partido, Rafael disse que Ibaneis exagerou nas palavras em um momento de exaltação. ;Após os ânimos se arrefecerem, o governador vai voltar atrás e vai dialogar com os deputados;, acredita, como, de fato, ocorreu ontem.
O vice-presidente da Câmara, Rodrigo Delmasso (PRB), acredita que as manifestações do governador demonstram a urgência em aprovar projetos em benefício da sociedade. ;Defendo o modelo do Instituto Hospital de Base desde a última gestão. A única alteração que faria, seria manter a contratação de servidores por concurso público;, ressalta.
O distrital, que está em viagem aos Estados Unidos, diz que não poderá participar da sessão extraordinária, caso ocorra, mas que apoia a convocação.
Em nota, o líder do governo na Câmara, Cláudio Abrantes (PDT), frisou que a convocação dos parlamentares é necessária.;Há pontos importantes a serem discutidos, que afetam a vida da população;, disse. Para Abrantes, é necessário dar ;um choque na saúde, que está em colapso;.
Oposição
Integrante da oposição, o deputado Chico Vigilante (PT) considera a convocação desnecessária. ;O governador está atrapalhado. Falta uma semana para a Câmara voltar normalmente e não temos nada de urgente para ser votado. Ele (Ibaneis) quer acabar com uma estrutura que existe há anos e colocar algo novo que não deu certo em nenhum estado;, afirma se referindo ao Instituto Hospital de Base.
Para Arlete Sampaio (PT), os parlamentares têm dever de participar de emergências, porém, a intenção do governador é de que os deputados votem a toque de caixa. ;Ibaneis está criando um constrangimento com a Câmara para passar essa aprovação. Acho a convocação desnecessária, mas se houver convocação, estarei lá;, garante. A distrital também critica a expansão do Instituto Hospital de Base. Para ela, a medida desmontará o Sistema Único de Saúde (SUS).
O deputado Fábio Félix (Psol) considera as matérias encaminhadas por Ibaneis à Câmara complexas e, por isso, demandam um debate maior. ;A Câmara precisa ouvir ao menos a população e os servidores;, disse. Leandro Grass (Rede) garante que vai participar da sessão, caso seja convocado. Segundo Grass, é sua responsabilidade e tarefa do deputado comparecer às sessões, sejam elas ordinárias, sejam extraordinárias. Entretanto, acredita que uma sessão extraordinária é ;absolutamente insuficiente; para votar as propostas. ;São temas de alta complexidade ;, criticou.