Cidades

Pastor, candidata a distrital e traficantes lideravam invasões no DF

Após o Correio mostrar que área de preservação era alvo de grilagem, Polícia Civil investigou o caso e encontrou outro terreno ocupado. Um pastor e uma candidata a distrital são apontados como lideranças. Eles teriam apoio de traficantes

Alan Rios
postado em 26/01/2019 07:00
Área grilada em Planaltina: vendidos a R$ 7 mil, lotes estão ocupados por barracos erguidos na madrugada

Um pastor evangélico, uma candidata a deputada distrital e traficantes de drogas lideram duas invasões de área públicas, no Paranoá e em Planaltina. A quantidade de barracos nos terrenos chamou a atenção da Polícia Civil, que ontem prendeu 19 suspeitos, na Operação Terra Limpa. Eles serão indiciados por parcelamento de solo urbano, ocupação irregular do solo, crimes ambientais e associação e organização criminosa. Cada um pode pegar uma pena de um a cinco anos de prisão. Apontado como maior incentivador das ocupações, o líder religioso escapou da cadeia, mas segue investigado.

Os barracos eram erguidos de madrugada e placas com nomes de ruas estavam sendo instaladas para dar um ar de legalidade. Havia até o Residencial Ibaneis Rocha, homenageando o novo governador. A segurança era realizada por traficantes, colocavam fogo nos barracos de quem não pagava pela área invadida e não queria sair do lote, de acordo com os investigadores.

;São líderes comunitários que faziam parte de uma organização armada, que incentiva invasões diariamente no Distrito Federal. Uma dessas pessoas inclusive foi candidata a deputada distrital nas últimas eleições e quase gerou um motim na delegacia de Planaltina, de pessoas que estavam planejando fazer o seu resgate. Mas descobrimos isso antes e evitamos o pior;, contou o delegado Victor Dan, diretor do Departamento de Polícia Especializada (DPE). A candidata é Iara Fernandes de Oliveira (PSC), que teve 252 votos em outubro. Ela estava entre os 19 presos ontem.

Na operação, a polícia encontrou documentos que mostravam a organização dos líderes do movimento, como listas com nomes de moradores. ;Quem ocupava, geralmente, eram pessoas pobres, das regiões próximas, que sempre ouviam a promessa de que a área ia ser legalizada. Elas eram coagidas a invadir e aumentar cada vez mais a população, impedindo qualquer ação dos órgãos do DF;, disse Victor Dan. Cada lote era vendida por R$ 7 mil, dividido em até 10 vezes. Segundo o diretor da DPE, esses moradores também podem ser penalizados. Ontem foram derrubadas as primeiras casas, com apoio da Agência de Fiscalização (Agefis), que acompanhou a ação.

Denúncia

As investigações do caso começaram após reportagem do Correio, publicada há duas semanas, mostrar o surgimento de uma invasão em uma área pública no Núcleo Rural Córrego do Bálsamo, entre o Itapoã e o Paranoá. As pessoas começaram a se instalar no fim de 2018, aproveitando a transição de governo. Na estrada de terra que dá acesso à invasão, a reportagem encontrou homens que se revezavam como olheiros, armados de facões e foice. Eles repassavam informações de quem chegava aos lotes, por meio de um aplicativo de mensagens.

Em dezembro, eram cerca de 250 pessoas no local, mas o número cresceu para aproximadamente 1,2 mil, segundo integrantes do movimento. ;Então, percebemos que as invasões aumentaram de forma assustadora;, comentou o delegado Victor Dan. A maior parte dos ocupantes morava no Itapoã, no Paranoá e em chácaras próximas à região, e pagam de R$ 350 a R$ 700 pelo aluguel.

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